todos os dias, como mentiras e absurdos.
engulo grandes goles de apatia e resignação.
enfio dedos finos e cansados em bocas anestesiadas pelo frio.
cubro de tulipas meu leito silvestre e finjo funerais no zênite tardio.
todos os dias, escapo mais um pouco dos números rabiscados nos cérebros primais de gerações esfaimadas.
a fome fortalece.
vazia, vazia.
forte, brilhante, arisca. cadáver ambulante, ácido escapando por entre dedos perfumados.
vai ficar tudo bem.
as partes do corpo mutiladas. o espelho distorcido (certamente?). balões inflando e nunca nunca retornando ao formato harmonioso.
nojo. asco. caricaturas de performances mascaradas e cansativas. repetições incontáveis.
50.60.70… intolerável. irrevogável. o ponto sem retorno. o terror gelado no meio da refeição.
a forma se molda, se acomoda, no vazio. a dor é esperada, acolhida. o olhar retorce padrões não confiáveis. os dentes rangem uniformemente, mastigam o vazio.
eu vou ficar bem?
cuspo insetos nojentos, suprimo adjetivos trepidantes. enfio mentiras em cantos entupidos de ódio e rancor. olho para a juventude vibrante e sangro.
não acho que eu vá ficar bem.
mas tudo bem, talvez eu coma uma flor.