Firmemente seguia O Andarilho pelas planícies do deserto há várias horas seguidas. Ainda não havia parado para descansar. Nem ele nem o seu camelo. O camelo já é naturalmente resistente, podendo andar por muito tempo sem ter que descansar, e O Andarilho, ao longo dos anos que viveu no deserto foi desenvolvendo uma maior resistência ao ríspido clima.
Ele estava agora seguindo em direção as terras do sul. Onde ficava a capital do império do bioma desértico, um dos vários biomas que existiam nesse mundo. Era um lugar traiçoeiro, com muita criminalidade e outras dificuldades. O governo do bioma desértico - Jofériko - como era conhecido, era muito rígido: aplicava impostos altíssimos, e os cobrava todos os meses sem falta; contratava muitas pessoas para serem guardas nas cidades. Esses eram conhecidos como Guardas Desérticos, pois sofriam uma espécie de lavagem cerebral, assim ficando sem nada na cabeça alem da vontade de seguir ordens, por isso que eram "Desérticos", pois não tinham nada na cabeça, como um deserto que não tem "nada" ao longo de toda a sua área. E os guardas eram muito violentos. Matavam, torturavam e estupravam as pessoas por qualquer infração às regras. Não importava o quão mínimas fossem.
O Andarilho detestava as cidades. Todas elas, sem exceção. Esse foi dos motivos pelo qual ele se isolou no deserto. Contudo, eventualmente tinha que se aproximar das grandes povoações no Sul para poder fugir do frio. E era isso que fazia nesse exato momento. Deveria chegar em seu destino por volta do pôr do sol, o que seria muito conveniente, já que as noites no deserto eram muito frias.
O Andarilho nunca repetia as bases. Sempre que se mudava construía uma nova. Mesmo quando fugia do frio eminente, mesmo assim se dava ao trabalho de construir uma nova base. Nesse dia, estava seguindo para um local em que já havia estado anteriormente. Não exatamente o mesmo, mas um próximo. Era o único ponto no deserto do sul que o Jofériko ainda não controlava. Se eles decidissem expandir o território - o que podiam fazer a qualquer momento - O Andarilho teria que procurar um novo lugar para se refugiar dos invernos. Além de provavelmente ter as suas bases antigas destruídas pelos Guardas.
Mas ele não iria se preocupar com aquilo que poderia eventualmente acontecer. Iria se focar naquilo que está acontecendo no momento. O inverno. Com a determinação intacta, mesmo com todas suas inquietações, continuou seguindo o seu caminho.
Depois de mais algumas horas andando no dorso de seu camelo, avistou algo distante. A princípio não conseguiu identificar o que era, por isso resolver manter-se na rota que estava. Quando já tinha percorrido mais algumas centenas de metros, começou a ouvir gemidos de dor vindos da onde tinha avistado a figura misteriosa anteriormente. Se voltou na direção do ruído para tentar ver quem ou o que o emitiu. Ainda estava muito longe para saber o que era, então decidiu se aproximar.
A alguns metros da figura conseguiu ver o que era: uma pessoa. Uma pessoa muito ferida e ensanguentada. Tinha uma carroça de madeira quebrada ao lado da pessoa, e também a carcaça de um camelo, já muito deteriorado. Por mais incrível que pareça não havia nenhuma ave necrófaga sobrevoando os corpos. O camelo com certeza estava morto. Mas e a pessoa? Ela parecia morta. Mas se estava morta da onde veio aquele gemido? E que gemido foi aquele! Para poder ter sido ouvido a uma distância tão grande. Como alguém aparentemente tão fraco, quase morto poderia emitir um som de tamanha magnitude? Bom, só havia um jeito de descobrir: verificar o corpo. E foi isso que ele fez. O Andarilho aproximou-se lentamente do suposto cadáver e o cutucou com uma vara de madeira que trouxera de sua última base. Nada! O corpo permaneceu imóvel. Cutucou de novo. Mais uma vez nenhuma resposta. Já que aquela pessoa estava morta não se importaria em "ceder" alguns de seus bens. O Andarilho não era um ladrão. Muito menos um acumulador. Mas não iria deixar passar uma oportunidade como aquela! Talvez houvesse comida. Talvez tivesse alguma coisa útil que ele poderia precisar em algum momento.
Se agachou para vasculhar os bolsos do corpo. Assim que encostou na pessoa, foi atacado. Apenas deu tempo para ver o punho dela vindo em direção a sua barriga, o acertando diretamente no estômago. Ele ficou sem respirar por uns momentos. Quando caiu no chão incapaz de respirar, o seu camelo que estava preso a um cacto ficou preocupado e começou a entrar em pânico, pulando e tentando se desprender do mesmo.
Uma vez caído, O Andarilho entrou em desespero. Tentou fugir mas não conseguiu se levantar, então foi se arrastando pelo chão para longe de seu atacante. O agressor percebeu a tentativa de fuga e agarrou em uma tábua de madeira partida da carroça para o noucautear. Quando a pessoa se virou - já com a tábua na mão - foi derrubada pelo Camelo, que já havia se desprendido do cacto, assim ficando livre para poder desferir um forte coice na pessoa. Que por sua vez caiu para trás, batendo a cabeça com grande intensidade em uma das rodas da carroça, desmaiando imediatamente.
Depois de recuperar o fôlego e se acalmar, O Andarilho apressadamente voltou em direção ao Camelo, se preparando para fugir. Mas, por algum motivo, que não conseguiu identificar na hora, decidiu que não podia simplesmente abandonar aquela pessoa no meio do deserto. Ainda mais ela estando ferida - em parte por causa de seu animal.
Com uma corda que trouxera de sua última base, amarrou os braços e pernas da pessoa e jogou-a para cima do dorso do Camelo. Antes de seguir caminho, procurou no local alguma coisa que pudesse ajudar a tratar dos ferimentos do seu agressor, agora imobilizado, além de qualquer coisa que pudesse pertencer-lhe. Achou nos escombros um kit de primeiros socorros parcialmente usado; uma caixa de joias; uma foto amassada - tinha algumas pessoas na foto. Talvez a família dela?; e algumas outras coisas que recolheu.
Ele planejava levá-la para o local de sua nova base e tratá-la. Não pretendia correr riscos, então a deixaria sempre amarrada.
Ao fim do dia, chegou no local em que construiria a sua próxima base temporária. A pessoa misteriosa ainda estava incociente - o que começava a lhe preocupar. Será que ela teria morrido? Ainda era muito cedo para saber. - Ascendeu uma fogueira rápida
e comeu um pouco de carne de búfalo que havia caçado mais cedo nesse dia. Com o kit de primeiros socorros tratou superficialmente os feriemntos da pessoa, limpando-os e costurando cortes mais profundos - tudo isso e ela permaneceu inconciente - Depois de cuidar dela, amarrou-a a uma das patas do Camelo para que caso acordasse antes dele não pudesse fugir, e adormeceu.
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O Andarilho Solitário
General FictionHá muito tempo existiu um homem que cruzou o "Deserto Lamurioso". Enfrentou muitos perigos e ameaças, mas contra tudo e todos saiu triunfante e glorioso! Pouco é conhecido pelo leitor sobre o homem. Quem foi? O que fez na vida? Porque vivia perambul...