3_ Apagões.

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Derek

Cidade Humana Péres,
América do Sul.


Levei o último pedaço de carne a boca pegando o prato e estendendo a Alice que tinha acabado de aparecer na sala de jantar com a sobremesa. 

- Por favor, me sirva mais carne Alice. 

A mesa ficou silenciosa e Alice que tinha acabado de pousar as taças com mousse de limão me encarou surpresa. Eu abri um sorriso "educado" como mamãe costuma fazer esperando com paciência.

- Está dispensada Alice.- olhei para mamãe implorando com o olhar.- Negativo! Você anda exagerando demais nas refeições essas últimas semanas, só hoje repetiu três vezes no almoço. Pode acabar acima do peso se continuar assim.

- Mas mãe!

- Escute sua mãe Derek.- olhei para papai levando uma colher de mousse a boca.

Suspirei desapontado.

Essa é a primeira vez em duas semanas que ele almoça e janta em casa conosco. Era melhor manter a harmonia em família. Bocejei com o sono repentino.

Era difícil me acostumar com as luas cheias. Meu corpo parecia enfraquecer, e para voltar a recuperar as forças eu comia de forma exagerada e dormia profundamente por dez a quinze horas. 

- Filho!- encarei mamãe a minha frente, que se levantou dando a volta na mesa e pousando a mão na minha testa e verificando meu pulso.- Você parece um pouco abatido desde ontem, esta se sentindo bem? 

Estava péssimo! 

- Estou bem mãe, só estou com sono.

Ela olhou no relógio negando ao ouvi minha afirmação.

- Você está com febre alta. Eu vou buscar alguns remédios para você.

Na verdade não estava. Quando passava por transformações a temperatura do meu corpo subia e só abaixava depois de horas. Mas ela não estava ciente disso, então só fiquei quieto. 

Papai se levantou copiando os gestos de mamãe e arregalando os olhos ao tocar no meu pescoço. 

- Léia ele está pegando fogo!- ele olhou para ela.- Vamos levá-lo ao hospital.

- Não seja exagerado Lucas, ele deve ter pego um resfriado ao dormi no relento. 

Papai olhou pra mim negando.

Estava cada vez mais difícil de me manter acordado. Olhei para mamãe que saiu da sala, provavelmente a procura do remédio.

Me levantei quando fui puxado pelo braço por papai. Fui guiado para sala de estar e assim que me aproximei do sofá soltei a mão dele me deitando na superfície macia que parecia me chamar naquele momento. Assim que pousei a cabeça no travesseiro apaguei. 

...

Ouvi vozes conhecidas e desconhecidas, abri levemente os olhos constatando está na minha cama. Olhei para mamãe na janela aberta da varanda conversando no celular. Vozes mais distante foram capitadas por meus ouvidos. Papai conversava com alguém de algum lugar da casa. 

Me virei pegando um travesseiro e o abraçando pronto para voltar a dormi. Mas meus ouvidos capitaram as palavras da pessoa na linha que falava com mamãe mandando alertas para meu cérebro sonolento.

📞 Seu filho tem transtorno dissociativo de personalidade amiga!

- Ele só tem...- ele abaixou o tom de voz- Ele só tem dez anos Clara! Como você tem tanta certeza desse diagnóstico.

O Lobo SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora