Eu tenho mergulhado muito mais fundo do que eu queroEu tenho desejado poder respirar debaixo d'água
Prendo a respiração
Não consigo ver o que vem a seguir
Eu não sei quando vou ver terra firme novamente
♫ Swim – Alec Benjamin
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Matthew Ryan Porter... Ugh, que grande porcaria, você pode me chamar só de Matt.
Um cara que vive para a natação, é assim que a maioria das pessoas ao meu redor provavelmente me descreveria. Mas é difícil entender de onde vem toda essa minha dedicação ao esporte, ou mesmo quem sou sem conhecer a história do meu pai. Então vamos lá...
William Michael Porter. Ele era um nadador, um cara que tinha grandes sonhos de competir nas Olimpíadas, mas teve que desistir disso para se tornar um pescador e sustentar a família. A vida é engraçada assim, não é?
Eu tinha apenas 6 anos quando meu pai morreu em um acidente trágico no mar, a uns três quilômetros da costa. Foi tudo horrível. Demoraram vários dias pra achar o corpo dele, e quando isso aconteceu, já estava naquele estágio avançado e bizarro, que sinceramente eu não vou descrever aqui. Eu não lembro muito dele, na verdade. Atualmente acho que tudo do que eu sei são apenas coisas que minha mãe falou. Parece que até mesmo a minha irmã mais nova tem mais facilidade para se lembrar dele do que eu. Às vezes, eu me pego tentando lembrar do seu rosto, mas é difícil. Ele costumava desaparecer por dias quando estava pescando, e eu sempre esperava ansiosamente pelo momento em que ele voltaria para casa.
Não muito tempo depois da desgraça acontecer, eu resolvi seguir os passos do meu pai na natação... ou eu deveria dizer nadadeiras? Não, com certeza eu não deveria dizer isso, aliás que piada horrível.
Bom, eu acho que essa foi minha maneira de me sentir mais próximo dele, de honrar seus sonhos e quem ele era. Eu até coloco meus óculos de natação do jeito que ele costumava fazer: primeiro puxando a alça para trás e deixando-a bater na minha touca. Era uma mania dele, pelo que eu ouvi dizer, e eu a carrego como um tributo.
Na escola primária, eu formei uma equipe de natação com meus amigos Andy, Danny e Jimmy. Ganhamos um torneio ainda bem novos, e isso logo se tornou rotina, o que fez com que eu conseguisse ir para a Austrália quando eu tinha só 15 anos para melhorar minhas habilidades na natação. Lá, algo mudou em mim. Conforme o tempo foi passando, aquela emoção e euforia que sentia segundos antes de cair na água... foi como se tudo aquilo congelasse. Por causa disso, minha mãe e minha irmã dizem que a natação se tornou uma obsessão pra mim, jogando isso na minha cara e usando argumentos como o fato de eu já não me importar mais com os troféus e prêmios que ganhei quando era um moleque. Eu sempre evito discutir com elas, pois sinceramente isso é muito maior pra mim do que elas imaginam. Eu acredito que todos nós perdemos meu pai de maneiras diferentes, e todos nós lidamos de formas diferentes, também. E se essa é a minha forma de lidar, sinceramente, e daí? Eu também faço isso por mim, e até gostaria de que elas entendessem isso, mas como eu disse, prefiro evitar. Por isso eu nunca converso sobre esse assunto em específico, e deixo esse vazio quieto aqui dentro.
Por vezes, eu me pegava observando meus amigos do clube de natação da faculdade, e eles pareciam tão felizes juntos... Enquanto eu ficava sozinho, tentando entender como voltar a me sentir daquele jeito.
Tem algo que me assusta e que me faz pensar... Eu me pergunto se dessa forma eu ainda poderia realizar o sonho do meu pai, ou se esse vazio vai durar pra sempre. Me pergunto se ainda vale a pena...
Eu sei lá.
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Quando me formei no Ensino Médio voltei para os Estados Unidos, e fui estudar em uma universidade perto de casa. A Universidade de Michigan, onde comecei a cursar Gestão Esportiva, focado em marketing esportivo e sempre buscando me tornar o melhor nadador que eu puder ser. Me juntei ao clube de natação da universidade, o mesmo clube do qual meu pai participou quando tinha minha idade, onde ele e seus companheiros de equipe ganharam sua primeira grande competição. Espero fazer parte de uma equipe vencedora e realizar o sonho que meu pai não conseguiu.
Minha irmã mais nova, Niki, é minha maior apoiadora e, ao mesmo tempo, minha maior crítica. Ela se preocupa comigo e quer me ver mais "de boa", mas eu simplesmente não consigo. Ela está seguindo seus próprios sonhos na natação, e estou muito orgulhoso dela. Além disso, tenho amigos como Andy, Danny, Jimmy e Milo ao meu lado. Eles são como uma família para mim, mesmo que às vezes eu não demonstre tanto quanto provavelmente deveria. Eles são meus amigos mais próximos, e nós temos essa ligação que só quem cresceu junto entende.
Acima de tudo, meu verdadeiro objetivo é vencer as Olimpíadas, para honrar meu pai e, quem sabe, finalmente lembrar do rosto dele. Ainda posso ter algumas várias coisas pra resolver, mas vou manter meu orgulho como nadador, e espero que assim toda e qualquer insegurança que surgir, seja esmagada por esse orgulho.
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[BACKGROUND] Matt Porter || À Procura de Terra Firme
Short StoryMatthew Ryan Porter é um jovem de vinte anos que carrega consigo o legado do pai, um nadador frustrado que jamais viu seu sonho olímpico se concretizar. A natação corre em suas veias, assim como a vontade do que seu pai nunca poderá alcançar. Para M...