10. Pesadelo. Valsa. Beijo.

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Nihara Vitti

Sinto o meu rosto queimar com a intensa luz do sol que entra por uma fresta da janela, viro-me para o outro lado de modo a evitar o incômodo da luz. Por um momento, tento abrir esforçadamente os olhos, mas sinto-os tão pesados que voltam a fechar-se involuntariamente.

Tudo escuro, apenas uma luz fraca ao longe. Murmúrios da multidão apontando para mim, um grito me perturba. Uma luz forte acedida agora revela um altar decorado de preto, pétalas vermelhas pelo caminho.

Quezia surge, desfigurada, olhos injetados de sangue. Ela me empurra violentamente do altar. Sussurros arrepiantes e dissonantes ecoam no ar.

"Canalha, traidor, morra seu lixo", ela grita. O tapa de Quezia em Bráulio é um som aterrador. E ele sorri com uma fenda grotesca no rosto.

"Você me traiu, Bráulio?" pergunto, chorando e envergonhada. Os convidados se tornam figuras monstruosas, risos transformados em grunhidos.

"Você nunca foi boa o suficiente para mim," ele rosna com o olhar gélido, enquanto o salão desmorona ao redor.

Corro até o meu quarto, onde a fúria me leva à destruição. Desabo em um canto.

Alguém chama meu nome ao longe, minha voz sufocada pelo choro não consegue soltar-se. Tento me erguer, mas tropeço. Uma figura surge na penumbra, um homem alto com cabelos emaranhados. Ele estende as mãos e eu estendo a minha.

Nossas mãos se tocam, e sou elevada. Seus braços fortes me envolvem, um sorriso gentil nos lábios. A realidade desvanece enquanto me entrego à sua proteção.

— Nihara, Niah acorde... — ouço no fundo a voz agitada de Leandra.

Abro os olhos sintindo-a apertar-me forte nos seus braços, desorientada olho em volta, bato os cílios com força tentando perceber o que se passa, enquanto conforta-me a acariciar as minhas costas e dizer-me:

— Está tudo bem, foi só um pesadelo.

Assinto ainda envolvida pelo abraço de minha irmã, e a realidade começa a retornar. Os fragmentos do que experimentei desaparecem, mas as palavras e emoções que ele trouxe permanecem, assombrando minha mente.

— Meu Deus, você está tremendo — constata, preocupada.

— Fique tranquila, vou tomar um banho, isso já me passa — digo arrastando o meu corpo oara fora da cama indo até ao banheiro, a respiração ainda pesada.

— Está bem, te espero lá na cozinha.

Estamos os três a mesa do pequeno-almoço, depois de um bom banho estou melhor, com fome. Léah fez-nos ovos mexidos com queijo mozzarella pão quentinho, sumo de uva com limão para mim — uma combinação que ela acha bem estranha —, para completar bolo de cenoura, com coco e cobertura de chocolate, o meu preferido; o Simon está a comer salada de fruta.

— Como você está? Pergunta ela ainda preocupada.

Dou uma dentada no pão antes de responder que sim;

— Vai contar-me que sonho foi aquele? Você mexia-se tanto, balbuciava palavras que não consegui perceber, fiquei assustada.

— Está tudo bem agora — tranquilizo-a. — Pensei que me tinha livrado desses sonhos. Mas diferente das outras vezes, um homem me ajudava a...

— Como assim? Explica melhor isso, por favor.

Léah olha-me com os olhos brilhosos enquanto conto sobre o homem que apareceu no meu sonho, digo que não deve ser nada, mas ela insiste em dizer:

NÃO POSSO TE AMAROnde histórias criam vida. Descubra agora