Capítulo 14

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Entro no quarto e me jogo na cama ao lado do filhote adormecido. Bocejo, ficamos conversando até amanhecer, devem ser seis horas agora, levando em conta a posição do sol. Tento dormir novamente, minha mente esgotada não demora a apagar.
Levanto depois do breve cochilo, não devo ter dormido mais do que duas horas, me arrumo rapidamente e desço com o cachorro me acompanhando. Encontro Vassa e Jurian já à mesa, dou bom dia e me sento. Coloco um pão em meu prato, sirvo um copo com suco de uva e pego o queijo. Divago sobre o sonho que tive, dessa vez sonhei com um céu estrelado, eu estava no que parecia ser um pátio, pessoas em minha volta e todas elas olhavam para o céu, as estrelas passavam como cascatas a cima de nós, enchendo o mundo de luz branca e azul, eram como fogos de artifícios, meu fôlego ficou preso na garganta conforme as estrelas continuavam caindo. Nunca vi nada igual, era incrível, mágico. Sinto um corpo masculino se aproximar de mim e parar ao meu lado, ele passa o braço musculoso pela minha cintura e me puxa de encontro com seu peito. Me aconchego ali, escuto sua voz sensual perto do meu ouvido, não entendo o que fala, quando estava levantando o rosto para olhar para o dele, acordei.
- Irei para o centro da aldeia resolver alguns assuntos, gostaria que eu me juntasse a você quando partir? - Pergunta Lucien de frente para mim, estava tão perdida que nem vi quando se juntou a nós.
- Claro, quando vamos?
- Quando quiser. - Se recosta na cadeira, voltando a sua conversa com Jurian.
- Então, daqui a quatro dias será o baile, já escolheu seu vestido? - Indaga Vassa na ponta da mesa de dez lugares. O baile! Queria que se esquecessem dele, não tenho a menor vontade de comparecer e muito menos escolhi o vestido, a essa altura, todas a costureiras da aldeia estão ocupadas, e com certeza não tem nenhum vestido apresentável disponível nos pequenos comércios do lugar. E os poucos que tinham não daria para comprar, já que são mais caros do que carne. Não gastaria o pouco que ganhamos do nosso suor para comprar isso, não quando poderíamos passar fome. Nunca passamos fome de fato, mas algumas dificuldades sim, e chegamos perto de passar. - Pelo seu olhar, sei que a resposta é não. Ainda bem que eu sou uma ótima amiga e comprei o meu e o seu. De nada. - Balança o cabelo com a mão se gabando.
- Olha, não precisava, mesmo, eu nem quero ir. - Reforço a minha pouca, nenhuma, vontade de ir.
- Ah, mais você vai. - Afirma com tanta certeza e convicção, que se estivesse dizendo que o céu é rosa, eu acreditaria. Por que eu resolvi ser amiga dela? O mulher difícil, nunca aceita um não. Bufo.
- Agora você vê como não é fácil viver com ela. - Fala Jurian comendo um pedaço de brioche, faz uma careta quando Vassa joga um pedaço de queijo nele.
- Como se fosse fácil conviver com você e o seu ego. - Olha para as unhas o ignorando. Ele a olha desacreditado.
- Jura que vossa senhoria quer falar sobre ego, quando possui o maior de nós três? - Debocha. Ela se vira para ele pronta para o xingar de tudo quanto é nome, quando uma criada se aproxima.
- Com licença senhorita, a sua encomenda chegou, encontra-se em seu quarto. - Interrompe a briguinha dos dois. Ela a nota.
- Obrigada Layla. - Layla se vai com um aceno.
- Então vamos? - Questiona me olhando. Retribuo confusa.
- Para onde?
- Apreciar os vestidos que mandei fazer especialmente para nós.
Subimos para ver os vestidos, ouvindo provocações da parte de Jurian. Vassa ignora e continua subindo.
Entramos no seu aposento encontrando os vestidos na cama, um vestido de cetim na cor turquesa, as costas abertas, finas alças que vai do peito até a lombar, sustentando. Ele é justo até a cintura, para baixo ele é rodado e com uma fenda lateral que mostra a perna conforme anda. O outro é feito de organza, na cor lilás e com brilho por todo o vestido, de alça fina e com um decote até o início do abdômen, sutil. Do abdômen para baixo é solto, a saia rodada e volumosa.
- São lindos Vassa, obrigada. - A olho agradecida.
- Não precisa agradecer, seremos as mais belas. - Fala convencida sentada na cama com o animal no colo, aproveitando as carícias da mulher. Concordo rindo, apesar dela sem dúvida ficar deslumbrante no vestido, não tenho muita certeza sobre mim. Vassa é uma mulher lindíssima, são poucas coisas que a enfeiam, já não posso dizer o mesmo de mim, não que eu seja feia, mas também não sou muita coisa. Não chamo atenção como ela chama, também não tenho admiradores, acho que ninguém nunca se interessou em mim.

Encontro com Lucien parado no meio da sala me esperando para irmos.
- Até breve Vassa, obrigada pela hospitalidade. - Abraço ela.
- De nada. Sabe que é bem vinda sempre que quiser. - Fala no abraço.
- Não vale só para ela, sempre que quiser passar um tempo conosco, será bem vinda. - Diz o ruivo por trás de mim.
- Faço das palavras deles, as minhas. - Afirma o moreno encostado na parede com os braços cruzados, só nos observando.
- Agradeço pessoal, de verdade.
Do palacete Até minha humilde residência não é longe, trinta minutos no máximo de caminhada, porém Lucien pega o cavalo, ele é lindo, a pelagem na cor creme, a crina branca e a cauda, tanto um como outro brilham, resultado de um bom cuidado. Com ajuda do macho pego impulso e monto no animal, o ruivo me entrega o filhote antes de montar e se posicionar na minha frente, pegando as rédeas. Começamos a cavalgada, devagar, passo um braço em volta da cintura do macho me aproximando, ele parece não se importar. Apoio o rosto em seu ombro, nada, fico ali sentido o delicioso cheiro de seu perfume. Com o outro braço servindo de proteção para o filhote não cair.
Chegamos em frente de casa, me preparo para descer quando Lucien faz primeiro, ele oferece a mão, pego e desço com ajuda dele. Quando alcanço o chão perco um pouco o equilíbrio, ele me ampara com as mãos em minha cintura, agradeço e me afasto sem graça.
- Celene. - Chama quando estou quase na porta, me viro, ele parece pensar sobre o que dizer. - Obrigado. - Sorrio. Aceno, o vendo montar e partir.




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