O Andarilho acordou sobressaltado com os gritos da pessoa. Ele levantou rapidamente e foi em direção a ela para tentar acalmá-la.
-Sai de perto! - gritou amedrontada e irritada.
-Calma, eu não vou te fazer mal. - garantiu O Andarilho à ela, tentando mantê-la patada pra evitar que as costuras que fizera no dia anterior se soltassem.
A pessoa não pareceu muito convencida, mas se acalmou mesmo assim. Ela percebeu as ligações em seus ferimentos e parou de tentar se soltar da corda - não porque confiava no Andarilho, mas porque não queria piorar a sua situação já muito precária.
O Andarilho aproveitou que a pessoa já estava mais tranquila e começou a explicar o que aconteceu: Ele disse que estava andando no deserto e que achou ela jogada perto do cadáver de um camelo e de uma carroça quebrada; Não falou o seu nome - ele tinha os seus motivos, mas falou que podia chamá-lo de Górfez (Andarilho na língua antiga - essa língua era falada no bioma do deserto há muito tempo); ele estava no meio da sua explicação quando foi interrompido pela pessoa:
-Por que você quer ser chamado por um nome na língua antiga?
-Eu só achei que soava melhor do que "Andarilho". - (sim, esse era o motivo real).
-Tudo bem então. Mas o que você estava fazendo andando no meio do deserto? E você pegou alguma coisa na carroça? - indagou desconfiada.
O Andarilho não respondeu o porquê de estar no deserto, apenas foi até ao Camelo e pegou aquilo que tinha encontrado junto com a moça (a pessoa era uma mulher, uma mulher jovem e bonita. tinha cabelos pretos encaracolados, curtos, mal chegavam aos seus ombros; olhos pretos; e uma pele anormalmente clara para o povo do bioma desértico), entregou-lhe a foto que achou, juntamente com o kit de primeiro socorros - agora quase vazio - e as outras coisas que achou: uma bússola; um espelho; um livro velho e uma mochila que não chegou a abrir.
Ele entregou tudo a mulher. ela pegou suas coisas e começou a verificar para ver se ele havia roubado alguma coisa - não havia - O Andarilho não era um ladrão, ele tinha um código moral muito bem definido. Depois de conferir o conteúdo na mochila, a moça se virou para O Andarilho e disse.
- Você não disse por que estava andando sozinho no deserto. - fez-se notar a mulher, ainda desconfiada pir causa do silêncio do Andarilho.
- Eu não gosto das cidades. vivo no deserto como um nômade. - revelou para ela, resumindo bastante a sua historia.
A mulher não pareceu satisfeita com a resposta. queria saber mais. Por que ele vivia como nômade? Por que ele não gostava das cidades? O que ele faz todos os dias? Qual era o nome do Camelo? Foram todas perguntas feitas por elas ao Andarilho. A partir de um certo ponto as perguntas passaram de uma questão de falta de confiança para curiosidade genuína. Talvez estivesse
tentando simpatizar com ele para que a soltasse, ou realmente estava interessada em saber mais sobre o homem misterioso que havia a salvado.
O Andarilho não deu respostas muito elaboradas a nenhuma de suas perguntas, apenas revelando fragmentos da verdade, essa, sendo alterada quando preciso. Apesar do Andarilho ter um código moral rígido, mentir não era uma coisa que costumava evitar. Sle já evitou, um dia, quando era mais jovem. Mas adotou uma postura mais flexível em relação a contar a verdade, contando apenas fragmentos e fazendo as alterações que fossem necessárias para se manter em segurança. Ele teve seus motivos para tomar tal decisão, claro, ele não revelaria isso a ninguém.Depois de "responder" às perguntas da mulher, era a sua vez de perguntar coisas, começou por perguntar o seu nome: ela se mostrou um pouco relutante em responder a essa pergunta, mas como queria que ele a soltasse resolveu dizer. O nome fornecido por ela foi Ústia. O Andarilho tambem perguntou-lhe quantos anos tinha; ela tinha vinte e seis, quase metade da idade dele. Perguntou muitas outras coisas, mas a pergunta que gerou a maior parte da interação entre os dois naquele dia foi a seguinte:
"Então, me diga. Porque você estava toda ferida ao lado de um camelo morto no meio do deserto? O que você fez para chegar aqui?"
Ústia não respondeu imediatamente. Nem depois de 1 hora de silêncio. Mas acabou por responder eventualmente.
- Eu... eu estava fugindo de alguém. - revelou hesitante
- Fugindo de quem? - questionou O Andarilho, temendo que quem a perseguia podia encontrá-los.
No final da conversa, O Andarilho ficou sabendo que Ústia estava fugindo do próprio Rei do Jofériko. Ela foi presa, de acordo com ela, em uma taverna por ter atacado um soldado que estava molestando uma garotinha. Ela foi contida e levada sob custódia para as masmorras do castelo. Depois de ter sido levada para o castelo, ficou lá presa até que não estava mais. Ústia não revelou o que se procedeu para que ela chegasse ao deserto sozinha com um camelo morto e uma carroça quebrada. O Andarilho sabia que ela estava escondendo algo, mas não sabia o que. Também não importava. Assim que ela se recuperasse de seus ferimentos ele a ajudaria a voltar para a civilização, não a capital onde ela foi presa - a não ser que ela queira - mas ele não chegaria muito perto da cidade, apenas perto suficiente pra deixá-la em segurança.
O Andarilho não devia nada à Ústia, mas como mencionado anteriormente, ele tinha um código moral muito bem definido. Ele se considerava culpado pela situação da mulher, pois foi o seu Camelo que a noucauteou, então não podia simplesmente mandá-la embora sem ter certeza que ela chegava na cidade em segurança. O que quer que acontecesse com ela depois que já estivesse na cidade, já não era mais seu problema.
E também, ela já sabia da localização da base dele, ele não podia arriscar ser descoberto. Então no dia seguinte eles partiriam em direção a alguma civilização próxima, assim dando tempo dele arranjar algum outro lugar para se instalar. Porém, Ústia disse que como ele a manteria presa o tempo todo, o mínimo que podia fazer por ela era levá-la para onde queria ir. No caso: a capital. O Andarilho não se importava de levá-la até a capital, mas preferia levá-la para outro lugar - ele também tinha as suas questões pendentes na sede do governo, e com certeza não desejava encará-las nesse momento.
Mas como ele tinha que ajudá-la, O Andarilho fez aquilo que ela pediu. Não a soltaria no caminho, não podia arriscar que ela saísse correndo e alertasse outras pessoas a respeito de seu paradeiro. Então seguiriam no dia seguinte em direção a capital - com ela amarrada o caminho inteiro.
Durante a noite eles continuaram distantes um do outro, apesar de que agora nenhum dos dois estava tão desconfiado do outro como estavam na primeira vez que se viram. Apesar de não gostar muito de pessoas, essa mulher era diferente. Algo nela transmitia uma sensação diferente, uma mistura de perigo e excitação. Algo que já havia muito tempo que o Andarilho não sentia.
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O Andarilho Solitário
Genel KurguHá muito tempo existiu um homem que cruzou o "Deserto Lamurioso". Enfrentou muitos perigos e ameaças, mas contra tudo e todos saiu triunfante e glorioso! Pouco é conhecido pelo leitor sobre o homem. Quem foi? O que fez na vida? Porque vivia perambul...