PETROV

Capítulo I - O começo de tudo

Pov: Anna Kalahari                         

Dezembro de 2016

Os sentimentos parecem mais vívidos essa manhã, a cor vermelha desse vestido me lembrava de algo que eu gostaria de esquecer, ou, pelo menos, tenho tentado esquecer há anos.

É uma cor particularmente peculiar para se usar de manhã, mas Stella insistiu que eu colocasse essa coisa brega, somente por ser o brilhante e maravilhoso natal dos Kalahari.

Não me leve a mal, eu amo minha família, mas me sinto fora demais dessa imensa bolha de riqueza e perfeição que eles transmitem. E não estou sendo hipócrita, eu gosto do que o dinheiro me permite ter. Todas as roupas caras, carros, e festa de luxo. Mas a perfeição é algo que eu estou longe de alcançar, mesmo que eu tente ser a filha perfeita, da família mais conceituada de Los Angeles.

No mais, são apenas pensamentos, porque eu sou uma covarde que não tem coragem de falar para a Stella que eu detesto vermelho.

Escuto de longe o som dos saltos, até que chegam em minha porta, com a voz abafada ela diz algo para alguém e se aproxima levantando o tom.

— Anna, querida. Já está pronta? Estamos todos prontos, só falta você.

— Sim, mamãe. Já estou indo!

O som dos saltos afastam-se de novo e eu suspiro me olhando no espelho. Ok, é isso que eu sou, certo? Essa sou eu e eu deveria estar feliz. Afinal, tenho tudo que eu preciso. Certo? Certo? Ah foda-se, eu só preciso continuar fingindo gostar dessa vida de merda e vai ficar tudo bem.

Aliso meu vestido, passo as mãos no meu cabelo "liso armado" e sorrio ao ver as mexas roxas escondidas na parte debaixo. Sim, esse é um pedaço de mim que raramente aparece, e quando ele vem, me sinto tão viva quanto um porche a 200km na estrada do inferno.

Não faço idéia do porquê, e nem faço questão de saber, mas esse pequeno momento em que eu vivo e não sobrevivo, é o que me mantém aqui.

De uns tempos para cá, venho tendo lapsos de memória, como se eu fosse outra pessoa, o que só reforça esses sentimentos de pertencimento e impulsividade. Talvez eu esteja louca, vou procurar um terapeuta.

— Anna, vamos? — O grito estridente de Stella me acorda de meus devaneios e me faz apertar o passo até a escada da casa perfeita dos Kalahari, assim como todos nós. Brilhantes e perfeitos.

Olho para meu irmão, tão diferente de mim, que tenho cabelos loiros quase brancos, olhos verdes e corpo "cheinho". Tá, eu sou um tremenda gostosa, tenho bunda grande, cintura fina e peitos razoáveis, e apesar de Stella dizer a todo momento que uma dieta cairia bem, eu estou tranquila com meu corpo. E como eu ia dizendo, meu irmão ostenta cabelos castanho escuro, olhos azuis, como os de Stella, e um corpo esguio, exatamente como o de nosso pai.

Vou até ele e antes de eu levantar a voz, ele me abraça com carinho e diz em meu ouvido.

— Irmãzinha, que horror de vestido, achei que fosse ser teimosa com a mamãe uma vez na vida e colocar o que gosta. — Ele me solta e olha de cima abaixo com um olhar de insônia e coloca meus braços nos seus, me levando para andar pela sala e cumprimentar os convidados chiques de minha família.

— Kaden, com tanto medo assim que eu roube seu brilho?

— Nem fodendo, mana. Eu gosto da atenção deles em você, assim eu posso foder quem eu quiser por aí, em festas duvidosas, sem perder o cartão de crédito.

— A vida é uma mulher ingrata, puta merda — Digo segurando o riso.

— Vem, o Raze está esperando lá fora, e você vai comigo hoje!

Raziel Hastings, o meu inferno pessoal. Tudo nele era sombras. Seu cabelo preto, sobrancelhas grossas, e olhos negros como a obsidiana mais pura. Mas a maior sombra desse filho da puta, é a que vem de sua alma. Lindo e perigoso. É assim que eu descreveria Raziel.

Já tivemos chances o suficiente perto um do outro para eu saber que devo manter distância. Ele não sabe medir a maldade quando se trata de mim. Sempre me colocando abaixo de cachorro, com suas palavras de merda e seu temperamento doentio. Não faço ideia do porque Kaden anda com ele, meu irmão é doido, mas é gentil e protetor.

Saio do meu mundinho quando Kaden estoura a bolha me chacoalhando e me puxando pela mão.

Arregalo os olhos quando vejo para onde ele está me levando.

— Não, eu não vou falar com ele, Kaden. É natal, eu aprecio um pouco de paz.

— Se você ao menos estivesse me escutando quando eu mandei você correr, poderia ter andado na direção contrária, irmãzinha.

— Do que você está falando?

— Porra, você tava em outro mundo mesmo. Anda, Anna, ou o senhor Kalahari vai me matar antes mesmo de chegarmos ao carro por fazer merda e levar o potinho de ouro dele junto.

Ah, quer saber? Foda-se essa merda. Eu detesto esse vestido e detesto essas aparências. Arranco o salto e saio correndo na frente de Kaden, olhando para trás apenas para rir da sua cara. Era exatamente disso que eu estava falando, o pouquinho de mim que vive em chamas, implorando pra sair.

Paro abruptamente quando bato em uma muralha. Levanto os olhos e travo no lugar. Porra, porra, porra. Eu devia ter ficado quieta dentro da festa.

Raziel me olha como se soubesse mais sobre mim do que eu mesma. Me olha com intensidade infernal. Ele me segura com raiva a sua frente e susurra em meu ouvido, arrepiando os pelos de meu pescoço.

— Com medo, pequena Lúcifer?

Respiro com dificuldade, me deliciando com o medo que ele me proporciona e sentindo meu corpo enviar sinais claros para o meio das minhas pernas.

— De você? Nunca! Sai da minha frente.

— É você quem está se apertando contra mim, diabinha. Deveria ter mais noção do que faz comigo.

— Fala seus malucos, estão fazendo o que parados aí? O pai já está surtando ali atrás. Entra na merda do carro e acelera.

Entramos na Ferrari e Raziel acelera me olhando pelo espelho, com um sorriso de canto e olhar divertido.

Eu não sei o que esperar desse dia, mas eu com certeza sei o quão viva eu me sinto.

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Oiê amores, esse é meu primeiro livro, então comentem e votem bastante. Isso me incentiva demais e me ajuda a saber se estão gostando!

Beijinhos✨💛