A noite havia chegado a cidade do Oikawa e junto dela, veio uma forte tempestade, digna de relâmpagos e trovões. Os moradores buscaram refúgio em suas casas e por conta disso, a cidade estava pouco movimentada mas havia diversos pontos que insistiam em funcionar e dentre eles, estava a estação ferroviária do lado sul. Ela contava com apenas uma linha de espera e a estrutura era tão antiga que quando o vento vinha um pouco mais forte, ela balançava e ruía como se fosse tombar, sinalizando que precisava de uma reforma o mais rápido possível. Entretanto, o maior problema de toda a clientela daquela noite era que mal havia onde se proteger da chuva. Alguns dos presentes ali buscavam usar guarda-chuvas para se proteger da água, já outros usavam capas e outros se encolhiam pelos cantos. Poucos eram aqueles que permaneciam sem buscar por abrigo ou por algum método de fuga e entre estes, havia uma garota alta de cabelos negros e olhos azuis tão claros que sequer pareciam possuir alguma cor. Ela estava com a cabeça tombada para trás e diversos pingos de chuva caíam sobre seu corpo, desenhando os seus traços conforme desciam.
No início, eles marcaram o seu rosto que possuía traços memoráveis e belos mas acabaram por dar um destaque maior a expressão cansada que seu semblante moldava, fazendo parecer que ela estava chorando mas pouco importava pois a água da chuva continuava a descer porém, ela acabou por se acumular sobre o tecido do casaco preto que aquela garota vestia e também sobre seu jeans azul escuro, marcando as curvas da garota que pareciam ter o formato de um violino. Sem sombras de dúvidas, ela era uma jovem muito bonita mas havia algo que fazia com que ela perdesse o encanto para alguns e este algo era o exagerado número de tatuagens que cobria a sua pele e fazia com que seu corpo parecesse uma tela de arte gótica.
Ela passou a mão pelo cabelo molhado e o jogou mais para o lado enquanto suspirava pesadamente, sentindo a tensão em cada um de seus músculos mas esta se alivou um pouco quando a voz de um dos funcionários da estação soou através de um microfone.- Trem para Kyoto! Estação 4!
Ao olhar para o final da linha de trem, a garota fora capaz de veraquele típico veículo ferroviário vindo ao longe, soando aquele barulhinho de engrenagens funcionando e soltando fumaça mesmo com a chuva que caía. O sino do trem soou quando ele estacionou e a jovem finalmente sentiu sua tensão sumir por completo, relaxando os ombros e suavizando a própria expressão. Ela esperou que as portas do trem se abrissem e quando isso ocorreu, levou a mão até a mala, agarrando sua alça para depois sair a arrastando até o interior do vagão.
A sua primeira reação foi deixar que seu olhar vagasse pelo espaço, analisando as rotas de fuga caso precisasse mas isso não demorou muito pois alguém pigarreou ao seu lado, chamando sua atenção. Como reação, ela virou o rosto na direção do som e parado logo ao seu lado, ela pôde ver um homem de meia idade e olhos cansados. Os seus cabelos grisalhos estavam bem penteados para trás e a sua pele branca já demonstrava sinais da idade mas estes eram um pouco camuflados pelo uniforme vermelho escuro que ele vestia.- O ticket de passagem, senhorita. - Disse ele, estendendo a mão.
- Ah... claro.
A voz da jovem soou baixa e calma enquanto seus dedos vagavam até o bolso traseiro da calça jeans, puxando o ticket do trem. Ela lançou uma última olhada ao papel e depois o estendeu ao motorista ao mesmo tempo que agradecia a Deus pelos ticket's serem plastificados pois se não fosse isso, ela teria o perdido por conta da chuva.
- Certo. - Disse ele ao carimbar o ticket, o devolvendo a garota logo em seguida. - Entregue para a moça vestida de vermelho no final da viagem, caso tenha mais de uma mulher vestida de vermelho, é só ir até aquela que tem o símbolo igual o do meu uniforme.
Quando ele finalizou sua fala, a garota permitiu que seu olhar descesse pelo tecido do uniforme que ele usava, dando de encontro com o desenho de uma raposa bordado em prata e dourado. Símbolo bonito, ela pensou enquanto balançava a cabeça para concordar com o que aquele homem havia lhe dito.
Não demorou muito e a garota podê vê-lo se afastar para ir recolher os tickets das outras pessoas que estavam ali. Ela se aproveitou para ir até um até um dos assentos do vagão, levando a mala preta de rodinhas consigo.
Quando ela se sentou, os seus olhos se fecharam por um momento e um outro suspiro de alívio escapou de seus lábios pois havia ficado tanto tempo em pé que o seu corpo tinha ficado dolorido. Demorou um pouco mas o trem começou a andar e com isso, ela abriu os olhos antes de inclinar um pouco o corpo para a frente, levando a mão canhota até seu bolso para pegar uma pequena carta que estava encoberta por um saco plástico. Os seus dedos então brincaram pelo laço que mantinha o saco fechado e depois retiraram a carta que estava escondida por um papel grosso de cor preta.
Ela deslizou o polegar pela carta e circulou o carimbo prateado que estava ali, lendo as siglas "AKC". Aquelas pequenas letras ficaram circulando sua mente por mais alguns minutos até que ela abriu a carta, retirando um papel branco com frases escritas à mão."Felicitações, senhorita Fujiwara Octávia!
Venho através dessa carta que você passou na primeira fase do teste para adentrar na academia de Kyoto de caçadores portanto, se dirija até nossa instituição para realizar o teste prático que acontecerá nesse sábado 08/07!
Não se esqueça de chegar pelo menos cinco horas antes do teste pois precisaremos entregar o seu uniforme provisório e claro, traga a sua arma espectral consigo mas caso você não tenha uma, avise-nos por meio de uma carta até o dia 06/07 que iremos providenciar algo especial para você.
Assinado, Diretora Hana."
Octávia leu e releu aquela carta quase que infinitas vezes mas ainda não conseguia processar direito que estava tão perto de conseguir uma vaga na academia de Kyoto. Aquele era o primeiro passo de muitos outros ou talvez o último que daria mas ela não tinha nada a perder e muito a provar.
- Kyoto...
Murmurou baixo para si mesma e guardou a carta dentro do saco plástico antes de deixá-lo mais uma vez no fundo do bolso traseiro da calça. Ela poderia perder qualquer coisa, menos aquilo.
Octávia se ajeitou sobre o assento de novo mas logo lembrou-se que sua roupa estava encharcada e afastou as costas do assento, levando as mãos ao casaco encharcado e puxando o tecido para cima afim de retirar a peça de roupa e jogá-la no banco vazio que estava ao seu lado e ao mesmo tempo em que isso acontecia, os seus pés brincavam um com o outro, forçando os sapatos para baixo até se verem livres deles e quando isso aconteceu, ela jogou o corpo para trás novamente, começando a encarar o próprio reflexo na janela que ficava do outro lado do vagão mas não demorou muito para que desviasse o olhar e cobrisse o rosto com as mãos, protegendo os seus olhos da luz do vagão. A mente de Octávia estava nublada e pensava em cada possibilidade do que poderia acontecer daqui para a frente, enchendo o seu coração com medo e ansiedade mas o seu desejo de provar a sua família que estavam errados sobre ela, era maior do que qualquer outro sentimento que a assolava. Seu corpo deslizou para baixo, ficando totalmente largado sobre o assento do trem mas a tensão voltou aos seus ombros quando um cheiro tão podre quanto o de um cadáver em decomposição invadiu suas narinas e roubou a sua atenção. Seus dedos se separaram um pouco, dando espaço para que pudesse ver o interior do vagão uma outra vez, analisando cada centímetro até ver uma criatura nível Veta (conferir página de Ranqueamento de Criaturas) perambular por entre as poucas pessoas que estavam ali. Essa visão fez com que Octávia fechasse o seu semblante e em seguida jogasse o corpo para o lado, caindo com o tronco deitado nos assentos vazios próximos de si.
O seu ar escapou pela boca e o seu olhar se fixou no teto por alguns instantes mas suas pálpebras logo se abaixaram e ela começou a dar soquinhos na testa, buscando acionar todas as engrenagens de sua mente na caçada de uma solução para eliminar a criatura antes que ela causasse algum estrago ou saísse de dentro do trem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Joias da Família
FantasiaOctávia riu baixo e negou com a cabeça. Ela havia se tornado alguém não tinha mais nada a perder e muito a provar portanto, o medo que antes aflingia seu coração todas as noites havia se extinguido, deixando que a coragem tomasse conta e bom, não se...