O murro acertou o maxilar de Thomas, o rosto dele tombou para o lado, os lábios se abriram. Ele sentiu um gosto ferroso em sua boca e meneou a cabeça, a tontura veio por um breve instante. Tom apenas inspirou, retornando para sua posição inicial: o olhar erguido e a postura ereta.
Não se curvaria para eles com tanta facilidade.
Claro, talvez Tom já estivesse assim, visto que encontrava-se de joelhos e com os braços amarrados nas costas, mas ao seu ver isso não importava, pois se manteria firme até o fim.
Novos golpes vieram, Thomas resistia as pancadas o quanto podia, tentava ao máximo não gritar. Do que adiantaria afinal? Alí ninguém iria ajudá-lo.
Ele estava no centro de um mal iluminado labirinto de contêineres no porto da cidade. Apenas ele e seus raptores em uma fria madrugada de terça-feira. Se o matassem passariam-se várias horas até alguém o encontrar.
Acontece que Thomas não havia desistido de se soltar. A cada soco desferido em seu rosto, ele movimentava os braços na tentativa de abrir as correntes ㅡ o que não estava adiantando muito. O rapaz começava a ficar sem tempo e sem esperança, mas a dor dele ainda era sufocada; contida. Thomas era um jovem orgulhoso, característica que herdou do pai, não choraria ou imploraria por misericórdia, muito menos se tivesse que fazer isso diante de uns infelizes como aqueles.
Preferia morrer a ter que se humilhar perante marginais, foi por essa razão que virou policial ㅡ e também, por esse ser um legado da família Colleen.
Foi golpeado outra vez.
O rosto de Tom estava inchado e dolorido, mesmo assim ele não baixava a cabeça.
ㅡ Is... Isso é tudo o que consegue? ㅡ falou cuspindo sangue na cara do marginal.
O brutamonte ignorou as manchas escarlates que atingiram seu rosto e sua careca, prosseguindo com a violência.
Nesse momento ouviu-se uma risada vinda de trás do agressor. Tratava-se de Orson, um dos subchefes da Irmandade Sanguinária, o grupo de criminosos que Tom esteve investigando nos últimos meses.
Orson era mais baixo e mais fraco que grande parte dos homens sob seu comando, estava sempre de terno e em poucas ocasiões participava da ação, sendo que na maioria limitava-se a assistir. Na Irmandade, a principal função dele era garantir a segurança do porto por onde o contrabando de armas chegava.
Justamente o mesmo porto onde surravam Thomas.
ㅡ Olhe só para esse filho-da-mãe ㅡ disse Orson, dando uma longa tragada em seu cigarro, enquanto observava o seu guarda-costas espancando Thomas. ㅡ Continue, Jamal, nem a mãe desse miserável deve reconhecê-lo quando isso acabar.
A ordem foi o bastante para Jamal, que começou a socar Tom com mais força.
O guarda-costas era um verdadeiro tanque, com dois metros de altura e tão musculoso que seus braços mais pareciam troncos de árvores. Ele não costumava falar muito, mais intimidava qualquer um com facilidade.
Para Orson, Jamal era um faz-tudo perfeito, pois além de acatar suas ordens e protegê-lo como um cão, o homem ainda era totalmente leal a Irmandade Sanguinária.
Dando uma joelhada na testa do policial, Jamal o derrubou. Seu ataque prosseguiria se não fosse a chegada de um terceiro criminoso.
ㅡ Agora vamos nos divertir um pouco ㅡ disse Duke aproximando-se dos comparsas.
Aquelas palavras causaram um súbito arrepio na espinha de Thomas. Ele já conhecia Duke há tempo o suficiente para saber do que aquele homem era capaz. Seu coração acelerou, enquanto o suor que escorria por suas costas tornava-se repentinamente mais frio. O rapaz forçou as pálpebras inchadas a se abrirem mais, a dor que sentiu o fez lacrimejar. Mesmo estando no chão e com a vista turva, Thomas teve certeza do que via, a imagem do que Duke trazia em mãos transformou toda a dor em desespero.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Capitão Eterno
Short StoryA vida não é fácil nem para os heróis. Acompanhe o Capitão Eterno em uma missão no porto Seasville, onde ele deverá enfrentar um pequeno grupo de criminosos.