No fim de uma tarde quente em Nova Primavera, Kelvin entrou em uma loja de penhores para vender um relógio bonito que um de seus clientes "esqueceu". A loja era pequena e entulhada, mas bem ventilada. A senhora do outro lado do balcão o observava com olhos atentos e afiados esperando mais um dos achados do garoto.
Passando pela loja enquanto a senhora examinava o relógio, ele viu um colar transparente de cristal igual ao que Agatha usava no bar a poucos dias atrás.
–Quanto é esse colar aqui? –Perguntou inicialmente querendo saber apenas quanto a peça de Agatha deveria custar.
–Esse aí? Não muito, é falso, tudo vidro. Eu olho o preço pra você, mas não deve passar de 50. –A velha disse rouca se afastando da bancada onde estava o relógio para chegar o colar, mas antes mesmo de dizer o preço Kelvin já havia decidido que ia comprar e tem um plano se formando em sua mente.
No mesmo dia a noite, Kelvin conversava com Ramiro em uma de sua visitinha noturna ao bar.
–Como vai o seu trabalho de cão de guarda cuidando da ex mulher do seu Antônio? – Perguntou tomando impulso para se sentar no capô do carro.
–Vai bem Kevin, a Doninha é muito educadinha, é fácil de tomar conta dela. Eu sô atento, mai as veiz ela dá uma escapulida viu?– Ramiro disse se aproximando dos joelhos pendurados de Kelvin falando o fim mais baixo como se fosse um segredo.
–Como assim? – Falou abaixando seu volume de voz também. Ramiro não tinha falado nada de mais ainda, então com certeza vinha mais por aí e Kelvin sentiu que seu plano seria ainda mais fácil de ser colocado em prática.
–A Dona quer sair sem eu seguir ela. Eu falei que o patrão me mata de acontecer alguma coisa com ela, mas ela é teimosa, né? E eu num vô ficar brigando com ela que eu tenho muito respeito por ela, ela é como se fosse uma mãe pra mim. Aí ela me libera mais cedo. – Explicou apoiando as mãos nas pernas de Kelvin.
Kelvin sorriu vendo Ramiro distraído com tanto contato com ele. Tinha um quê de diversão na mente de Kelvin vendo Ramiro negar tanto o que sentia e sendo tão traído por seu corpo e mente que sempre denunciavam suas vontades. Kelvin explicou seu plano pra Ramiro, sem ele nada daria certo.
Dois dias depois, Kelvin que era grande conhecedor das rotinas do povo daquela cidadezinha por "coincidência" entrou no salão do Cacá no mesmo dia que Irene fazia seu cabelo. Cacá viu o amigo entrando e o recepcionou rapidamente.
– Kelvin, não te esperava hoje aqui não. É... com todo respeito, eu não consigo te atender agora. A Dona Irene deixa os horários marcados com bastante antecedência.– Disse colocando as mãos justas pedindo desculpa. – Mas se quiser voltar em umas duas horas a gente te encaixa.
–Não precisa se preocupar não, eu espero aqui mesmo. Hoje eu tô com bastante tempo livro, eu pego uma revista ou alguma coisa, converso com as meninas, pode deixar, tá?
Cacá piscou concordando e voltou pra atender Irene. Kelvin esperou Irene ser levada para as cadeiras mais próximas da recepção pra começar a falar com as garotas que estavam por lá divulgando uma noite especial no Naitandei.
–Pois é garotas, vai ser um arraso essa noite de músicas antigas que a gente vai fazer no bar viu?– Disse alto – Então quero ver todo mundo lindo aparecendo por lá. Semana passada a gente fez uma de teste e até a Dona Agatha apareceu por lá toda chique com um colar assim, sabe? Grande e brilhante com umas pedras enormes com ouro, oxalá. Eu queria umas joias bonitas assim também.
–Vai sonhando Kelvin, que só na sua imaginação mesmo pra você aparecer por aí rico. –Disse uma das garotas provocando. Kelvin pensou que realmente dava liberdade demais pra esse povinho dessa cidade.
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Aniquilamento
FanfictionUma história com uma dupla de criminosos andando por aí e nenhuma redenção. Se Kelvin não fosse a salvação de Ramiro e sim sua perdição. "E o que você faz é certo? Se eu for um erro, eu vou ser o menor dos seus erros!"