Capítulo 2.

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"Não, Shoyo. Você não está entendendo." - Naomi afirmou, visivelmente irritada com o menor de cabelo alaranjado.

Os dois estavam em ligação há horas, pois seu melhor amigo havia partido para conquistar corações do outro lado do mundo, no Brasil. Eles se aproximaram no ensino médio, não por estudarem na mesma escola, mas devido a um número digitado errado por Naomi, que caiu no chat da pequena laranja ambulante. Desde então, ficaram inseparáveis, sempre se encontrando quando podiam. Era aquela história: um extrovertido sempre adota uma introvertida.

Havia se passado um dia desde o anúncio de Sakusa. No dia seguinte, ele treinaria com todos, e Naomi precisava conversar com seu fiel amigo para surtar e xingar o rapaz o suficiente, evitando assim ter que fazer isso no dia seguinte.

Shoyo estava genuinamente surpreso que ela aceitara a volta do outro para a banda. Conhecia o passado dos dois e sabia o quanto a garota o detestava e queria mantê-lo longe.

"Naomi, acho que seu coração amoleceu." - brincou Shoyo, enquanto rebatia a bola de vôlei contra a parede de seu apartamento. "Cansou de odiar o Sakusa-san e agora surgiu outro sentimento?" - provocou o ruivo, sempre adorando essas situações.

Do outro lado da linha, Naomi, que bebia seu energético de maçã verde, sentiu-o descer pelo lado errado, causando um engasgo. Começou a tossir, ouvindo a risada de Shoyo.

"Você é um idiota, Sho. Eu te odeio."

"Você me ama e eu sei, por isso ainda me atura." - disse ele, convencido, fazendo Naomi revirar os olhos.

"Eu fiz isso por Sunarin. Todos sabem o quanto ele deseja isso, e eu não poderia impedir o sonho do meu irmão por birra." - Naomi se ajeitou na cama, olhando para o nada.

"Claro, claro." - ironizou Shoyo. "Mas mudando de assunto. Você consegue para mim o número do irmão loiro do Osamu?" - Sua voz ficou mais baixa, como se estivesse com vergonha.

Uma das sobrancelhas de Naomi se ergueram e um sorriso surgiu em seus lábios. Não sabia do interesse de Shoyo em um dos gêmeos Miya. Poderia até passar o número, mas não seria tão fácil; ela queria algo em troca.

"Atsumu, é? Só se você me passar o número da sua irmã." - brincou Naomi, sabendo o quanto ele era ciumento.

"O QUÊ?" - ele gritou, fazendo Naomi afastar o celular do ouvido. "Nossa, Naomi. Eu não te peço mais nada." - murmurou, fazendo um beicinho.

"Tá, tá. Desfaça esse beicinho. Eu te passo, mas você está me devendo algo."

Hinata saltitou de alegria com a notícia, esquecendo por completo que estava em cima de uma cama - a dele era no estilo beliche, porém sem nada embaixo, usado para computador ou televisão - acabando por cair no chão, causando um barulho estrondoso do outro lado da chamada.

"SHO? Que caralhos foi isso?"

"Nada!" - levantou-se, tendo sorte de cair sobre um puff, que amaciou sua queda e evitou ferimentos. "Agora me passe o número dele."

"Te mandei. Agora vou desligar. Tenho que treinar."

"OK, beijo linda. Até depois."

Naomi não se despediu, apenas desligou a ligação e se jogou na cama, pensando no que estava por vir, como lidaria com aquele cara na sua banda - que não era a sua, mas no futuro seria. Pensou no torneio, nas músicas que precisaria cantar e em quem chamaria para fazer as roupas de todos, provavelmente Asahi, um amigo de Akaashi e estilista. Pelo menos, estava cercada de pessoas que gostava. Não podia esquecer do restante da banda; era só ignorar aquele cara e tudo daria certo.

Sabia que pensar no futuro não adiantaria; precisava se concentrar no presente, em treinar tanto seu vocal quanto sua guitarra. Afinal, uma batalha havia começado e ela estava ali para ganhar. Pegou o objeto rosado que estava no guarda-roupa e conectou-o à caixa de som. Já estava afinado, havia feito isso antes da ligação de Shoyo; só precisava se concentrar e lembrar das notas.

Um sorriso surgiu em seus lábios. Ela sabia qual música tocaria naquele momento, uma das preferidas do seu irmão mais velho. Ele sempre a cantava ou tocava em diversos instrumentos, aproveitando a sensação. Naomi havia tocado aquela música apenas uma vez, mas já sabia todas as notas de cor, sem precisar olhar.

Colocou seu fone de ouvido sem fio e deixou o som invadir seus ouvidos. Quando chegou o momento, seus dedos deslizaram sobre as cordas, criando um novo efeito no quarto.

Como estava sozinha em casa - pelo menos era isso que achava, pois não tinha visto ninguém se movimentar nas últimas horas - não se importava com o volume. Apenas tocava, tentando não errar uma nota. Sempre que achava que tinha falhado, reiniciava a música e continuava. Sabia que precisava cantar também, mas não era fácil. No quarto era tranquilo, mas para uma multidão... Céus, como faria isso?

- One love, two mouths... - sussurrou, não cantando o restante da música, apenas tocando.

Entendia agora o motivo pelo qual seu irmão gostava tanto dela; a música trazia uma sensação agradável, era nostálgica e a fazia lembrar do dia em que foi ensinada. Naomi não parou após terminar a música. A colocou em loop e continuou a tocar.

Estava tão imersa no que fazia que não notou que alguém estava à sua porta, espiando-a, ansioso para ouvir mais daquela música, já que era a sua preferida. Mas como isso não aconteceu, Suna desistiu e decidiu dar privacidade à irmã, ouvindo o som da guitarra do andar de baixo.

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𝗦𝗢𝗡𝗚 - 𝐒akusa 𝐊iyoomi.Onde histórias criam vida. Descubra agora