Capítulo 1- Amélia
-Uau! Estás deslumbrante, o Eduardo é um sortudo por andar com uma mulher tão bonita como tu.- disse a Filipa.
A Filipa arranja sempre maneira de exagerar a realidade, mas a verdade é que sinto-me realmente elegante. Estou a usar um vestido roxo-vinho, longo e justo, que realça a minha figura esguia. Comprei-o esta tarde com o meu pai, na loja da mãe da Filipa. Aquela senhora merecia, sem dúvida, mais reconhecimento, é uma estilista fabulosa.
Olhei para o relógio e exclamei:
-Caramba, já estou atrasadíssima.
Vou comemorar o trigésimo aniversário de namoro com o Eduardo. Conhecemo-nos desde que ele começou a trabalhar na empresa do meu pai, mas só começámos a namorar um ano depois. Ele é, verdadeiramente, o príncipe encantado que todas as mulheres desejariam de ter. Às vezes, sinto-me perplexa por tê-lo encontrado.
Ouço a campainha a tocar, deve ser o Eduardo. Abro a porta e ele oferece-me um ramo de tulipas, a minha flor favorita, e cumprimenta-se com um beijo suave na cara. A Filipa dirige-se para a porta, cumprimenta o meu namorado e diz:
-Divirtam-se!
Entramos no carro e vamos em direção ao nosso restaurante favorito, onde tínhamos reserva para as oito. É o mesmo restaurante onde tivemos nosso primeiro encontro, desde aí tornou-se especial para nós. Mal entramos no restaurante, o proprietário vem logo dar-mos as boas vindas. O dono do restaurante é o pai do melhor amigo de infância do Eduardo com o qual sempre teve uma relação de proximidade.
A noite estava prestes a começar e prometia ser uma noite inesquecível e especial. A mesa estava decorada a rigor, com velas, flores e uma música ambiente. Ao nosso redor estavam apenas mais alguns clientes, que pareciam tão deslumbrados com a atmosfera acolhedora do restaurante como nós. O empregado trouxe a carta dos vinhos e escolhemos um local, com um trave de frutas diversas. Brindámos aos nossos três anos de relação, aos que ainda estão para vir e ao nosso amor que a cada dia tornava-se mais único e especial.
O jantar estava a correr maravilhosamente, pedimos de seguida umas entrada para ir degustando enquanto falávamos sobre como nos conhecemos, avivando a memória de todas as peripécias que nos levaram a ficar juntos. O ambiente do restaurante continuava mágico, agora tinha entrado um quarteto de cordas esplêndido que tornou a nossa refeição numa história tirada de um conto de fadas.
O empregado, atencioso como sempre, aproximou-se da nossa mesa com um prato de iguarias regionais que trouxe-nos água à boca. Eu e o Eduardo trocámos um olhar que demonstrava o quanto estávamos satisfeitos com este restaurante. nunca desiludia.
A noite avançou e terminámos a nossa refeição, o Eduardo pediu um café enquanto eu fui à casa de banho retocar a maquilhagem. Voltei para a mesa assim que o café chegou, como não bebo esperei só que o Edu precisasse. Terminámos o café e, em seguida, Eduardo surpreendeu-me com uma pequena caixa embrulhada com um laço de veludo.
-Mel, este presente foi escolhido a pensar em todos os momentos que passámos e em todos que iremos passar.
Abri a caixa e lá estava um lindo fio de prata com uma medalha com a nossa data de namoro inscrita. Quase que derramei uma lágrima de emoção, palavras não são suficientes para descrever o que eu sinto por este rapaz. Dei-lhe um beijo vibrante, cheio de emoção, que serviu por todas as palavras que poderia ter dito.
Saímos do restaurante de mãos dadas, com o coração cheio de amor e alegria. Demos uma caminhada pelas animadas ruas de Lisboa e partimos em direção ao Tejo. Enquanto caminhávamos comecei a sentir um aperto no coração, uma sensação muito estranha algo que não sentia há muito tempo. Tentei ignorar mas era quase impossível e parecia que se tornava mais acentuada à medida que nos aproximávamos do rio Tejo, pensei que estava a ficar doente ainda verifiquei se estava a ficar com febre, mas nada. Se o Eduardo reparou que eu não me estava a sentir muito bem não disse nada. porém acho que ele reparou uma vez que a sua expressão facial pareceu-me mais melancólica. Será que ele estava a sentir o mesmo? Será que era melhor acabarmos o passeio por aqui? Não, não podia arruinar a nossa noite mágica com algo possivelmente insignificante. Continuei a fingir que estava tudo bem, na esperança que a angústia se libertasse de mim, o que não aconteceu.
Chegámos finalmente à beira do rio Tejo e só me apetecia chorar e o pior era não saber porquê. Uma parte de mim queria desabafar com o Eduardo mas não ter-lhe-ia uma explicação boa o suficiente para lhe dar ou pior ele ia preocupar-se demasiado comigo e levar-me a casa. Respirei fundo e olhei para a paisagem à espera que o cheiro a maresia tivesse algum tipo de efeito na minha melancolia. Até que reparei num casal muito apaixonada que dança ao som de uma valsa tocada por uma violinista de rua. Quando me aproximei mais para ver a arte e memórias que estavam ali a ser criadas o meu coração parou quando vi o homem que dançava coma bela rapariga.
Não era apenas um desconhecido, demorei alguns segundos a processar e a reconhecer a cara que estava ali à minha frente, mas quando o fiz senti a minha pressão a descer e a minha face a ficar branca como a neve. O Eduardo mostrou-se preocupado de imediato e perguntou se eu precisava de algo muito aflito, no entanto eu nem consegui reagir mesmo que tentasse que palavras saíssem da minha boca não conseguia, fiquei apenas parada a observar o casal apaixonado a dançar.
Continuava lindo, apesar de ser de noite e não o conseguir ver claramente o cabelo continuava aquele castanho claro único que não encontras em mais lado algum. Os olhos continuavam os mesmos castanhos, mas desta vez brilhavam mais do que nunca. Ele cresceu significantemente mais do que a última vez que nos vimos e a sua postura tornou-se numa confiante e imponente.
O Eduardo mostrava confusão e eu ainda mais confusa estava, mas o que estava ele a fazer aqui? Há quanto tempo estaria ele na cidade? Trabalharia ele aqui? Aquela rapariga seria sua namorada? Mulher? Teria ele filhos? A minha única reação possível neste momento seria correr e abraçá-lo contudo não tinha o direito de arruinar o momento que ele estava ali a viver, já que eu própria valorizo esses momentos mais do que ninguém.
Sentia-me vazia, esqueci o Eduardo por uns segundos e a minha mente só estava ocupada com "e se's", não podia ser tão egoísta. Sentia-me culpada por ter me ido embora ainda que tivesse sido o melhor para mim e para a minha família. Sentia-me de parte como se tivesse perdido anos e anos da vida dele, e ele da minha. Queria abraçá-lo sentarmo-nos à beira mar como fazíamos antes e falar sobre tudo o que mudou e tudo o que estava igual. Quero perguntar como está a sua avó, os seus pais, para que curso foi e no que trabalha. Quero perguntar se concretizou os seus sonhos, se ainda pensa nos momentos que passámos, se sente tantas saudades minhas como eu sinto dele.
Mas a minha maior pergunta é o que raio faz o Bernardo em Lisboa?
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Nós, de novo
RomanceAmélia e Bernardo, inseparáveis amigos de infância, tinham uma paixão secreta um pelo outro. Mas a vida separou-os há 15 anos atrás quando Amélia mudou de cidade. Agora, ambos estão em relacionamentos de longa data e carreiras movimentadas. No entan...