Assim que chegamos, a moça se sentou no sofá parecendo extremamente cansada. Enquanto a observava, pensei que, certamente, ela seria um incômodo, como todas as mulheres foram para mim, quando, como se ativasse sua habilidade inata de "Intuição Feminina", respondeu ao meu olhar em sua direção:
— Por que sinto que está pensando algo ruim de mim?
— Porque eu estou.
E parecendo notar não haver esperanças em um diálogo pacifico, ela suspirou dizendo:
— Poderia pelo menos tentar ser amigável.
— "Fingir ser algo que você não é para agradar os outros, é o pior que você comete a si mesmo.", foi o que meu pai disse uma vez. Uma das poucas vezes que ele disse algo que prestava.
— Ele pode estar certo, mas não significa que agir dessa forma também esteja.
— Sim... — em um tom vago e pensativo, finalizei — eu sei. — Em seguida, troquei o assunto — Mas deixando isso de lado. Por quanto tempo pretende ficar-
E antes que eu pudesse completar minha frase, em um tom um pouco irritado, ela respondeu:
— Eu acabei de chegar e já está querendo saber quando irei embora? — disse, demonstrando um certo incômodo.
Eu, em contraste, mantive a calma e serenidade em minha resposta:
— Não, eu apenas queria saber quanto tempo vai ficar aí, parada. Já faz um tempo que chegamos e você ainda nem desfez as malas.
Era perceptível o constrangimento em seu rosto devido ao seu julgamento precipitado. Um pouco nervosa e envergonhada, respondeu:
— Ah... era isso, é? Sinto muito pela forma como falei.
Observando sua reação, pensei para mim mesmo:
— É interessante como ela mudou de personalidade tão drasticamente. É como a Gerente.
Ela então observou questionando devido a minha pergunta:
— E onde eu deveria ficar?
— Bom, há três quartos, dois no segundo andar, sendo um deles, o meu, e o outro no andar de baixo. Pode escolher um dos dois. Fica a seu critério.
— Então vou ficar com o de baixo.
De maneira sarcástica, comentei:
— O mais longe de mim? Entendo. Ótima escolha.
Um pouco irritada, ela respondeu:
— É, isso mesmo. Hmpft!
Ela juntou suas malas, pronta para ir ao quarto, quando perguntei:
— Aonde está indo?
— Para o quarto. Para onde mais séria? — respondeu em um tom rude.
Eu, então, com um sorriso sarcástico, disse:
— Mmm... E você já sabe onde ele fica, né?
A expressão que ela tinha naquele momento foi uma mistura de surpresa e confusão, suas sobrancelhas franziram levemente e seus olhos se estreitaram, e encarando-me, novamente um pouco constrangida, ela perguntou aonde ficava e assim a acompanhei até onde seria seu quarto temporariamente.
Algum tempo depois, ela apareceu indo em direção à cozinha onde eu estava preparando a janta enquanto dizia em um suspiro de alívio:
— Ufa! Terminei de arrumar minhas coisas, finalmente posso descansar.
— Não deveria tomar um banho primeiro? — observei.
— É claro, né! — exclamou com tom de ironia.
— O banheiro fica no final do corredor e já aviso, a máquina de lavar roupas fica lá também. Portanto, quando for tomar banho, lembre-se de trancar a porta. Não me responsabilizo se vê-la nua.
E de repente, ela ficou corada, como se constrangida com o que eu disse. Nesse momento, me perguntei:
— Que tipo de reação é essa com apenas uma palavra?
Em seguida, ela respondeu gaguejando um pouco envergonhada e com as bochechas coradas:
— Vo-vou tomar cuidado.
À medida que as palavras escapavam de sua boca, percebi um misto de emoções em seu rosto. Um leve rubor permanecia em suas bochechas enquanto ela concordava com um aceno tímido. Era evidente que minhas palavras a desconcertaram, talvez devido ao tom irônico presente em minha voz. Em sequência, concordei:
— Ok. Bom, já preparei o jantar. É só se servir. Eu vou tomar um banho primeiro e dormir. Até.
Despedindo-me, eu me afastei, deixando-a sozinha, porém, antes que pudesse me afastar, ela me chamou dizendo:
— Espera! Agente ainda nem se apresentou.
Com uma expressão indiferente, respondi:
— Sim, e?
Ela explicou:
— Sabe, uma pessoa que você não conhece vai ficar na sua casa. Você não quer saber quem ela é? Ou o que ela faz? Ou por que ela está aqui?
— Olha, primeiramente, não é como se eu me importasse. Segundo, se aquela mulher confiou em deixar você aqui, não preciso me preocupar. E terceiro, eu estou com sono. Então... — e como se confirmasse o que eu disse, apenas por pensar em dormir, eu bocejei com sono em meio a minha fala — eu vou dormir. Até.
— Mas que pessoa irritante! Vou ter que conviver com ele por um mês? Por quê? Por que tudo que ela tenta fazer, só me prejudica ou causa algum transtorno? Eu deveria ter ficado lá e... não. Não vamos pensar nisso. Você disse a si mesma que iria esquecer disso. Mas não é tão fácil quanto parece... não com esse idiota por perto.
— Eu ouvi isso!
Gritei de longe.
— Some logo!! — exclamou brava.
Durante o momento em que caminhava em direção ao banheiro, me deixei levar por pensamentos de indagação. A forma como eu agia com ela me soava tão normal, que mesmo minha raiva parecia se acalmar, e mesmo o ódio e apatia pelas coisas se ofuscavam às vezes.
Apesar do meu desejo de descansar, minha mente continuava repleta de pensamentos sobre o encontro com aquela garota. Havia algo nela que despertava minha curiosidade, algo que me fazia questionar minha própria apatia. Enquanto me preparava para dormir, uma sensação estranha se instalou em meu peito. Talvez essa visita inesperada pudesse trazer algo além de uma simples mudança na monotonia da minha vida. A princípio, pensar nessa mudança me incomodava, mas gradualmente ela faria isso mudar.
Porém, para aquele dia, com tais pensamentos em mente, fechei os olhos e deixei que o sono me envolvesse, não tão ansioso pelo que o amanhã traria.
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A Jornada em Busca da Triste Felicidade
RomansaYori, um homem que passou a vida inteira imerso em um oceano de ódio e apatia, está preso em uma rotina monótona e desprovida de propósito. Cada dia se assemelha ao anterior, levando-o a questionar se algo mudará, embora saiba que é ele mesmo quem d...