CURIOSIDADE

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    Eu não estava preparada quando tudo aquilo aconteceu, mas tive que enfrentar e ser forte pela minha mãe, afinal, depois de meu pai, o único homem que a fez acreditar e dar uma chance ao amor foi o Derick. Aquela manhã parecia não ter fim, era um centro de velório lotado de pessoas que amavam o Derick, sua família, amigos e sua filha distante que eu nunca havia escutado sobre, tudo aquilo estava sendo muito difícil e ao mesmo tempo estranho. 

 QUANDO TUDO COMEÇOU: 11/07 ( a descoberta  )

Já estávamos no final do outono quando eu e minha mãe encontramos, por acaso, um envelope no correio de nossa casa  com o nome Health, uns dos hospitais da nossa cidade, onde o Derick tinha plano de saúde, então não pensamos  que fosse algo sério, ele sempre nos contou tudo, e esse envelope poderia ser apenas sobre os custos do plano. Mas, o meu instinto sempre foi aflorado, peguei e levei para meu quarto assim que minha mãe saiu para cozinha, aquilo não tinha me passado bem e sempre fui muito curiosa, o que me fez passar por uns bocados. 

17:40 (11/07)- 

 - Aila, desce logo pra jantar, não vai querer comer comida fria, né?

      - Já vai, mãe, estou só terminando uma tarefa da escola.                                                                                      Deixei a atividade em cima da escrivaninha quando me dei conta que o envelope estava em cima da cama, antes de descer, resolvi abrir e ler mesmo sem entender muito bem de laudos e coisas da medicina. Eu paralisei, fiquei tentando decifrar se eram apenas informações que eu não tinha conhecimento, ou se era de fato um exame que atestava um grave câncer no Derick. Em choque, apenas desci para o jantar. 

JANTAR (11/07)                                                                                                                                                                          - E aí, filha, como está sendo seu último ano na escola?     

    - Bem, mãe.                                                                                                                                                                                  Eu não queria parecer estranha, mas estava na cara que algo tinha acontecido, eu só não ia falar no seco para minha mãe que seu esposo tão amado e um pai para mim, estava tão doente. 

    -Aila, você não precisa se preocupar em terminar a escola e já ingressar na faculdade, se for por isso que está tão aflita. Eu e o Derick acreditamos em você, sabemos que terá um lindo futuro e que se casará com um grande homem.

   -Relaxa, mãe. Não estou preocupada em me casar com um grande homem, só quero focar em me conhecer agora, e sobre os estudos, o Derick vai estar sempre aqui para me apoiar, né? ele é um pai para mim

  -Sim, minha filha, você sempre nos terá. E, por falar nisso, o Derick já deveria ter chegado do trabalho. Agora, termina essa janta aí. 

FALE A VERDADE (14/07)                                                                                                                                                        Acordo bem cedo, me arrumo e vou para escola. Ainda pensativa com o laudo que li há alguns dias. Finalmente meu último ano da escola, só me imagino saindo de Shitsu, essa cidade que todos os anos faz sempre as mesmas coisas em datas importantes do ano, que as pessoas são sempre as mesmas. É cansativo, mas pelo menos eu tenho a Mia e o Cris que são quase irmãos. A Mia é doce, ri de tudo, conselheira, topa qualquer saidinha e o tipo de garota que se joga e não liga pra nada. Já o Cris é fechadão, ama videogames e o típico garoto low profile, mas que sempre consegue conquistar quem está ao seu redor. 

12:00h término da aula                                                                                                                                                          Na volta, a Mia me acompanha como sempre, fico analisando se devo falar sobre o que descobri ou não, mas a verdade é que Mia já é minha amiga há muito tempo para que eu possa confiar nela. Falo quase engasgando de tão rápido: - o Derick está morrendo.                               

   - Não fala besteira, Aila. 

 -Mas eu não estou! eu acabei lendo um exame que dizia a doença e a gravidade dela.

  -Meu deus, isso não pode ser verdade, o que ele tem? A tia Luisa sabe disso?.  

-Lá está dizendo que é um câncer na Laringe, e não, minha mãe não sabe. 

- Sabe o que precisa fazer, né? Não tem como deixar isso em off, vai acabar ficando pior, sem contar quando a tia Luisa descobrir que foi a última a saber.

 -Eu  sei, mas não tenho coragem ainda, não sei como falar sobre isso, sinceramente, a curiosidade mata o gato, como dizem por aí...

18:00 Encontrando o Derick                                                                                                                                                - vem cá minha Lalá. -Derick fala enquanto corre para me abraçar como sempre faz, desde que eu era... sei lá, uma criancinha.

  Estamos na varanda enquanto minha mãe prepara uma lasanha para o jantar. Enquanto isso, decido que preciso falar, perguntar sobre o que está havendo, não aguento sofrer calada pensando nisso. Solto a primeira coisa que vem a mente:- Dedé, por que você nunca se importou com o fato de eu não chamá-lo de pai, já que é isso pra mim.  Não acreditei que em um momento de tanta tensão eu tinha soltado algo nunca antes pensado, arrisco dizer que o universo me colocou naquela situação. 

 -Lalá, quando entrei nessa família, você era apenas uma bebezinha, e uma de suas primeiras palavrinhas foi "papa", lembro-me que sua mãe contou da alegria que foi quando seu pai a ouviu, e desde então, eu deixei que você decidisse o melhor.  

-Ah sim, entendi. - respondi.

-Por que está me perguntando isso? estou percebendo você diferente, sabe que pode me falar tudo, vai, desembucha! - Derick sempre foi bom em me decifrar                 

   - é verdade que está com uma doença severa? -pergunto 

Somos interrompidos pela mamãe 

- A lasanha está pronta, venham comer!!.  

 Apenas percebo que os olhos do Derick encheram-se de lágrimas.  



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