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Dez anos antes...

Lavei o último prato olhei pela janela suja, vi o jardim se iluminar com o primeiro raio de sol. Suspirei minhas costas doíam muito, desci do banquinho caminhei devagar até a porta pequena. Tinha alguns minutos até a senhora vir fazer o café, deitei no papelão e relaxei o corpo. Fechei os olhos e uma lágrima escorreu ao sentir minha mão dormente, meus pés estavam gelados. Me encolhi e peguei uma manta que achei no lixo, me enrolando nela. Aqui cochilei um pouco.

Acordei e mais que depressa sai do quartinho, amarrei meus cabelos firme. Passei a mão no rosto respirando fundo, fiquei de cabeça baixa ao lado da pia. Segundos depois a senhora passou pela porta, olhou em volta depois veio até mim. Vi seus sapatos pretos brilhando, passou a mão na minha cabeça e tremi.

- Irá ficar aqui, não vai precisar servir o café. Vamos ter visitas e lixo como você só irá deixar o ambiente podre.

Fiquei quieta, já acostumada com suas palavras. Ela começou a se mover pela cozinha, começando fazer o café da manhã e eu apenas cortava e lavava, o que ia ficando sujo pelo caminho. Sempre de cabeça baixa, assim que ela terminou coloquei a mesa e voltei pra cozinha. Estava tudo limpo ela deixou na mesa, um pão de dois dias atrás e uma copo de leite.

Esperei ela sair, e só então pude comer. Eu tinha três refeições por dia, aprendi desde que me entendo por gente, que sou apenas uma empregada. A senhora me deixa saber que tenho nove anos, aqui não tenho noção do tempo. Pois o mais longe que já fui, foi na sala de jantar. Enquanto terminava de comer, ouvi vozes alteradas e tremi. O senhor não estava em seus melhores dias, e vinha discutindo muito a senhora. Mas hoje havia outras duas vozes, bravas e irritadas.

O dia passou e no horário do almoço, as discussões foram altas eu não entendia o que estava acontecendo. Havia vozes diferentes das que vieram mais cedo, já na parte da tarde parece que tudo já estava bem. Pois as gargalhadas eram altas e procurei deixar tudo limpo, não queria ficar sem comer.

Estava descansando algumas batatas quando o senhor entrou na cozinha, minha respiração acelerou.

- Guarde tudo isso, entre no seu quarto e não saia - fiz o que ele pediu e quando estava indo para o quarto ele segurou meu rosto, me obrigando a olhar seus olhos - É um lixo, ninguém jamais irá amar você - cuspiu no meus rosto - Quando chegar o momento, eu mesmo irei te jogar onde você merece. Na lixeira, seu lixo!

Soltou meu rosto e riu de forma escandalosa, fui para meu quarto limpei meu rosto. Meus olhos se encheram de lágrimas, enrolada no meu cobertor dormi.

- VERIFIQUEM TUDO!

- EU SOU INOCENTE! NÃO SABIA O QUE ELE FAZIA, POR FAVOR.

Acordei assustada, havia barulhos e homens gritando. A porta do meu quarto foi ao chão e um homem de máscara, me olhou. Me encolhi no canto com medo.

- SENHOR, AQUI! - tirou a máscara e sorriu - Ei, tudo bem não irei machucar você. Vamos tirar você daqui, está machucada?

Neguei devagar, mas olhei pra minhas mãos havia feridas e estava dormente.

- Está com fome? - concordei - Porque não sai daí?

- Saia soldado - ouvi a voz de uma mulher e o homem me olhou sorrindo pela última vez, a mulher bonita apareceu - Segure minha mão meu bem, iremos lhe tirar daqui. Você gosta de boneca?

- O que é boneca? - perguntei pois não sei o que é.

- Nunca brincou? - neguei.

- O que é brincar? - do que ela estava falando. Cheguei perto dela e seus olhos azuis estavam cheios de lágrimas - Brincar machuca? Por isso está chorando?

- Não meu bem, brincar é bom. Quer ir embora daqui?

- Não posso, a senhora não vai deixar e se desobedecer irei ficar sem comer.

- Eles foi embora, nunca mais vai precisar viver aqui ou os ver.

- Então irei voltar pra lixeira? O senhor disse, que lá é meu lugar.

Segurei sua mão e sai, olhei ao redor vendo vários homens com coisas estranhas nas mãos, eles vestiam roupas pretas.

- Ouça meu bem, seu lugar é onde você quiser - ela me pegou no colo e fiquei incomodada - Tudo bem, vamos sair.

Grudei em seu pescoço, ela caminhou até a porta luzes vermelhas e azuis piscavam. Havia outras pessoas com coisas que piscavam nas mãos, o sol da tarde tocou minha pele e olhei pro céu alaranjado.

- É bonito.

- O que é bonito? - o homem que conversou comigo primeiro falou.

- O céu, com o sol assim.

- Nunca tinha visto?

- Da janela, não fica tão bonito - vi seu rosto enfurecer e me encolhi - Desculpa.

- Está assustando ela. Não precisa se desculpar querida, ele não está bravo com você.

Fiquei quieta, entramos em algo que começou a se mover. Saímos da fazenda que vivia, e no caminho me explicaram algumas coisas.

Eu fui traficada, quando era um bebê. Vendida. E que o senhor e a senhora eram pessoas más, e que agora estava segura. Não iria precisar fazer nada que fazia, que teria mãe e pai. Teria uma família, e que apenas precisava falar com o delegado. A moça me deu banho, vestiu uma rou quentinha em mim. Me deu leite morno, nunca tomei assim e confesso que gostei muito.

- Agora querida vamos falar com o delegado, tudo bem? Apenas conte tudo que viveu naquele lugar, eu irei segurar sua mão tudo bem?

Concordei e entramos na sala havia duas pessoas, sentei na cadeira e olhei o homem barbudo a minha frente.

- Eu sou o delegado Ris, e aqui está segura. Pode nos dizer seu nome?

Fiquei em silêncio.

- Pode dizer - ela disse e sorriu com carinho - Como eles te chamavam?

- Lixo - o homem me olhou com atenção - Eles me chamavam de lixo, então esse é meu nome não é?

A sala ficou em silêncio e vi algo nos olhos deles, era estranho as pessoas me tratar assim.

- Você gostaria de ter outro nome?

- Eu?

- É, qual nome você acha bonito? - ele perguntou.

- Não sei muitos nomes - olhei minhas mãos.

- Me fale os que você conhece.

- Senhora, senhor e nome de alimentos.

- Nunca leu outros nomes?

- Eu não sei ler e escrever, tudo que sei a senhora que me disse.

- Vemos isso depois, mas lixo você não é - sua voz saiu firme e concordei - Conte o que sabe e viveu naquela casa, pode contar sem medo.

Eu comecei a falar, e a cada palavra eu me sentia bem. Pelo simples motivo de saber que não veria eles nunca mais, e depois daquele dia minha vida mudou.





















Irei respostar Kairós, atualização todas as Sextas-feiras.

K Á I R O S ( Degustação )Onde histórias criam vida. Descubra agora