Ora! Que pensamento bobo! A cesta, o cromossomo do meu sangue, a mancha nas costas e a transmutação, por que iríamos nos surpreender com a revelação de como chegamos e saímos da Terra? Revirei meus olhos de incredulidade com nossa insistência em se chocar com coisas óbvias
Estávamos diante de um espelho retangular com borda preta pendurado por trás da porta do meu dormitório. Cecília, ainda não acostumei com o seu nome verdadeiro, por enquanto, a chamarei pelo nome que estou acostumada a chamar, estava murmurando em um idioma que não compreendi, mas no fundo acho que estava entendendo. Estaria eu tresloucada?
O reflexo do espelho, que antes espelhava minha amiga, eu por trás dela e ao meu lado estava Carlos, ondulou para uma imagem que parou de refletir, nela continha um quarto grande com paredes construídas por pedras que me lembram do miracema amarrado acinzentado, porém eram de tamanho muito, mas muito maior! Não deu para ver os detalhes, pois Cecília me pediu para eu pular no espelho assim que a imagem surgisse. Eu senti um frio na barriga, pular em um espelho como Alice atravessa na sequência de "Através do Espelho", muita coisa poderia dar errado, mas Carlos me cutucou com o dedo nas minhas costelas. Ele não iria comigo, por ser o meu tão esperado dia, mas em outro dia iremos nos encontrar, assim prometeu a intrusa. Cecília me deu espaço, então pulei, porém, foi de mal jeito! Estava eu caída no chão de madeira expressa gasta e Cecília passou por cima de mim, por pouco não tropeçou em mim, conseguindo se firmar em pé, me olhando de baixo.
- Torceu o pé, Karin?
- Não. Não imaginei que o chão seria mais para baixo - murmurei envergonhada. Ela me olhou como sempre, toda cativada como se nada abalasse ela, pronta para debochar como um diamante sendo lapidado, mas com toque especial: humor ácido. - Não fale mais nada! - implorei enquanto me levantava.
Por sorte eu estava de calça, senão teria ralados os meus joelhos, mas mesmo assim uns hematomas irão aparecer em um instante devido o contato com o chão após a queda. Arrumei o cabelo bagunçado, verifiquei as mãos que arderam com contato dos fios capilares, as palmas tinham sidos raladas, mas nada se comparava com o lado direito que estava pior. Cecília pegou a minha mão, na hora eu gemi de dor e ia soltar umas palavras feias, porém a dor se foi imediatamente. Quando a mão dela se afastou da minha, eu vi que a mesma palma, que estava sangrando, estava curada, uma pele novinha e brilhante estava diante de mim sem um vestígio de que machuquei há um instante, nem um sinal de cicatriz. Minha cabeça estalou, comecei a entender, a concussão tinha ido embora quando ela fez carinho na minha cabeça quando eu saí do banho, e isso me lembra de outros momentos como a febre que raramente eu tinha, mas quando eu acordava doente não durava, porque eu recebia a visita de Cecília. Então, eu não tinha saúde de ferro, o tempo todo era ela me curando!
- Sou bruxa e feiticeira, Karin. Quando digo que sou bruxa quero dizer curandeira, e feiticeira por ser filha da natureza. Já deixo claro que não fui parida no meio das florestas - ela explicou rapidamente, e tenho certeza que ela lê meus pensamentos. - Posso te explicar melhor em outra hora, os seus pais te esperam. Vamos?
Parecia que ela estava brava ou incomodada, mas era apenas o seu jeito de ser quando não queria ficar se justificando para as minhas infinitas perguntas. Normalmente ela tem paciência para tudo, mas hoje é uma outra ocasião e sei que ela vai esclarecer tudo depois. O momento mais esperado da minha vida, o momento mais oportuno que não pode demorar mais, então eu a compreendia.
Enquanto eu concordava, ela me explicou que o aposento em que nós nos encontrávamos era o meu quarto, mas meus pais estavam em outro cômodo, este cômodo que estávamos era simples e remete bem à decoração medieval. A cama era feita de uma madeira, certeza que é maciça, bem trabalhada, esculpida com detalhes impressionantes. Simplesmente era uma cama com dossel, igual aquelas cenas de filme em que vemos as rainhas parindo seus filhos, coberta de voil de baunilha. Então, eu fiquei impressionada que este é meu canto, queria saborear um pouco, inclusive tocá-los, mas Cecília me puxou e precisei voltar para a realidade.
Caramba! Eu estava para conhecer meus pais e eles viviam em uma era medieval! Tentei controlar os meus pensamentos, o frio na barriga e comandar as minhas pernas a andarem, tudo isso ao mesmo tempo, e comecei a suar frio. O espelho estava pendurado na porta, ele não era idêntico ao meu espelho do outro lado, pois este tinha a borda com acabamento em curvas entalhadas e tingida de bronze, que lembra a era medieval mais uma vez. Carlos não estava no espelho, mas é claro que o espelho fechou assim que atravessamos.
Cecília abriu a porta grande de madeira de canela e tenho certeza de que ela não usou a mão para abri-lo, pois eu tentei fechar a porta com uma mão, mas era muito pesada! Portanto precisei usar as duas mãos e fazer um esforço a mais para puxar a maçaneta banhada de ouro, e garanto que não vi este esforço na bruxinha, e claro que com a força, a batida ecoou pelo corredor sombrio. Cecília me olhou com reprovação, eu só sorri amarelo para ela e logo fiquei impressionada com o corredor, a passagem fazia uma curva longa e era coberta por um tapete vermelho marsala, os detalhes eram em amarelo ilustrado por uma mandala. Havia arandelas de paredes, tenho certeza de que eram feitas de aço pintado de preto. O que eu achei estranho era que o ambiente denota ser uma era medieval, porém as arandelas eram feitas de vidro transparente e eram vistos nelas lâmpadas amarelas.
Na era medieval ainda não existia a lâmpada, tenho certeza absoluta da informação histórica. Do nada, no meio da minha testa, eu senti uma leve pressão, isso aconteceu quando eu olhei para o brilho pendurado. Não era uma dor, parecia com uma cutucada de leve, e pega pela surpresa da sensação parei de andar e isso fez com que Cecília se virasse para mim. Antes de ela me apressar, ela percebeu a minha careta, me perguntou o que ocorria e eu descrevi o sintoma, e naturalmente ela colocou a palma na minha testa, numa tentativa de curá-lo, mas o incômodo não passou.
- Impossível! - ela realmente estava espantada. Expliquei-lhe que não era uma dor específica, era uma sensação, talvez por isso a tentativa de me curar não estava funcionando. Tentei não deixá-la aborrecida com a incapacidade de curar este incômodo, porém não deu certo, ela aparentava indignação incrédula. - Mas que sensação é esta?!
Realmente eu não sabia descrever melhor do que já tinha explicado, pedi-a para que continuasse andando e talvez o incômodo passasse, porém não passou. Mas não estava interferindo na minha capacidade de andar e enxergar, então estava tudo bem, por enquanto, creio eu. Durante o passeio pelo corredor, vi portas iguais a do meu quarto, até chegar a uma. No meio das portas passadas vi uma porta maior que as demais, concluí que era um cômodo especial, sei que vou ter tempo para explorar a esta porta gigante depois.
Paramos de andar e a bruxa bateu forte a porta, com certeza o material exigia tal força. Eu não ouvi ninguém responder, mas minha amiga abriu a porta mesmo assim, então entrei acompanhando-a por trás. Observei rapidamente, o quarto era idêntico ao meu, porém havia uns detalhes diferentes, por exemplo, do meu lado direito estava a penteadeira e a mesa de escritório com luminária de chão moderno, totalmente fora do tema medieval aparentemente, e na minha frente, para o lado esquerdo, se via uma cama com dossel, a pequena mesa de centro e as duas cadeiras ocupadas por pessoas. Quando percebi as duas presenças, minha visão ficou turva, acho que a minha pressão caiu. Cecília, como sempre previa qualquer dano à saúde corporal, segurou o meu braço esquerdo, tenho certeza que era para ajudar a minha pressão, pois em seguida me senti ótima, não suava mais inclusive. Eu devo estar dando um trabalho danado para ela cuidar de mim hoje.
- Oh, Karin! - sem dúvida é a minha mãe. Sua voz é aguda, demonstrando espanto e alegria simultaneamente. Ela deixou a xícara de porcelana branca na mesa de centro e se levantou andando para me abraçar. Seu abraço era firme e caloroso, ela cheirava a um aroma floral suave, sua cabeça se encontrava embaixo do meu queixo. Quando ela me olhou, percebi que eu sou a cópia dela. Apesar de eu ser mais alta e seu cabelo ser long bob, a cor do capilar era idêntica à minha, havia uns fios grisalhos quase imperceptíveis, até o formato do rosto e a cor dos olhos são como o meu, porém com leve rugas ao redor dos olhos e havia uns indícios leves também na testa. Uma versão mais velha de mim!
Fiquei a olhando, sem emitir uma palavra, e ela permitiu que eu apreciasse a sua beleza. É o rosto da minha mãe, eu sonhava infinitamente em como ela era, me perguntava se eu puxei a beleza dela ou a do meu pai, e agora eu sei a quem puxei. Senti o aperto de carinho da mão dela nos meus cotovelos, enquanto as minhas mãos seguravam os dela.
- Mãe - murmurei. Sophia assentiu com os lábios apertados, porém gentil.
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O Destino de Karin
FantasyHá uma profecia que revela que um dos filhos do rei irá desruir a paz mantida por ele e que o outro filho do mesmo com uma marca de nascença irá impedir, em uma batalha contra seu inimigo de sangue. Eu sou aquela com a marca de nascença e meu nome é...