Capítulo 13 - Nanon

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Acordo com uma luz forte no meu rosto, olho pela janela e vejo um anjo voando do lado de fora, eu penso no que fazer, mas seria fácil para ele entrar aqui, não quero arriscar a segurança do Ohm, então levanto, me visto, vou para a sala e abro a janela. O anjo se aproxima devagar e sorri para mim.
- Faz muito tempo meu amigo!
- Tempo demais, Tawan, o que você está fazendo aqui?
- Você já sabe que é um anjo da guarda, não sabe?
Eu não respondo, apenas espero.
- O céu tem ordens para você.
- Eu não tenho nada a ver com o céu há cinco mil anos.
- Você sabe como as coisas funcionam, Nanon, existe uma hierarquia a ser seguida, você é um anjo novamente, está na hora de se conectar com o céu.
- Eu não sou um anjo, não sou um anjo da guarda e não vou aceitar comandos do céu, eu fui expulso e não quero voltar, então pode falar para quem estiver no comando que eu mandei ele ir se foder com as suas ordens.
Ele me olha ofendido e em choque, eu começo a fechar a janela e ele fala alto.
- Nós podemos matar ele, Nanon!
Eu paro e encaro ele por alguns segundos.
- Se Deus quisesse ele morto não teria devolvido as minhas asas. Vocês vão mesmo contra a vontade dele?
Ele me olha em choque, eu sorrio e fecho a janela, vou para o quarto e fecho a cortina, posso não conseguir impedir que ele entre, mas posso impedir que ele nos veja do lado de fora.
Deito ao lado do Ohm e cubro ele, pego o livro em aramaico que o Mark trouxe e começo a ler, tenho quase certeza que os anjos não vão fazer nada com o Ohm até saberem o que aconteceu de verdade, mas não vou arriscar.
Quando começa a amanhecer eu já não estou mais aguentando ficar acordado, vou até a janela e olho para fora, não vejo o Tawan em lugar nenhum, então fecho bem a cortina deixando o quarto escuro e me deito, o Ohm vira e me puxa para deitar no seu braço, fecho os olhos e durmo.
Acordo com o interfone tocando, o Ohm também vai acordando aos poucos, ele me olha e sorri.
- Bom dia, anjo!
O interfone toca mais uma vez e eu o beijo.
- Bom dia!
Eu levanto, vou até a sala e atendo, o porteiro avisa que o Mark está lá embaixo, eu peço para ele liberar o elevador para ele poder subir.
Volto para o quarto e o Ohm está sentado na minha cama.
- Me diga que era engano e você vai poder voltar para a cama.
- É o Mark...
Ele me olha irritado, não entendo porque ele não gosta do Mark. Eu vou até a cama e o beijo, ele começa a beijar o meu pescoço e desliza as mãos pelas minhas costas por baixo da minha blusa, quando toca a minha asa suspira, eu me afasto e tento entender o que aconteceu.
- O que foi?
- Você não tem mais a cicatriz...
- Qual o problema?
- Eu gostava quando você sentia o que eu sentia e ficava excitado.
- Agora eu não preciso mais disso, só de estar perto de você eu já fico excitado.
Ele sorri, segura o meu rosto e volta a me beijar, o elevador faz um barulho quando para, eu me afasto e ele suspira mais uma vez.
- Vai demorar?
- Não sei o que ele quer. Vem comigo?
Está escrito na cara dele que ele não quer, mesmo assim ele levanta e se veste rápido.
Nós vamos para a sala e o Mark que está sorrindo fica sério, se aproxima, anda a minha volta e para atrás de mim, quando segura a minha camiseta ouço ele gritar.
- Ai! Ai! Vai quebrar! Nanon, vai quebrar!
- Ohm?
Ele solta a mão do Mark fazendo ele cair a quase dois metros de distância, olha pra mim irritado mais uma vez.
- Se ele te tocar eu quebro cada um dos ossos dele.
Eu olho para ele e para o Mark, ele olha para o Ohm com medo, enquanto massageia a área que o Ohm segurou.
- Você disse que recuperou as asas.
- Sim.
- Você perdeu de novo?
Eu nego, fecho os olhos e me concentro.
- Wow!
Eu abro os olhos e o Mark levanta animado, ele da um passo na minha direção e depois vai para trás. Eu viro para o Ohm, sorrio para ele, guardo as asas tiro a camiseta e invoco mais uma vez, olho para a camiseta na minha mão e suspiro, devia ter feito isso desde o começo, se continuar desse jeito vou precisar de muitas roupas. O Ohm revira os olhos irritado e tira a própria camiseta dando ela pra mim, na hora eu me irrito e por fim entendo o que está incomodando ele. Recolho as minhas asas e visto a camiseta dele, ele me beija e vai para o quarto, viro para o Mark e aponto para o sofá.
- Porque você veio?
- Fala sério, Nanon, você pode me contar que virou um anjo de novo e não querer que eu venha ver.
- Você não pode ficar vindo aqui, é perigoso.
- Tá falando isso por causa do anjo que apareceu ontem?
- Que anjo?
Eu olho para o Ohm voltando e olhando irritado mais uma vez.
- Um outro anjo da guarda, ele queria que eu me conectasse ao céu para receber comandos.
- É por minha causa, não é? Porque você é meu anjo da guarda?
- É por eu ter voltado a ser anjo, mas eu recusei.
Ele fica visivelmente aliviado, então eu viro para o Mark.
- Não é só por causa do anjo, tem outras criaturas nos perseguindo, quando descobrirem que recuperei a minha asas pode ser pior, então evite ficar vindo aqui.
- Ok, entendi, mas eu trouxe uma coisa pra você.
Ele vai até perto do elevador onde ele deixou um livro cair e vem até mim.
- O abade mandou pra mim é um livro de poesias, tem uma sobre um anjo e um Nefilim.
Ele abre o livro e me dá, eu leio a poesia que ele aponta

Numa história antiga e carmesim,
Um Anjo caído e um Nefilim,
Uniram seus corações em um só.
Um amor proibido, que só cresceu.

No Céu, ele brilhava tão radiante,
Ele, escuro demais, exilado distante.
Mas no encontro destinos se fundiram,
E essa paixão inefável surgiu.

Em almas condenadas à solidão,
Encontraram refúgio, união.
Nas asas do Anjo, amor floresceu,
Nos braços do Nefilim, fortaleceu.

Mas o mundo, cruel, invejou o tal feito,
E conspirou para separá-los, sem respeito.
Em lágrimas, o céu se derramou,
Enquanto a terra, em luto, vagou.

Eles enfrentaram essa batalha sombria,
Porém, a triste sina do destino se via.
Como duas estrelas ardendo no céu,
Juntos tombaram, em triste papel.

Hoje, suas almas ainda entrelaçadas,
Eternamente unidas, são lembradas.
O amor verdadeiro não conhece fim,
No trágico destino da luz que encontra seu dono enfim.

Eu leio duas vezes e não gosto nada disso, o Ohm se aproxima para ler e eu sorrio para ele.
- O que você acha de irmos visitar a sua família hoje?
Ele me olha desconfiado.
- Eu vou ligar para o meu bisavô.
Eu concordo e ele sai.
- Posso ficar com isso?
- Pode, mas Nanon...
Eu nego com a cabeça para ele não falar, eu sei o que ele vai dizer, o poema parece muito com a nossa história.
- Eu sei que prometi te levar para conhecer a vila dos Nefilins, mas vai ficar para a próxima, tudo bem?
Ele suspira e concorda.
- Eu vou indo então.
- Tudo bem.
Eu vou com ele até o elevador.
- Mark, muito obrigado e tenha cuidado.
- Você também, Nanon, tenha muito cuidado.
Ele entra no elevador, a porta fecha e eu leio o poema mais uma vez, isso parece muito com um presságio de morte pra mim.

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