𝟬𝟮. 𝗣𝗼𝗿ã𝗼

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Era de se esperar que muitas lágrimas tomassem o lugar do brilho das pupilas escuras, que viu assim que a dona delas retomasse a consciência e se visse em um local empoeirado, dividindo espaço com coisas que não eram mais usadas, sobre um colchão velho sem lençol.

Não era um lugar propício para uma pessoa como Galeine, mas o mascarado não contava que seria surpreendido com a vontade incontrolável por algo maior que sujar facas e gastar a substância caseira que usava para sufocar suas vítimas, o prazer estava em vencer, sentir ter o controle da vida de alguém nas mãos.

Ele não teve tempo, e de algum modo, pensava muito sobre aquilo, enquanto deslizava suavemente o pano úmido na face delicada de Galeine. A morena adormecida, se quer sentia ter a pintura de seu rosto retirado, com cautela e nenhuma pressa, ele observava todos os detalhes presentes em sua face.

O modo tranquilo como respirava, sem previsão de acordar, tinha seus reais traços descobertos e respondendo as dúvidas dele do porque ela pareceu tão interessante, jamais manteve nenhuma de suas vítimas vivas por mais que três dias mas ela, seria a primeira exceção. Tudo dependia muito de como iria se comportar ao se dar conta de que estava muito longe da cidade, pelo menos dos locais que conhecia.

A pacata cidade, ainda que fosse pequena, tinha residências e comércios desativados, com donos falecidos ou preguiçosos demais para alugar ou vende - los, que quase não eram lembrados, não passavam de um detalhe que só eram percebidos para quem vinha a passeio ou pegava a estrada, com o entusiasmo de realizar uma boa viagem.

A casa situada em um bom lugar para quem não se importava de estar em silêncio, um silêncio que podia ser perturbador para quem não o usasse com inteligência, para quem não tinha o que refletir, e para quem não planejava ficar ali por muito tempo. Não era o caso, da figura de cartola, o homem que quase nunca sentia frio, sempre estava fazendo algo, seja recolhendo as folhas secas da frente da casa esquecida pelos outros moradores ou arrumando qualquer coisa que precisasse de conserto.

Raríssimas vezes retirava a máscara que escondia o formato de seu queixo e a largura dos seus lábios, cobrindo até mesmo alguns centímetros do nariz bem desenhado, e que certamente fazia parte da beleza que não era vista pelos olhos dele. Precisava de algumas coisas porém não podia sair para comprá-las, não antes de ver quais emoções que poderiam ser expressadas por Galeine.

O cantar do pássaro no galho da árvore, próxima a janela, tornava-se irritante ainda que fosse belo e agradável de se ouvir, a repetição da melodia trazia a morena de volta pouco a pouco, seu corpo recuperava os sentidos e logo constou estar sobre algo não tão confortável, que continha molas e que não estava tão limpo nem parecia estar ali recentemente.

Abrindo as pálpebras, sentindo as vistas ainda duplicando o que havia em sua frente, tentava comprimir os olhos, levantando parcialmente o corpo do colchão, manteve o apoio no braço  direito, descobrir onde estava não foi sua preocupação inicial mas se recordar do porque se sentia tão mal, com o insuportável cansaço e indisposição.

Correu os olhos para as duas prateleiras de ferro alguns metros de onde estava, cheias de objetos empoeirados. Havia poeira em tudo ali, a sujeira do chão começava a preocupa-la, pois era um ambiente favorável para insetos, tudo o que ela mais temia.

Encolhendo-se, observando todo o chão em busca de algo que se movimentasse ou que pudesse ter estado próximo ao seu corpo, aquilo pareceu ser mais assustador antes de tomar consciência do que acontecia. Galeine já não conseguia respirar com a mesma calma de minutos atrás, já começando a se dar conta, de que não se lembrava de como foi parar naquele lugar, se quer da noite passada.

O desespero subia a garganta, era possível senti - lá seca sem ser a sua, os olhos cada vez mais apressados, em busca de um mísero detalhe que respondesse todos os questionamentos que, passavam pela sua mente naquele momento, Galeine começava a sufocar - se com o próprio medo, sentindo - se incapaz de pensar e reagir.

𝗗𝘂𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲 𝗮𝗼 𝗱𝗲𝗰𝗼𝗿𝗿𝗲𝗿 Onde histórias criam vida. Descubra agora