𝟬𝟯. 𝗣𝗿𝗶𝗺𝗲𝗶𝗿𝗮 𝗧𝗲𝗻𝘁𝗮𝘁𝗶𝘃𝗮

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A ausência de qualquer ruído fazia Galeine pensar que estava sozinha, mal conseguia ver muito pela grade da janela, nem ouvir pela espessura grossa da porta. Dando passos repetitivos a algumas hora, tudo o que conseguiu buscando algo que pudesse usar contra o homem foi uma caneta sem tampa.

A morena não queria subestima - lá, muito menos a si mesma, em como usa - lá a seu favor, a tensão que a dominava, era pela espera de realizar o que poderia ser a única tentativa que a tiraria de lá, se a executasse corretamente como visualizou. As horas que a deixou sozinha, pareciam ser mais do que eram, cada minuto um mais angustiante que o outro.

Galeine, sentia estar a espera de algo, que se quer sabia o que era, não havia exatamente nada para fazer naquele porão, e aquele nada era o mesmo que predominava na mente do mascarado, em relação a não saber o que fazer com ela, em como daria seguimento, ao que devia terminar em um cadáver como os outros.

Ele não conseguia imaginar cravando uma faca em qualquer parte do corpo dela que a levasse a óbito, havia algo em Galeine que a tornava intocável para qualquer tipo de brutalidade que quisesse usar. E isso, era o mais assustador do que já foi capaz de fazer, ouvindo o tremor do garfo sobre o prato branco, ele deixou a garrafa de limonada no chão para abrir a porta.

Ouvindo o trinco soltar - se, Galeine sentiu o coração disparar, sabendo que o momento que tanto aguardou seria aquele, ajeitou - se sobre o colchão, escondendo a caneta em baixo da barra da saia que cobria seus joelhos. Em silêncio, ele provavelmente seguiria o mesmo esquema, de não dizer nada, a única diferença era que desta vez, trazia comida.

O cheiro do ovo se espalhou, ela reconhecia o aroma e ainda que estivesse com um pouco de fome, aquilo não atiçava seu desejo de comer, o vendo se aproximar, ela olhava apenas para o prato e a limonada gelada na mão esquerda dele:

- O que é isso? - ele entregou a ela, o ovo mechido que havia acabado de fazer e a limonada, Galeine segurou a garrafa sentindo escorrer a leve camada de gelo que ainda estava ao redor da mesma, detalhe que a fez vê - lá como mais uma arma, afastando - se, ele aproximou - se do degrau da porta - Eu não como ovo

- Vai ter que comer - respondeu, antes de se sentar

Ele queria assisti - lá comendo, embora visse no canto dos lábios dela o quanto parecia se enjoar com o que estava no prato, ela não conseguia disfarçar o quão repugnante era, respirando fundo, deixou a garrafa ao lado, movendo os pedaços do ovo mechido com o garfo sem a intenção de comer.

Demorou alguns segundos, para colocar uma quantidade no mesmo e entre os pedaços um resquício escuro do que poderia ser tempero. Engolindo um seco, sabia que aquela era a razão que usaria para atrai - lo para perto porém, precisava ser convincente de que havia algo realmente errado no prato.

Ele sabia o quão bem cozinhava, nunca precisou refazer uma comida, o centro das sobrancelhas dela franziram e seus olhos se fixaram em um único ponto, de onde estava, ele a observou, querendo conseguir entender  sem ter que perguntar :

- Algum problema? - a voz dele a arrepiou, a lembrando de que podia haver um lado que ela não gostaria de conhecer, o timbre abafado e um tanto forte, ouvida de repente, quando não estava esperando conseguiu a atenção dela

- Tem alguma coisa aqui - tremia por dentro, temendo não conseguir que ele se aproxima - se e ter que comer aquilo

- Impossível - ele se lembrava de como preparou exclusivamente aquela refeição, do quanto, de algum modo preocupou - se em agrada - lá e jamais deixaria um equívoco qualquer acontecer

- Tem, pode por favor..... - sentia a mão que segurava a caneta trêmula, escondida, ela apoiava o prato na mão esquerda mantendo a direita abaixo, ajeitou - se, colocando os pés fora do colchão , de um modo que facilitasse seu levantar - .... ver, por favor

O modo doce como pediu o fez considerar, demorou alguns segundos para esboçar alguma reação, a fazendo pensar que ignoraria seu pedido, ele conseguia intimida - lá apenas pelo olhar nos poucos metros de distância que foram diminuindo com sua aproximação, ela não fugia de seus olhos mesmo que quisesse.

Tentando normalizar a respiração para que ele não percebesse seu nervosismo, agachou em frente a ela, desviando seu olhar um pouco depois de tentar encontrar o que era apontado como estranho no simples ovo mechido. Ela não podia pensar muito, ou acabaria não fazendo o que havia pensado, segurou a caneta o mais forte que pode, com a certeza de que a mesma não escaparia de sua mão mas que seria cravejada no pescoço do mascarado.

Ele usava uma blusa vermelha por baixo da camisa preta, o que dificultaria a visão de seu pescoço pela gola, mas ela não podia se dar ao trabalho de deixar que aquilo a atrapalhasse. Desviou os olhos do prato para ele, sua presença parecia roubar todo o ar que ela pudesse inspirar, era capaz de fazê - lá se esquecer do que tinha que fazer, não sabia quem ele era, nem do que era capaz ou qual seria sua reação se falhasse.

Dos dois, ele foi ingênuo, dando a ela três possibilidades de derrota - lo antes mesmo de completar dois dias. Primeiro, dar a ela as costas e deixar a porta entre aberta, segunda, lhe entregar o garfo e uma garrafa de vidro e terceiro, se permitir ser induzido sobre haver algo de diferente na comida.

Antes de dizer aquilo a ela, Galeine não viu seus lábios moverem - se através da máscara ao mesmo tempo em que tomou a coragem de enfiar a caneta em qualquer lugar próximo ao pescoço e o ombro dele, não sabia se havia ido fundo o suficiente mas, sabia que precisava aproveitar o momento.

Galeine se levantou após golpea - lo, deixando o prato sobre o chão e correndo até a porta. A rapidez do instante, apenas permitiu ao mascarado sentir algo penetrar sua pele e causar uma leve dor que apenas lhe mostrava que o fato de ser suportável, era pela inesistência de gravidade.

Retirou a caneta, levando a mão no local para impedir a saída em quantidade de sangue, enfurecido, respirou fundo e se levantou, sem pressa para persegui - lá. Sem saber qual caminho tomar, a casa tinha vários cômodos, mas eles não a confundiram e nem tornaram difícil  encontrar a saída, vista logo após passar pela cozinha.

Sem olhar para trás, ela correu o mais rápido que conseguiu, passando por um breve corredor, por um sofá e chegando a porta transparente, com visão para o lado de fora. O dia estava nublado como constou dentro do porão, puxando a maçaneta da mesma, o cadeado com numeração estava no trinco que a impedia de abrir.

O que lhe fez colocar para fora tudo o que sentia através do ruído, de um grito cheio de medo do que aconteceria agora, forçando o cadeado, ela pareceu ter visto a mão do mascarado surgir em sua barriga e gruda - lá em seu corpo, a puxando para trás.

Recusando a soltar a maçaneta, a única coisa que conseguiu se agarrar, Galeine sentia seus pés fora do chão, enquanto se debatia contra os braços que tentavam controla - lá, se quer ouviu os passos dele se aproximando mas de algum modo, ele a alcançou muito rápido.

Se não fosse o cadeado, teria corrido e talvez se escondido em qualquer lugar que conseguisse, mesmo que dificulta - se que ele tivesse o controle de seu corpo ainda assim, ele conseguia leva - lá consigo. Ele não teve tempo de demonstrar sua fúria, o que sentia depois de ser surpreendido por aquela feroz tentativa de fugir.

O que o fez ver, não ter razões óbvias para mantê - lá ali, de volta a cozinha, ela conhecia aquele caminho que a levaria de volta ao porão, virando - se de frente para ele, passou a suplicar para que não a levasse  para lá:

- Não, não, por favor..... por favor não me leva de novo para aquele lugar - impulsivamente segurou firme no tecido da camisa que ele usava, sentindo os dedos deslizarem pelo tecido liso - ... não me deixa lá, me desculpa, eu não faço mais isso, eu não faço mais..... - vendo a forma como tentava fazê - lo ouvi - lá, tendo o rosto dela quase contra seu peito e abaixo de seu queixo, pela forma como se encaixava ele passou a diminuir os passos  - .... me desculpa, me desculpa, eu não quero ficar lá, lá tem insetos por favor

𝗗𝘂𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲 𝗮𝗼 𝗱𝗲𝗰𝗼𝗿𝗿𝗲𝗿 Onde histórias criam vida. Descubra agora