Realizou suas tarefas de casa ainda na parte da manhã. Já que por sorte não era muito e hoje não tinha aula. A mãe fora trabalhar e o irmão seguia ainda ausente. Ele costumava avisá-la rm situações assim, mantendo segredo da mãe e isso evitava sua preocupação, ainda que não soubesse de detalhes, um mero aviso era comum, algo como: "Vou ficar fora dois dias". Mas desta vez não foi o caso. Não estava preocupada na verdade. Mas ao ver como Suzan estava afetada, a fez sentir frustração com a atitude do caçula. Por um tempo tentou se lembrar onde ele poderia estar, ou se havia dito algo. Nos dias anteriores não haviam falado muito, mas também nada fora do comum. Ainda assim, não lembrava de nada que tivessem falado que indicasse onde estaria. Fato era, teria que discutir seriamente com o irmão. Ele não sairia impune. Seria uma conversa difícil, que já estava adiando há algum tempo. Ele tinha que crescer.
Se convencendo de que não poderia fazer nada, tomou uma ducha rápida e se vestiu para sair um pouco e aproveitar a tarde. Escolheu uma blusa preta, simples, leve e confortável e uma calça jeans. Escovou os longos cabelos loiros e saiu com ele solto. Seguiu pela rua em direção ao parque. Não tinha compromissos hoje e isso era bom. Queria pensar na vida e tentar esquecer um pouco dos problemas. Estava sozinha, a rua deserta como sempre. Essa era uma vantagem de morar em uma cidade pequena, a calmaria era reconfortante. Não sabia como seria se morasse em uma cidade grande, mas era algo que desejava conhecer. O verde que decorava as calçadas não chamava a atenção, mas hoje ao caminhar sem pressa, observava tudo em detalhes, caminhou reparando as árvores, flores, os arbustos, não apenas em sua rua, mas em praticamente toda a cidade, o cenário era muito belo e trazia uma imensa tranquilidade, a prefeitura era tinha esse mérito, funcionários cuidavam de forma minuciosa desde as pequeninas plantas, até as grandes árvores.
Olhou a casa, agora já afastada, era possível visualizar o azul claro do céu que a cobria. Sabia que a casa era pequena, mas confortável e atendia a tudo que sua família necessitava. Mudaram algumas quadras, após a perda da avó. E sua lembrança era bem-vinda, sentia falta de ouvir novamente alguma daquelas histórias repetidas. Hoje teria muitas para ela mesma contar a simpática senhora.
Ao se aproximar da esquina, notou sobre o último arbusto da rua, uma ave daquela mesma espécie que vira na noite anterior. Agora, dia, a coloração pareceu ainda mais chamativa. Seu corpo todo coberto por penas em um tom de azul intenso. Notou o peito coberto por um azul mais claro, parecido com o mesmo tom do céu que acabara de reparar. O bico cinza era fino, o que a tornava ainda uma ave ainda mais diferente. Seu corpo todo deveria medir cerca de 15 a 20cm de altura. Sem pensar duas vezes sacou o celular e disparou outra foto. Desta vez, conseguiu uma imagem mais nítida, apesar da ave não estar em um excelente ângulo, então tirou outra e mais outra. Pesquisou brevemente a espécie na internet. Azulão. Uma ave bastante arisca. Uma foto como essa, pareceu então rara. Não tinha por hobby fotografar nada, mas não tinha mais nada a fazer. Voltou a verificar as imagens, ainda não satisfeita com o resultado, mas notou algo estranho. Passou para a foto seguinte, estranho novamente, e assim por diante. Curiosamente, o azulão tinha os olhos fechados. Não era possível. Dormia, em plena luz do dia, tranquilamente. Mas isso era muito estranho. Que pássaro dormia de dia? Ainda mais um arisco como esse? Tornou a erguer o celular e foi se aproximando lentamente. A rua continuava deserta ao redor. Estava cada vez mais próxima. Era inacreditável. A cada passo que dava, podia enxergar melhor as cores do mesmo. Conseguiu uma foto perfeita. Viu o minúsculo corpo inflar com a respiração, o peito se encher e se esvaziar. Mudou a função da câmera para filmar e iniciou a filmou, ainda incrédula.
Pensou em quanta beleza havia no mundo que ainda não conhecia. Mostraria depois o vídeo a sua mãe. Não sabia o que a mãe acharia, mas era algo diferente de se ver. Passados alguns segundos, algo quebrou o silêncio. Em alguma das casas da rua, ouviu-se o bater de uma porta. Alguém sairia de casa. O som não foi tão alto, mas foi suficiente para acordá-lo. Ainda mais estranho foi o que se seguiu. O celular continuava filmando, enquanto o pássaro permanecia no mesmo lugar. Lentamente pareceu estar despertando, abriu o bico e esticou-se, quase esboçando um bocejo. Então, olhou sua volta, finalmente se dando conta da humana o observando. Ele se assustou e abriu vôo em seguida. Um sorriso brotou em seu rosto. Finalizou a gravação. Correu através da rua e seguiu rapidamente até o parque. Avistou algumas duas garotinhas, imaginou que teriam por volta de 5 anos, as mães conversavam enquanto as duas brincavam num escorregador. Não as conhecia, afinal só saia de casa para trabalhar ou ir ao cursinho. Dias iguais a hoje eram raros. Sentou-se em um banco logo no início do parque e voltou a olhar o celular, precisava ver aquela gravação.
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O legado de Rhognar
AdventureLilian é uma jovem cheia de incertezas sobre seu futuro, que em busca de respostas pelo desaparecimento de seu irmão, mergulha em um universo de possibilidades que incluem elfos, fadas, magos, demônios entre outros seres capazes de revirar tudo o qu...