Capítulo único

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— Alô, poderia falar com a Luísa? — disse um homem rapidamente.

— Sou eu mesma — respondi sem pensar.

— Verificamos que você é o contato de emergência de Roberto Alves, está correto?

— Sim, ele é meu noivo, o que aconteceu? — respondi preocupada.

— Ele acabou de ser trazido para o hospital Albert Einstein depois de um acidente no trabalho. Venha vê-lo assim que possível.

Ainda estava no trabalho, mas nem pensei duas vezes, só peguei minhas coisas e fui ao hospital encontrá-lo. Chegar lá pareceu demorar uma eternidade, o Uber demorou para chegar e quando finalmente estava no carro pegamos um congestionamento. Ao descer no hospital fui direto ao balcão de informações e após explicar o porquê vim e averiguar minha identidade, a recepcionista me deixou subir.

O silêncio no andar que ele estava me deixava cada vez mais nervosa. Sabia que ele trabalhava em algo novo, mas nunca pensei que pudesse ser perigoso. Ele estava exultante por trabalhar com o agora conhecido pólen feérico. O que será que aconteceu? Como ele está? Vou poder levá-lo para casa? Ou só me chamaram aqui para... Cala boca cérebro.

Após pedir informações, descobri que ele estava no quarto 42. Encontrar o quarto foi fácil, difícil foi quando ouvi o médico dizer antes que eu entrasse:

— Soube que ele tem uma noiva, coitada, perder alguém sem perder completamente é uma das piores coisas que vejo por aqui — falou em tom de pesar.

Para fingir não ter ouvido nada esperei alguns segundos no corredor e então entrei no quarto. Após explicar quem era, o médico, que descobri ser um psiquiatra, me contou o que aconteceu.

— Quando ele foi trazido para cá, estava bem agitado, apontava para as paredes e pedia que o deixassem em paz. Seus colegas de trabalho disseram que ele teve contato com a substância em que estão trabalhando e que os sintomas começaram em seguida. Não conseguimos conversar com ele e como não se acalmava, o medicamos. Esperamos que você consiga conversar com ele, para obtermos mais detalhes sobre o caso.

— Então vocês não sabem o que ele tem? — perguntei perplexa.

— Nós fizemos tudo o que podíamos. Vou te deixar com ele, se quiser nos ajudar me avise — disse já saindo do quarto.

O mundo parecia girar a minha volta, me sentei em uma cadeira ao lado dele e segurei sua mão. Ele parecia tão calmo deitado ali, poderia acordar a qualquer segundo e dizer que estava tudo bem e iríamos para casa. Depois de alguns minutos decidi que faria o possível para ajudar.

Assim que o médico soube, voltou ao quarto, desta vez acompanhado por uma enfermeira.

— Diminua o sedativo devagar — disse dirigindo-se a enfermeira. — Veremos como ele reage a sua presença — continuou, agora para mim.

Assim que ele abriu os olhos comecei a falar com ele, no início parecia tudo bem, mas logo começou a olhar em volta apavorado. O médico quase o colocou para dormir novamente, mas não deixei. Segurei o rosto do meu noivo bem firme com as mãos e disse:

— Olha pra mim. Você sabe quem sou eu, certo? — perguntei firme. Ele segurou meus braços, e por um segundo, achei que ia me mandar para longe, mas apenas os segurou como uma criança segura nos pais quando está com medo.

— Sim — respondeu a contragosto, ainda tentando olhar em volta.

— O que está acontecendo? O que você vê? — insisti.

— Não dá pra explicar, são muitos.

— Muitos o que?

— Seres, bichos, coisas. Me solte por favor, eles estão olhando pra mim, faz eles pararem, eles estão vindo para mim, não sei o que eles querem — respondeu ele num pavor crescente.

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