Capítulo 17 - Nanon

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Acordo com aquele mesmo arrepio incômodo que eu sinto quando algo ruim está perto de acontecer, olho para o lado e o Ohm está dormindo, levanto com cuidado e saio, coloco uma calça e vou até a janela, invoco as minhas asas e saio, subo até onde ninguém vai poder me ver e começo a sobrevoar a cidade, alguma coisa está errada, contei três gárgulas e pelo menos cinco cães do inferno, todos próximos ao bar que o Ohm toca.
Uma luz forte surge, me cega e eu paro.
- Até quando você acha que vai conseguir lutar sozinho, Nanon? Você acha mesmo que vai conseguir proteger ele?
Eu olho para o Tawan sorrindo para mim, como se soubesse de algo que não sei.
- Eu sou o anjo da guarda dele, essa é a minha função.
- Achei que não fosse um anjo da guarda.
- Não sou um anjo do céu, sou dele e apenas dele.
- O que aconteceu com você, Nanon? Porque você é tão estranho? Foi por causa dessas coisas estranhas que você faz e fala que você foi expulso do céu.
- Eu fui expulso por não concordar em destruir uma cidade e poupar um humano, vocês distorceram dizendo que eu estava questionando as ordens e queria que o humano morresse, quando na verdade eu só achava que a cidade deveria ser poupada.
Ele da risada e as suas asas jogam uma rajada de vento em mim.
- O humano, a cidade, não faz diferença você estava questionando as ordens.
Eu não quero ficar perdendo o meu tempo, então viro e começo a voar.
- Você não viu ainda, não é?
Eu paro e olho para ele, procuro na direção que ele está apontando. Um homem muito alto e pele esverdeado, careca e com braços e pernas muito cumpridos, a cara dele é alongada e os seus olhos muito grandes, o sorriso no seu rosto parece uma deformidade e pequenas protuberâncias na sua pele brilham refletindo a luz.
- O que ele esta fazendo aqui?
- O príncipe da inveja? Eu apostaria que ele está atrás de você!
De todos os príncipes do inferno, porque Leviatã?
- Não seja tão inocente, Nanon, se até o céu quer você de volta porque o inferno não ia te cobiçar? Você e o seu Nefilim, imagine o prêmio que vocês dois seriam para eles.
Ele está certo, mas eu não vou deixar ele pensar que está me convencendo de alguma forma, ele é tão confiável quanto qualquer demônio, não pensaria duas vezes em matar o Ohm se isso fosse uma vantagem para ele.
Eu me viro mais uma vez e vou embora, continuo olhando em volta, não vi nenhum outro demônio, isso é bom, pode ser que todos os gárgulas e cães do inferno só estejam aqui para proteger o príncipe.
Volto para o apartamento e o Ohm está na janela me observando, quando pouso ele me abraça.
- Está tudo bem?
Eu sorrio e concordo.
- Que tal me levar para dar uma volta com você?
Eu sinto aquele arrepio novamente.
- Melhor não, tem um anjo por perto.
- Aquela mulher?
- Não, aquele que quer que eu me conecte ao céu.
Ele olha por cima do meu ombro procurando, eu seguro o seu rosto e o beijo.
- Tudo bem se você não for trabalhar hoje, não quero arriscar por enquanto.
- Eu converso com os caras, está cedo, eles podem achar alguém para ir no meu lugar.
Ele me beija e se afasta, para e olha pra mim.
- Só hoje?
Eu suspiro e não sei o que responder, ele acena e sai. Recolho as minhas asas e fecho as cortinas, abro a tampa do piano, fecho os olhos e começo a tocar, sinto a presença dele, ele senta ao meu lado e tenta me acompanhar, não é tão rápido, mas consegue introduzir acordes como se estivesse complementando a minha composição, ele é muito bom.
Quando eu paro ele começa a tocar sozinho, eu presto atenção, mas não reconheço.
- É linda!
Ele olha para mim e sorri.
- Eu compus na vila, um dia em que você estava brincando com as crianças, é sobre a esperança do nosso futuro. Mil anos, dois mil anos, eternamente.
Ele fecha os olhos e levanta a cabeça levemente, os seus dedos deslizam pelas teclas, a sua música se torna lenta parecendo uma oração e termina com uma doce melodia.
Quando para ele suspira e olha para mim.
- Eu te amo, Nanon!
- Eu também te amo!
Ele se aproxima e me beija, levanta e me pega no colo, me leva até o quarto e deixa na cama.
- Sabe que existe uma vantagem de você andar por aí sem camisa para poder voar?
Ele abaixa e beija o meu peito, segura o meu mamilo entre os dentes e morde devagar, passa a língua algumas vezes e começa a chupar, abaixa a minha calça, eu levanto as minhas pernas e ele tira. Então se afasta ainda sentado ao meu lado e começa a tirar a roupa, quando se deita sobre mim me beija, não sei porque, mas sinto que esse beijo é uma extensão da sua canção.
Ele levanta as minhas pernas e me penetra lentamente, se afasta e olha nos meus olhos, entra e sai devagar, acho que ele vai acelerar, mas ele continua no mesmo ritmo.
- Eu te amo!
- Eu também...
As cortinas do quarto se abrem e ele fica todo iluminado, o Ohm rapidamente sai de cima de mim e me cobre com o lençol, a janela abre e o Tawan entra.
- O que você está fazendo?
- Nós temos ordens, Nanon!
Ele olha para o lado e três anjos entram pela janela.
- Eu não vou com vocês, Tawan! Levem as minhas asas se quiserem, mas eu não vou voltar para o céu.
Ele me olha irritado.
- Nós não estamos aqui para te levar, nós viemos te proteger.

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Notas: Na mitologia Leviatã é um ex- serafim, um dos sete príncipes do inferno, algumas crenças apontam ele como a serpente do Éden.
Ele também é conhecido como príncipe da inveja e do caos

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