Prólogo Capítulo 476

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Prólogo Capítulo 476

Demônios que habitam masmorras e demônios que habitam corações

Dia Primeiro de junho

manhã em Zhen Yan

Passava pelo pequeno jardim e a estufa, o orvalho frio cobrindo as flores que balançavam sutilmente com a brisa preguiceira.

Nada novo, era evidente... Conhecia o caminho de cor.

Contudo, quando se aproximou da residência em madeira escura, estranhou as roupas que secavam penduradas na varanda, nem todas eram de Fu Yan.

Mirou-se nas peças com um olhar investigativo, não era possível... Seus dedos finos tocaram o tecido brocado refinado, demasiado caro para pertencer a um cultivador daquela montanha.

E previamente injuriada, estreitou o olhar.

Subindo numa parte da cerca da varanda, enfiou a mão no telhado do alpendre e astutamente puxou a chave reserva que Fu Yan escondia ali.

Yan Yueji tinha a sutileza de um ninja quando queria.

Ela destrancou a porta sem fazer o menor ruído, sabendo abrir a porta de um jeito estritamente silencioso.

Em toda choupana vagava um aroma suave de alfazema, mas espiando pela porta, viu o quarto de banho vazio... No entanto, recém utilizado, ainda úmido pelos vapores da água quente.

Estava cada vez mais ressabiada e foi da fresta da entrada do quarto, que teve a pior das confirmações.

Era onde o aroma da alfazema estava mais concentrado.

Os dois estavam completamente focados um no outro, não necessariamente fazendo algo indecente, mas sentados no meio da cama, um de frente para o outro trajando roupões de banho.

Apesar de Fu Yan estar apenas retirando o excesso de água das madeixas de Hulang com uma toalha felpuda, havia uma conotação muito íntima no modo que seu ex-marido fitava o outro homem.

Ela não podia ver claramente a expressão de Hulang, mas ao observar sorrateiramente, ouvindo as vozes baixas, não conseguiu mais se conter ao presenciar o cultivador com a face oculta se inclinar ligeiramente para marcar os lábios de Fu Yan com um selinho carinhoso.

De pronto Yueji abriu a porta num golpe seco, sua voz e trejeito notavelmente bravos.

— Só podem estar brincando! Mas, que merda é essa? Vocês dois!

Fu Yan tinha algumas mechas do cabelo longo de Hulang entre as fibras macias da toalha e sem se alterar, apenas olhou bastante sério na direção de sua ex-mulher que parecia um ciclone girando em torno de si mesmo dentro daquele quarto.

— Essa casa não é mais sua... — Fu Yan contestou sem erguer a voz firme. — Por que está aqui?

O maxilar de Yan Yueji estava tão tenso que parecia estar mordendo o próprio queixo e ela quase deu um passo aturdido para trás, porque Hulang olhou subitamente para sua figura, oferecendo em sua direção um olhar gelado e hostil.

— Hulang... — Fu Yan soprou discreto, num tom cúmplice. — Pode esperar fora do aposento? Preciso falar sozinho com Yueji... Por favor.

O cultivador mais novo assentiu trocando olhares e desceu da cama, passando indiferente pela mulher plantada de braços cruzados enfezados no meio do quarto.

Somente quando Yan Yueji e Fu Yan ficaram sozinhos, ele também desceu da cama.

— Procurei por Hulang e ouvi dizer que ele tinha encontrado você para irem caçar... Ora! Poupe-me. Caçar uma ova! — A mulher desdenhou, alfinetando seu ex-marido com o olhar. — Inacreditável... Você planejou isso?

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora