Adrien Cartier. Um cara totalmente normal, sabe... Um pouco estranho, claro. Mas quem não é, afinal? Essa é a história de um escritor amador, e sua confusa jornada atrás do seu maior sonho. Sua história começou há muito, muito tempo atrás... Bom, na verdade, nem tanto tempo assim. Há cerca de 2 anos atrás seu único objetivo na vida era escrever apenas uma matéria que fizesse sucesso na grande cidade de New York, pois naquela época, ao menos 70% de suas matérias escritas nunca nem chegavam a ser publicadas, e quando tal ato raro acontecia, um total de 0 pessoas se davam o tempo de ler.
Sobre sua aparência? Bom, poderíamos começar com seus notáveis olhos verdes acinzentados, aparentando cansaço, e quase sempre exaustão; seu cabelo castanho escuro, ao qual ele não se dava ao tempo de ao menos o pentear, mas que, surpreendentemente, nem sempre aparentava tão mal. Sua pele clara, chegando a ser um tanto pálida, por passar tanto tempo dentro de seu quarto escuro, iluminado apenas por sua luminária no seu tempo de escrever. Seu corpo, sendo tão magro que parecia que não comia há dias, fato que o envergonhava. Ele sempre se sentiu mal por não ter o tipo de aparência que seguia com os famosos "padrões de beleza masculinos", mas de qualquer forma, mal tinha tempo para necessidades básicas, como teria tempo para se importar com a sua aparência?
E lá estava ele, trabalhando mais um turno extra no seu segundo emprego pra se sustentar no início da sua carreira de escritor.
– A mesa 7 está esperando o pedido há mais de meia hora, se apresse e leve o pedido! – Seu chefe exclamou, num tom de voz alto e claro, também expressando raiva.
– Sim chefe! Eu já estou indo. — Respondeu Adrien, pegando a bandeija. Apressado, com sono (mas sem muito tempo pra se importar com isso) e com uma insuportável dor em cada parte do seu corpo, outro cliente passava despercebido em sua frente, causando o encontro de ambos ao chão, despejando toda a comida nas roupas do outro desconhecido.
– Me perd- – Adrien começado seu pedido de desculpas, logo sendo interrompido por gritos enfurecidos.
– Por acaso você é cego? Sou um cliente deste estabelecimento há anos, e desde que chegou aqui sempre causa alguma confusão! Irei falar diretamente com chef Edward, e eu lhe garanto que seu comportamento terá consequências. – Dito e feito. Reclamações de Cartier que não paravam de chegar nos ouvidos de seu superior, que eventualmente perdeu a paciência.
– Você está demitido. Cansei de ter que lidar com as besteiras que você faz. Comidas desperdiçadas, reclamações de lá e de cá, pedidos errados, você só me causa prejuízo. Vá embora, antes que eu perca minha calma, Cartier.
Segurando todas as suas emoções dentro de si naquele momento, Cartier acena com a cabeça e saí em silêncio, apenas para chegar em casa e praticamente desmaiar em cima de sua cama. Mas, não demorou muito para se recompor e começar a escrever. Ele tinha acabado de ser demitido da sua melhor forma de sustentação, não poderia perder a outra de forma alguma. Ele sabia que tinha que escrever algo bom e em curto prazo, e dormir não o ajudaria nisso.
Pegou uma xícara de café e sentou-se a escrivaninha, onde havia espalhados em todos os lugares folhas em branco, canetas e lápis em cada canto, rascunhos mal-feitos rasgados no meio. Era impossível trabalhar naquela bagunça. Rapidamente arrumou tudo aquilo, e logo começou uma nova matéria. Ele sabia sobre o que precisava escrever, sabia todas as informações necessárias; mas, por algum motivo desconhecido pelo jovem, não conseguia escrever uma palavra se quer. E assim se passaram alguns segundos, que viraram minutos, que se tornaram horas, apenas encarando uma folha de papel vazia. Ele estava exausto, tudo que queria naquele momento era dormir, dormir por dias, até não se sentir mais cansado. Seus olhos se esforçavam para continuarem abertos, mas parece que até tentar o seu máximo era inútil. E sem ao menos perceber, estava acordando com o som do seu alarme tocando pela terceira vez.
"PUTA MERDA..." – Pensou Cartier, encarando a folha que deveria conter uma matéria completa escrita, e que ao em vez disso, continha apenas poucas palavras com uma letra ilegível. Juntou todas as suas coisas e do jeito que havia acordado saiu correndo de sua casa indo para o metrô, na esperança de que conseguiria escrever ao menos o básico no caminho pro trabalho.
Ele corria o máximo que podia. Apesar de ter dormido por algumas horas, ainda não era suficiente. Seu corpo o implorava pra parar, ele precisava de um descanso, e mesmo sabendo disso, sua mente o obrigava a continuar. De repente, era impossível continuar. Sentiu seu corpo inteiro perdendo as forças de uma forma que parecia uma eternidade. Sua visão embaçada, tudo ficou escuro de uma hora pra outra. Seu corpo caiu no chão duro da calçada, a última coisa que viu foram 2 figuras estranhas apenas o encarando.
"Então é isso. Esse é o meu fim." — Pensou ele, segundos antes de apagar. Ele sempre foi um tanto dramático.
Quando abriu seus olhos novamente, já não estava jogado no chão do asfalto. Estava numa sala desconhecida, e desnecessariamente clara. Tudo estava embaçado, o que esperava? Estava sem seus óculos.
– Olhe! Ele está acordando. – Ele ouviu uma doce e animada voz exclamar. No mesmo instante sentiu sua cabeça latejar.
Apertando seus olhos, ele consegue identificar duas pessoas sentadas ao seu lado. Uma garota loira de pele clara, com roupas moderadamente elegantes –a qual Cartier poderia com toda certeza descrever como um "estereótipo de garota branca"–, e ao seu lado, um cara alto de pele mais escura vestindo um simples moletom azul. Era tudo que podia identificar com sua visão embaçada.
– Quem são vocês? – Perguntou Cartier, mais confuso que nunca.
– Oh, bem... Nós estávamos andando pela rua, quando te vimos desmaiar do nada! Imediatamente te levamos pro hospital. – Explicou a garota loira, com um sotaque inglês que certamente o irritava.
– Ah, bom, nesse caso, obrigad.. – Pausou ao perceber que poderia estar extremamente atrasado. – Espere, que horas são?
– Hmm, deixe-me ver... – O rapaz ao seu lado respondeu, enquanto tirava seu celular do bolso. – Já são quase 9 horas. – Respondeu o mesmo, despreocupado.
Faltam palavras para descrever o que passava pela cabeça de Adrien. Faltou pouco para ter uma crise de ansiedade naquele momento.
– Eu preciso ir. – Então se levantou as pressas e começou a procurar por suas roupas, e logo correu para o banheiro; mas então, foi parado pelo mesmo garoto que acabara de lhe dizer as horas e quase o dar um ataque cardíaco.
Finalmente com seus óculos no lugar, Cartier consegue dar uma olhada melhor pro rapaz. Tinha olhos escuros como a noite, qualquer um se perderia em apenas uma batida de olho. Seu corte de cabelo, nem se fala. Impecável. Quase como se tivesse acabado de sair da barbearia. Sentiu a mão do rapaz apertar seu braço, um aperto firme e insistente, que apesar de seus esforços, Adrien não conseguira escapar.
– Espere! O médico ainda não te deu alta, não pode apenas sair assim.
Sem nem ouvir o conselho que havia lhe dado, sumiu de uma hora para a outra, deixando os dois jovens confusos. E então, novamente já estava a correr para o trabalho, dessa vez comendo um lanche que comprou rapidamente numa cafeteria próxima ao hospital. Quando chegou ao trabalho, recebeu um esporro de seu chefe, que apenas se acalmou após ouvir a explicação de Cartier.
Dias se passaram após aquele incidente, sua vida estava normal novamente. Trabalhando sem parar e se esgotando ao máximo, como se não quisesse dar ouvidos aos avisos que o universo estava lhe dando para ele descansar. Quando de repente uma moça adentra sua sala.
– Cartier, o chefe 'tá te chamando na sala dele. – Exclamou.
– De novo? O que eu fiz dessa vez?
– Você sabe que os negócios não vão bem. Você é um dos melhores escritores dele, ou pelo menos era. Não vêm entregando os melhores trabalhos ultimamente...
– E quer me culpar? Não há nada para escrever sobre. É sempre as mesmas coisas bobas. Não tenho interesse nisso. Quero algo grande, Catherine.
– Você quem sabe...
– Falo sério, você vai ver, assim que algo acontecer nessa cidade, eu vou ser o primeiro a escrever uma matéria sobre, não só uma matéria, mas a melhor matéria!
– Admiro sua confiança...
– Valeu Cath, você é demais. – Concluiu sua fala, sem identificar a ironia no comentário de sua colega, e assim se foi.
– Queria falar comigo, sr. Andrew? – Disse adentando o escritório de seu chefe.
– Sim... se sente por favor – O mesmo respondeu entre suspiros, sua expressão facial preocupava Adrien, sentando na cadeira em frente a mesa de Andrew.
– Suponho que esteja ciente que ultimamente os negócios vem decaindo. Não recebemos mais bons materiais para trabalhar. Apenas matérias de fofocas de bairro, alguns casos de assalto ali e aqui, e mais besteiras que me dá um nó na garganta só de pensar. – Dá uma breve pausa fazendo Cartier se mover na cadeira ansioso pela sua próxima fala. – Você é um dos meus melhores escritores, e sabe muito bem disso. Apesar de ultimamente seu potencial ter caído drasticamente nas últimas semanas, tenho certeza que logo vai se recompor e vai nos trazer uma matéria de cair o queixo, não é?
– ...Sim senhor. – Respondeu com certa hesitação.
– Ótimo. Quero algo novo, ideias novas.. que inspirem, que transforme! Que deixem as pessoas curiosas... Que mude a visão da nossa empresa.
– ...Sem pressão então né? – Deu uma risada nervosa.
– Não me importo como irá conseguir concluir esse trabalho. Apenas me entregue ao menos um rascunho daqui duas semanas. Contando com você, Cartier.
Mais tarde naquele dia, Adrien se encontrava em sua escrivaninha, mais uma vez encarando uma folha de papel com uma xícara de café na mão. Simplesmente não tinha ideias. Não levou muito tempo até que desistisse e se enfiou debaixo das cobertas para chorar em posição fetal. Como caralhos ele iria conseguir atingir tal meta quando não conseguia escrever nem se quer um artigo de revista de fofoca?
Não tinha pra onde correr. Ele precisava de ajuda. E é isso que ele procuraria em seguir.
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A Casa dos Miller - Adrien Cartier.
ParanormalAdrien Cartier, um escritor amador que sonha em ter sucesso em sua carreira. Suas matérias sempre foram subestimadas, mas também sua pequena cidade não possuía casos tão interessantes assim. Até que surgem boatos sobre uma certa mansão abandonada. C...