{09 de Janeiro}
Quinta-feiraMALDITO DIÁRIO,
Hoje é meu aniversário. Foi um dia bem normal, nada de novo. Acordei cedo - mas demoro séculos para acordar de verdade. Tomei café da manhã na padaria da esquina, pois estava com preguiça de preparar alguma coisa - a quem quero enganar? Não tinha nada na geladeira. Eu me esqueci de fazer compras, só para variar.Segui rumo a creche. Amo o que faço, mas às vezes tudo o que eu queria era estar na praia, tomando água de coco e sendo servida com uvas diretamente na minha boca. Confesso que foi difícil tentar não olhar para o relógio o tempo inteiro, contando cada segundo para o fim do expediente.
A melhor parte foi quando as crianças me desejaram felicidades. Algumas me presentearam com cartinhas lindas, que guardarei com muito carinho. Sério, tenho uma gaveta repleta delas. Um amor! Elas realmente conseguem me deixar animada. Meu dia se enche de alegria quando vejo os sorrisos sinceros em seus rostos. Não é nada fácil, não se engane. Na maioria das vezes, lidar com crianças é realmente complicado, mas o meu trabalho vale muito a pena.
À noite, olivia e seu querido namorado, o Jonatas, me visitaram. Os dois vieram comemorar o meu décimo nono aniversário, e foi por isso que ganhei esse diário. Preferia ter ganhado algum perfume. Ou então uma blusinha. Sei lá. Qualquer coisa. Tá, olivia, não precisa me comprar nada disso. Sei que você adora me provocar com seus presentes malucos... este ano não podia ser diferente. Entendo completamente sua necessidade de sair dos padrões.
Quase pirei quando abri o embrulho dourado, decorado com fitinhas brancas. No começo, pensei que fosse um livro ou algo assim, mas estranhei ver uma capa preta reluzente sem nada escrito. Fiquei pasma ao abrir a primeira página, depois a segunda, depois a centésima e ver que não havia nada escrito. Apenas linhas e mais linhas em branco. Olivia passou cerca de meia hora me explicando as variadas formas de usá-lo. E eu passei cerca de meia hora tentando entender os motivos para ela ter me dado algo tão... sei-lá-o-quê.
Contudo, não posso reclamar de um presente dado com tanto carinho. Olivia é realmente uma amiga e tanto. Não estou dizendo isso só para aliviar, sou uma pessoa bem sincera, e ela sabe. Amo a minha melhor amiga. E também sei que ela me ama. Esse seu carinho está estampado na torta deliciosa de nozes que preparou para a noite de hoje. Jonatas providenciou as bebidas. Melhor que a torta de nozes só uma cerveja bem geladinha! É ou não é?
Os dois foram uns amores. Conversamos por horas, Ouvimos música e fofocamos sobre os meus vizinhos. Não é uma vizinhança muito silenciosa, se quer saber. Na verdade, dá para saber da vida de todo mundo sem sai de casa, já que escuto quase tudo o que falam do meu apartamento. Por exemplo, a vizinha de cima é traída todos os dias pelo marido quando sai para trabalhar á noite. Uma mulher misteriosa aparece e os ruídos são desconcertantes. Mas olivia Jonatas acharam isso incrível e riram a noite inteira.
Claro que fiquei absolutamente incomodada.
Os momentos que passei com eles hoje foram divertidos, porém tudo muda quando me vejo sozinha neste apartamento. Parece que as parede me fazem lembrar constantemente o que sou. Ou o que fui. O que passei. Ou o que passo. Tudo fica tão... vazio. É como se eu tivesse presa em uma caixa de vidro; sem ar, sem saída, sem perceptiva. Fazer o que é comum pode ser confortável, mas certamente não é emocionante. Talvez seja o que me falta: emoção. Preciso aprender a dar vazão aos meus sentimentos e não fingir que estou bem quando quero chorar, ou dar uma de conselheira quando o que eu mais preciso é de um conselho.
Não é uma indireta para você, olivia. Poucas amigas conseguem ter a metade da sua dedicação e carinho. Só entenda que não posso ultrapassar certas barreiras. Você tem a sua vida; eu tenho a minha. Vamos torcer uma pela outra, mas, no fundo, só quem pode viver a minha vida sou eu e você a sua. E eu estou aqui, agora, sozinha, curtindo o vazio que me pertence. Talvez esteja reclamando de barriga cheia. Talvez a solidão seja o fruto de uma semente que eu mesma plantei. Talvez eu afaste propositalmente as pessoas, concentrada demais em apenas respirar e agir mecanicamente, com medo de ser taxada como louca ou perturbada.
Às vezes me pergunto se essa minha vidinha besta, um dia, irá mudar.eu bem que podia praticar alguns esportes radicais. Ou então tentar arranjar um namorado, casar, ter filhos, constituir uma família. Qualquer coisa seria mais interessante do que somente existir. É triste não ter esperança. A minha mente faz questão de tecer problemas insolúveis, só para inventar emoções que não serão substituídas pelas coisas importantes que perdi.
O rumo da conversa está seguindo em direção ao fundo do poço em uma velocidade incrível. Já estou chorando e manchando suas folhas novinhas. Olivia vai me matar...
Pronto. peguei um lenço. Estou igual áquelas velhas que choram em frente á TV assistindo a novelas mexicanas toscas. Tá vendo? É por isso que não desabafo. De que adianta? O que vai mudar? O mundo conhecerá os meus problemas e ninguém fará nada à respeito. Nem eu.
O diário não é minha solução. Nem a olivia. Talvez o único modo de resolver o meu problema uma mudança drástica de atitude.
Mas... O que fazer? Como agir? O que devo mudar? Será que existe algum mapa que me informará aonde ir para ser feliz?
Tá, parei.
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diário de uma cúmplice // billie eilish G!P
FanficO que deu na minha cabeça para fazer isso - eu, uma professora de crianças? não me perguntem. só senti uma atração imensa por aquela mulher. agora eu era sua cúmplice!