[T] Falsa Liberdade

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Em certo momento, desisti de ficar surpresa ou inconscientemente passei aceitar qualquer mudança como algo natural. De acordo com os médicos, não havia nada de errado com a minha cabeça, meus reflexos pareciam muito bons pelo tamanho do acidente que sofri. Porém, não tinham uma explicação lógica do porquê os acontecimentos de parte da minha vida foram esquecidos.

Silenciosamente, antes que alguns deles dissessem que eu estava completamente pirada, fui juntando informações e fazendo paralelos com a vida que me lembro. Ainda sou uma funcionária da U.A, porém não trabalho diretamente com os alunos e sim na enfermaria. Me formei pela escola, assim como me lembro, e trabalhei como heroína na Genius Office sob a supervisão do meu tio até conseguir uma carta de recomendação.

As conclusões que cheguei são insanas, me levando a crer que talvez realmente tivesse algo de errado com a minha cabeça, contudo, num mundo repleto de individualidades é difícil dizer o que é normal e o que é estranho. A primeira das minhas hipóteses é que morri, simples assim, e esse é algum tipo de pós-vida que recebi por ser uma boa pessoa. Embora seja estranho o meu pai esteja morto nessa situação. A segunda opção já usa um conceito muito mais complexo que é a mudança de linha do tempo, afinal manipular linhas é a especialidade da família, não teria porque o tempo ser uma exceção.

Minha terceira hipótese junta um pouco das duas primeiras, ao invés de morrer, estou em algum lugar entre a vida e a morte e o que estou vendo é uma versão onde tudo que um dia pensei ser diferente, aconteceu. Se a minha mãe tivesse sobrevivido, se Touya não tivesse morrido, são todos os pensamentos materializados numa realidade acontecendo apenas na minha cabeça.

Particularmente, essa última é a que eu mais acredito e também a que me dá mais medo. Pois não sei como voltar, e nem o que acontecerá se eu aceitar essa vida como sendo a minha.

— Você quer que abra a janela querida? Está olhando para ela há algum tempo.

Ainda é estranho ver minha mãe por perto, mas a saudade egoísta que se acumulou dentro do meu peito em todos os anos ausente da sua presença não me deixavam fazer nada além de sorrir, e aproveitar sua companhia.

— Não estava olhando para ela em específico, mas parece bom deixar um pouco de ar fresco entrar — movi os braços tentando me ajeitar na cama do hospital. — Já estou cansada de ficar aqui.

— Mesmo acelerando seu tempo, uma semente só cresce e floresce depois de algumas etapas — a mulher se levantou da poltrona e abriu o vidro se virando para mim com um sorriso carinhoso. — Sei que deve estar aborrecida, mas dependendo dos resultados pode ganhar alta ainda hoje.

— Eles não saíram ainda?

A mais velha se aproximou — Ainda não, mas disseram ser depois do almoço, então imagino que devam nos informar em breve.

Deitei a cabeça no travesseiro e olhei para o teto por um momento, frustrada por não poder fazer nada enquanto condicionada aquele quarto monótono com cheiro de remédio.

Abriram a porta, e minha mãe foi mais rápida em ver quem era, dando um sorriso e colocando a mão na cintura.

— Touya, você vai arrumar problema na delegacia se continuar passando seu tempo longe do trabalho — ela abriu os braços para o cumprimentar.

Ele respondeu seu gesto com um riso, aceitando a recepção da mais velha — Tecnicamente estou trabalhando. Posso dizer estar oficialmente verificando uma das vítimas.

Minha mãe deu um tapinha leve em seu ombro — Então continue olhando a madame vítima, enquanto vou até o café.

— Sim senhora.

Litō - (Dabi x [Nome] x Hawks)Onde histórias criam vida. Descubra agora