My Black Swan

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Lovely — Billie Eilish, Khalid


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Quatro toques suaves na madeira, era um aviso.

A luz se acendeu do outro lado do palco antes mesmo que o ritmo melódico tivesse início. Uma luz tão forte que era capaz de incomodar e ofuscar a visão de qualquer pessoa sob ela, naquele ambiente sufocante e pesado. Mas Myoui Mina não era uma pessoa qualquer, nunca foi e nunca seria. Em seus trajes negros, com sua bela feição por de baixo da maquiagem pesada; seus cabelos estavam num coque bem puxado, a postura ereta era invejável. Sua saia de tule em formato de sino esvoaçava o leve tecido através dos passos, no meio das canelas; aquele tutu romântico que diferia do meu pela cor, cujo tinha linhas prateadas corriam pelo corpete – estas que de alguma forma sumiam a cada toque de minhas mãos. Ou ao menos era o que nós transmitíamos a fera indomável e fervente de frente para nós.

As luzes sobre nossas cabeças correram atrás de nossas sombras até se tornarem uma só, como nossos corpos. Minha pele se aquecia com o resvalar de seus dedos, minhas reações diante de seus movimentos eram genuínas.

Em cima daquele palco ou não, eu era o que era: o reflexo de suas convicções.

Tudo que partia de mim era uma resposta aos devaneios daquela mulher em agonia, ao ritmo de seus passos e compassos. Rodeadas por um calor escaldante apesar da frieza que se tornava a história de nossas personagens fadadas a destruição interna, entregadas a amargura como único caminho. O doce e azedo de um amor proibido.

Ao som de violinos e violoncelos, eu e Mina flutuávamos sobre aquele palco, nos movimentávamos com o esplendor de dois pássaros, nos exibindo como fomos feitas para fazer. Cada acorde nos arrancava um suspiro pesado, um passo mais fundo, um toque mais sensível. Do mais agudo som, um giro. Do mais estrondoso salto, uma nota de violino.

Myoui Mina, minha bailarina.

Éramos feitas uma para a outra. Eu tinha certeza.

Certeza esta que aumentava a cada vez que nossos corpos se encontravam, se enroscavam e se desprendiam com saudade; a falta de estar no calor um do outro já castigando nosso peito.

E quanto mais forte a dor, mais meu amor crescia.

Tomava meu íntimo como uma latejante doença sem cura.

E eu não me importava, desde que pudesse senti-la dentro de mim.

Ainda me lembro de nossa primeira noite de amor, assim como lembro de cada uma que veio após ela. Lembro das perigosas investidas no camarim, dos beijos afoitos no beco atrás do teatro, das juras de amor sob a chuva de verão em Veneza, dos nossos pecados em Barcelona; lembro-me bem das marcas de meus dedos em seu pescoço após o vislumbre da parabenização incomum e desconfortável de uma de suas antigas colegas de trabalho pelo papel principal em Jullieta e seus amores.

Mas sabíamos bem que eu era a sua única.

Myoui Mina, meu cisne negro.

Adorar a sua pele era um pecado pelo qual eu estava disposta a pagar.

Cada fibra de mim poderia queimar no inferno, não importava enquanto eu pudesse beijar a suas coxas e sentir o paraíso enquanto te adorava.

"Você deveria ser minha esposa." – eu disse certa vez, talvez há dois anos, no mais alto de meus sonhos, acordando ao seu lado em Paris após uma perfeita apresentação de Giselle na noite anterior.

Eu e Mina tínhamos a visão impecável da Torre Eiffel, aquele amontoado patético de ferro e aço que ela achava romântico e lindo.

"Você quer se casar comigo?"

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