Prólogo: Emboscada

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- Olá Esther.
Acordo assustada e procurando de onde veio essa voz já conhecida.
Meus olhos varrem o aposento e vêem uma movimentação rápida nas sombras. Então o pequeno feixe de luz é aceso acima de mim. Pisco os olhos com a intensidade que a pequena luz invade meus olhos já acostumados com a escuridão.
Estou deitada em uma mesa gelada, que imagino ser uma maca de hospital. Minhas mãos estão presas pelos pulsos por algo tão frio quanto a própria mesa. Algemas, talvez correntes, eu imagino. Não faz diferença. Já minhas pernas, estão presas por grossas tiras de um material que envolve fortemente minhas canelas. Talvez seja couro. Ouço passos pelo aposento, encobertos pela escuridão e novamente as lágrimas brotam. Tento não demonstrar meu medo mas a sensação de pânico crescente revira meu estomago e me força a engolir a bile que sobe e me queima a garganta. Lembro que meu pai, por ser médico, me falava dos estágios que a dor pode atingir, sendo que o mais alto, causa uma dor tao insuportável que nosso organismo fica anestesiado com a sua intensidade. Acho que cheguei a esse estágio.
Os pêlos da minha nuca ficam eriçados. Ouço novamente meu nome. Esther. Sussurrado pela mesma pessoa que imaginei que encontraria enfim a felicidade, que a muito procurava. O pequeno feixe de luz, não me permite encarar seu rosto. Seu belo e maldito rosto, me forço a lembrar.
Meu corpo libera uma ultima carga de adrenalina e então sinto uma queimação rapida no pescoço, que se torna um arder insuportável. Por instinto tento levar as mãos ao local da queimação, mas sou lembrada que ambas estão presas. Então algo quente escorrer envolta do meu pescoço. Sinto que a bile sobe novamente, mas dessa vez com um sabor metálico. Ao tentar engoli-la engasgo e cuspo o que quer que tenha subido pela minha garganta, percebendo o que eu estava enganada: nao é bile. É sangue. E novamente a mesma sensação cortante que queima em meu pescoço, dessa vez nos pulsos e nos pés. Me debato. Inutilmente. Então ja nao me importo e deixo as lagrimas rolarem. E a sensação de dor vai passando vagarosamente, até que não sinto mais nada. Deixo de lutar tendo como último pensamento meu pai e sua teoria da intensidade da dor. E entao o frio chega. De mãos dadas com a escuridão.

Viúva NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora