Lá nesse lugar o amanhecer é lindo!

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A vida não é nada como Grease, nada de noite e amores de verão. Tudo bem que há muitos Danny Zukos por aí, mas é como diz o ditado: se bater em uma árvore na esquina de Chicago caí uns quarenta iguais a ele. E, ah, eu detesto romances!

São, em sua maioria, uma furada. Só não generalizo mais do que o possível, pois tenho que confessar que, quando vejo um casal junto há pelo menos seis décadas, tomando um cafezinho com pão e se dando carinho, meu coração se aquece um pouquinho — mas não conte para ninguém.

Logo, nunca me imaginei em um esquema desses, tampouco em um romance barato de verão, no máximo são umas bitoquinhas aqui e ali. Casualidade parecia ser meu segundo nome, até bem, um surfistinha pangaré cruzar meu caminho. Ou melhor... a gente se enroscar, e eu, azarado como sou, acabar com um galo na testa.

Mas para eu contar essa história, tenho que primeiro falar como vim parar nessa situação: todo cheio de areia, com a cabeça dolorida e o cara mais gostoso do mundo em cima de mim. Acredito que com esse último item eu posso lidar, se é que me entendem.

Tudo começou lá na década de noventa — eu sei, há muito tempo —, mais especificamente no verão de 1997, uma jovem mulher italiana havia acabado de passar na faculdade, e de presente, ganhou uma viagem para o Brasil. Achei inusitado meus avós terem dado esse presente para ela, sim, a mulher é a minha doce mãe, já que como neto não ganho um tostão daqueles queridos, mas, continuando... Ela acabou parando em um interessante lugar chamado Ilha Grande, em Angra dos Reis, não muito longe da cidade do Cristo Redentor, o Rio de Janeiro.

Diferente de mim, a versão jovial de minha mãe era totalmente extrovertida, então ela não tardou em fazer amizades naquele lugar. Nas histórias malucas e divertidas que ouvi dela, até dançar na boquinha da garrafa ela já dançou. E entre uma aventura e outra, ela conheceu o meu pai.

Veja, se algum dia me dissessem que existe um homem de um metro e oitenta e seis, bronzeado, de cabelos longos, que era surfista e que ainda por cima se chamava Hades, tal como o deus da mitologia, eu riria. Pois bem, esse era meu pai quando se conheceram. Minha mãe deve ter rido também, mas ela jamais admitiria.

Não sei dos detalhes, e não quero saber, mas fui concebido na quarta semana de minha mãe na Ilha Grande, e ela foi saber que estava grávida apenas quando estava na Itália, e desde lá, tudo começou a despencar.

De um lado, tínhamos os meus avós, que conservadores como eram, ficaram enfezados de a filha ter engravidado de qualquer maneira — minha mãe me conta que mudaram de opinião assim que meus olhinhos de jabuticaba abriram pela primeira vez —, e do outro, meu pai desesperado porque era tinha um filho a nove mil quilômetros de distância.

Eles brigaram, digo, os meus pais, para decidir quem ficava comigo, já que não funcionaria de modo algum os dois juntos; ele, um surfista promissor, em competições profissionais tanto no Brasil como em outros países, e ela, uma mãe quase solo, adentrando o primeiro ano da faculdade de paleontologia.

No fim, acabei dividido entre estações, três com e ela, e uma com ele. Meu querido papai e eu passávamos os verões inteiro juntos, então era normal eu vir ao Brasil pelo menos uma vez por ano.

Meu pai não surfa profissionalmente mais, porém, ainda sabe lidar muito bem com o mar, além de ser treinador de uma das equipes de Angra, e como seu filho, aprendi a surfar, e muito bem, diga-se de passagem. Só que, diferente dele, eu não me importava tanto com o surfe.

Surfar era legal, gostava mais quando eu tinha os meus quatorze anos; lembro-me bem de ser o único de bochechas vermelhas de meus amigos na Itália, mas fui ficando cada vez menos assim desde os últimos dois verões que passei aqui. Meu pai, sendo o paizão que era, não gostou nada de me ver jogando videogame o dia inteiro em sua humilde casa de praia que na verdade era um enorme casarão de gente chique.

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⏰ Última atualização: Nov 05, 2023 ⏰

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