the fire of revenge

1.

Minha vida nunca foi fácil,escolher ser atleta nunca é uma escolha fácil,as quedas,as percas e as dores que deixam de ser físicas e passam a ser emocionais,as rachaduras que fica na sua alma não tem concerto.

Mesmo depois daquele dia,mesmo depois daquela queda,eu não desisti dos meus sonhos,não desisti de nada,apesar dos meses de recuperação,tanto mental como psicológica,eu havia voltado mais sedenta por vitória e adrelina que antes.

Mesmo que ainda pudesse escutar o barulho das ambulâncias,o click das câmeras dos jornalistas,ainda pudesse ver o pânico da treinadora selene ao ver a cena,mesmo que tudo isso me cala-se por horas a fio.

Nada disso me afastou do rinque,ou fos amigos que fiz aqui,já que nunca tive um lar de verdade,o ringue lee valley centre se tornou meu lar,aqui passo a maior parte do meu dia,tentando calar a voz que insiste em querer me derrubar.

Agora sentindo o vento bater em meus cachos,em meu corpo por inteiro,escutando o barulho dos patins no gelo,escutando a melodia do piano da minha coreografia,sinto a liberdade escorrer por meus dedos,pela minha alma.

Dou um salto flip e encerro jogando os braços para trás,minha respiração está ofegante,meu coração acelerado,mais uma prova concreta que estou viva.

Escuto as palmas do meu melhor amigo que estava assistindo meu ensaio.

- Descanso Irina!- E então minha treinadora senhora Selene.

Uma idosa de cabelos grisalhos e um corte elegante,com olhos tão verdes,que chega a ser hipnotizante.

Patino até os bancos de aquecimento e lá está Darcy,com seu cabelo loiro,um metro e oitenta e um sorriso que arrasta fãs para todo canto,ele e sua parceira de patinação,são campeões da olimpíada e muito bem merecido.

- Oque foi isso menina???- ele pergunta chocado me abraçando- as vezes nem parece que você é humana quando entra nesse ringue.

Escutava isso constantemente,por ser conhecida por fazer coreografias com passos muito difíceis,beirando perigosos demais,mas gostava dessa sensação.

Ia responder mas fui interrompida.

- Mas ela é humana! E se continuar com esse instinto suicida,vai achar o que tanto procura- Selene diz ríspida me encarando por cima dos óculos.

Aí....essa doeu.

Darcy levanta a mão em rendição após a bronca,dou um meio sorriso me sentando no banco para tirar meus patins e colocar o tênis.

- Só uma brincadeira tia Selene- o loiro diz dando um beijo estralado na bochecha da senhora,que faz uma careta.

Logo depois sua parceira e o treinador chamam ele para ir praticar e ele se despede com um dos seus abraços que mais parecem uma casa,de tão aconchegantes.

- vai para casa irina...E descanse - Selene fala e vira as costas em direção às arquibancadas,lá no topo....havia um homem parado,sentado nos últimos bancos.

Ele parecia jovem mas não conseguia enxergar seu rosto,por algum motivo meu corpo se arrepia e então vejo a treinadora chegar até ele e os dois se abraçarem.

Acho suspeito porém guardo minhas coisas na bolsa e caminho até a saída,colocando meu fone,já que o caminho era longo até o ponto de ônibus e minha suposta casa.

Já que era tudo menos isso,para mim aquele apartamento me parecia mais uma jogatina,com todos homens ricos saindo e entrando,em busca da minha mãe,que era uma ordinária,que se envolvia apenas com homens ricos,em busca de alguns euros.

Entro no transporte público com minha cabeça a milhão,muito em breve ia acontecer o campeonato europeu de patinação e eu precisava vencer,para garantir dinheiro o suficiente para os próximos que viriam em seguida.

Eu era campeã de alguns campeonatos importantes,mas não desse e nem das olimpíadas e eu estava em busca desses títulos,para finalmente ser reconhecida como uma estrela no esporte.

Depois de uma hora,finalmente chego no apartamento,subo o elevador que dá direito na sala do lugar com aparência industrial,que Ângela fazia questão de deixar com um ar "luxuoso" na cabeça dela,porque era comum como muitos espalhados pela cidade.

Em silêncio,tiro meu tênis e tento caminhar desapercebida até meu quarto,mas a porta de seu escritório está aberta e assim que passo em frente,a sua voz fina me impede de continuar.

- Irina,venha aqui por favor- levanto a minha cabeça e fecho os olhos praguejando baixinho - Precisamos conversar.

Ela raramente lembrava da minha existência,então com certeza era alguma merda.

Volto para trás e entro no lugar,que tinha as paredes brancas,algumas prateleiras e uma enorme mesa de vidro e na cabeceira...lá estava meu pesadelo.

Com cabelos castanhos escuros e os olhos azuis acinzentados como os meus e diferente de mim que estava com roupas esportivas,ela estava com um vestido social,vermelho e muito justo.

- Posso ajudar?- tento não ser muito irônica ou malcriada,apesar dela merecer.

Ela faz um gesto com a cabeça para que eu sente na cadeira à sua frente,revirando os olhos me sento e jogo minha bolsa ao meu lado.

Ela finalmente tira a cara do computador e me analisa da cabeça aos pés,sinto vontade de por meu almoço para fora nesse momento.

- Tenho uma notícia para você...agora que finalmente fez vinte anos - fala e sinto minha espinha gelar e meu corpo em estado alerta - lembra daquele contrato que assinou com doze anos?

Faço uma careta para essa merda que estou escutando,eu era uma criança,obviamente não lembro,em especial porque tive uma infância nada agradável  e apaguei a maioria das lembranças.

- Óbvio que não - digo sem humor nenhum e ela revira os olhos,abrindo sua gaveta e pegando um papel,ou melhor...um monte deles.

- Aqui está seu futuro inteiro Irina,a garantia de uma vida esplêndida e que também irá me proporcionar como sua mãe - fala com um sorriso enorme e assustador no rosto,meu estômago embrulha.

- Do que você está falando? - pergunto me sentindo tonta,nada que vinha dessa mulher era bom...nada.

Me estende os papéis e pego de forma rude,lendo as primeiras palavras,minhas mãos começam a tremer,assim como o corpo inteiro,incapaz de acreditar nisso,incapaz de acreditar que havia assinado isso.

- Parabéns minha filha,você está noiva - ela fala simplesmente.

Sinto minha visão escurecer e tudo se tornou um borrão depois disso.