Eu o odeio.
Esse é o pensamento que me consome enquanto aperto meus punhos tentando parar de tremer.
Eu o odeio.
Ele está do outro lado do salão com seu terno bordo e camisa branca. E um sorriso perverso no rosto. Me observa admirando seu trabalho.
Sei que no momento todos no salão conversam entre si. Dão risadas. Zombam de mim.
Não preciso de um espelho para saber como estou. Sei que meu vestido, ou o que sobrou dele está em pedaços e encharcado.
Sei que meu cabelo está todo cortado.
Eu que o cortei. A adaga ainda está na minha mão. Ele me obrigou.
Ele me persuadiu. Me fez como sua bonequinha de ventriloco e brincou comigo na frente de todos. Me fez imitar animais, dançar de forma vulgar, me jogar na fonte de água e após disso cortar meu vestido e meu cabelo enquanto soltava uma risada histérica.
Todos do reino me viram fazendo isso. Todos me viram e ninguém fez nada. Afinal ele é um demonio. Não é culpa dele.
- O que aconteceu, doce Carmila? - ele fala com aquele sorriso perverso com presas aumentando. - Cansou de brincar?
Quero gritar. Quero pegar a adaga em minha mão e crava-la no peito dele. Quero mato-lo. Quero correr. Quero me esconder.
Vergonha, medo, e odio me dominam. Quero libera-los. Quero que ele pague.
Mas não faço nada. Ainda estou sob o controle dele. Sinto ainda as cordinhas invisiveis me segurando. Seu poder e sua influencia são fortes.
Sinto ele em minha mente e escuto sua risada cruel.
"Doce Carmila". O escuto sussurrar em minha mente. "Não parece tão valente agora, não é?".
Faço um esforço tentando o expulsar da minha cabeça. Mas não consigo. Minha magia está fraca. Sinto ela dentro de mim tentando se ascender com os sentimentos intensos que estou sentindo, mas não consigo acessa-lá. Afinal, estou usando a porra do colar silenciador que meu pai me obrigou a usar.
"Para evitar confusões" ele dissera.
Como se eu precisasse da minha magia para isso.
Sinto enjoo quando sinto o controle forte de Célion sobre mim novamente. Vejo meu corpo começar a andar em direção a ele. Minha pernas são traidoras. Percebo que as pessoas abrem caminho pra eu poder passar. Todas com suas roupas chiques de baile. Elas estão ansiosas. Eu sou a diversão. E eles estão esperando para ver qual será o espetáculo.
Conforme mais próximo dele chego, mais o cheiro de colônia doce me atinge. O cheiro da perverção. Da luxuria. Do pecado.
Sinto enjoo.
Tento resistir ao controle dele com mais força, e tento puxar minha magia. Mas mal nem consigo falar uma palavra.
Quando estou de frente a ele o cheiro dele me invade. Ele me olha nos olhos. Seus olhos são tão vermelhos como sangue. Me aterrorizam. Me assombram em meus piores pesadelos. Seu sorriso tem duas presas afiadas.
Quando ele toca meu rosto sinto vontade cuspir nele. Seu toque é gelado, mas é macio.
- Nunca mais me desafie. - ele fala enquanto está olhando no fundo dos meus olhos.
Mas estou o encarando também. Meu ódio ferve e o sinto baixar um pouco o controle. Perfeito.
- Eu tenho uma dúvida... - digo com dificuldade.
Sua expressão muda para curiosidade. Ele ergue uma sobrancelha, e antes que possa apertar o controle sobre mim o jogo para longe com minha magia.
Me recomponho rápido e sinto minha magia voltando para o corpo quando arranco o silenciador. Isso nunca mais.
Ele está preso na parede pelo meu poder. Imóvel e tentando sair de meu controle.
-...dizem que o inferno é quente. Fogo, destruição e sofrimento eterno. - Falo enquanto olho para ele e invoco uma pequena chama em meu dedo indicador. - Será que demonios podem queimar também?
Vejo sua face mudar para espanto. Mas é tarde demais. Assopro a chama em meu indicador e elas crescem e consomem Célion. O queimando vivo. Os gritos dele são minha melodia favorita.
Sei que ele não vai ficar muito tempo assim, afinal demonios não morrem. Mas sentem dor. Espero que doa muito.
Prometo a mim mesma que no proximo ano estarei pronta. E ele sofrera mais ainda. Ele havia mexido com a garota errada.
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Rosas de Sangue
FantasyCarmila é uma feiticeira. A irmã do meio entre três irmãs. Em questão de magia ela nunca chegou a se destacar e nunca se importou muito com sua reputação. Mesmo sendo filha de o rei de Lyllandra Nova, ela sempre fez o que quis, com quem quisesse. El...