* Papai.....*

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    Mais uma vez, estou sonhando.

  Estou em um campo rodeado de girassóis. A brisa do vento os fazem balançar graciosamente sobre as folhas. O céu é uma mistura de azul e rosa claro.

 É lido!

 Ao dar um passo para frente, tiro os cabelos do rosto. Percebo, então, que estou vestindo um vestido azul claro. Sito o vento e a textura macia da grama em meus pés e vejo que estão descalços.

 Do outro lado, vejo Arthur e Alice correndo.

 - Vem cá, mocinha! - Ele grita, sorridente.

 - Nananinanão! - Ela grita enquanto perde as forças de tanto rir.

 Alice para, cansada.

 - Ahh, te peguei! - Grita ao pegar Alice enquanto lhe faz cócegas.

 Rio.

 Eles percebem e olham para mim, sérios.

 - Por que ela está aqui? - Alice diz irritada.

 - Que saudade! - Digo, sorrindo.

 - Não sei, mas não importa. Ela não vai nos atrapalhar.

 Meu sorriso se desfaz.

 - O-o quê?

  Arthur coloca a mão no ombro de Alice e a vira para ele, abraçando ela, mas ainda olhando para mim.

 - Você não é bem-vinda a nossa nova vida. - Seu olhar é de desprezo, como se eu fosse tão inferior como um animal morto.

  Sinto um nó em minha garganta se formar enquanto as lágrimas começam a escorrer, sem controle.

 - Ali...

 - NÃO SE DIRIGA A ELA! - Ele grita.

 Olho para ele.

 - Arthur, por favor...

 - Vamos, Alice. 

  Eles se viram e uma névoa cinza os envolvem e os fazem desaparecer.

 Os girassóis morrem todos de uma vez, o céu se torna uma escuridão completa, a brisa me sufoca enquanto caio de joelhos. O meu vestido fica todo ensanguentado.

 Caixões surgem a minha volta. Larvas se contorcem tentando sair de dentro deles.

"O seu destino pode ser melhor que esse. Você sabe que algum dia irá perdê-los. As vezes, o egoísmo pode ser bom para todos, mesmo que não percebam."

  Sinto um ar congelante em meu ouvido.

 - Esther...

 Dou um pulo.

 Percebo que estou apertando a mão dele mais uma vez.

 - Estava tendo pesadelos. Os médicos disseram para não acordar você, mas minha mão está doendo. - Acaricia a mão vermelha.

 - Algo quer tomar conta da minha mente... - Sussurro.

  Ele se ajeita na cadeira.

 - Como assim, Esther?

 Olho para a janela. O céu exibia uma escuridão profunda, pontuada por estrelas distantes que ainda relutavam em desaparecer diante da aproximação de um novo dia.

 - Quantas horas são?

- Quatro horas e alguns minutos. - Sua voz é sonolenta e seus olhos ameaçam a se fechar.

- A quanto tempo estou sonhando?

 - Não sei ao certo. Me parecia que estava tendo uma sequência de pesadelos. Em alguns momentos chorava, gritava e soluçava. Em outros, dormia normalmente. - Desiste de manter os olhos abertos. - Percebi faz pouco tempo, uma hora, talvez. Tentei te acordar, chamei a enfermeira e os médicos. Me falaram pra esperar você acordar. Aí você me chamou, me sentei ao seu lado e você apertou minha mão e não soltou mais.

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