Único

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— Primeiro beijo? — Tachihara foi o primeiro a questionar a súbita mudança de assunto durante a conversa e o tópico que surgia sem contexto prévio na conversa preguiçosa. Ele estava parado em uma postura desleixada logo atrás do sofá carmesim, os braços descansando no alto encosto quando a pergunta chamou sua atenção.

Gin, sentada diretamente em frente a ele, pareceu não compartilhar do mesmo interesse no assunto, não tendo se esforçado para descruzar os braços ou sequer abrir os olhos—mas certamente ela estaria prestando atenção em cada palavra dita assim que as respostas começassem a se revelar.

Era comum aquele tipo de assunto aparecer nos raros momentos em que todos do grupo conseguiam algum horário livre, e se reuniam para relaxar nos amplos saguões da Máfia do Porto, cercados pelos mais variados vinhos e as mais confortáveis almofadas. Era o melhor local para esquecer de todo o mundo lá fora e fingir que não passavam de estudantes universitários botando o papo em dia após uma cansativa semana de projetos.

— Primeiro beijo, huh? — Kouyou repetiu baixinho, sua voz quase um sussurro escondido por trás das longas mangas de seu kimono. Ela parecia levemente perdida em memórias há muito enterradas, em raros momentos que ela deixava transparecer a melancolia que ela sempre escondia em seus olhos; mesmo que por apenas um breve segundo.

O tópico havia sido brevemente mencionado por Higuchi, uma mera piada passageira que nem sequer ela tinha dado tanta atenção assim na hora que falou, mas que definitivamente marcou uma impressão em todos os presentes. Foi somente após perceber que seu comentário anterior havia causado reações na sala que ela franziu o cenho e perguntou:

Você já beijou alguém antes? — Ela havia feito a pergunta direcionada a Tachihara, mas todos os presentes imaginavam que não era a resposta dele que interessava para ela.

Somente aquela pergunta específica parecia mudar a reação de Gin, agora tendo aberto seus olhos e olhando curioso entre os presentes. Mas ainda era pouco provável que ela também fora convencido de compartilhar uma história. Então o posto de "nem-um-pouco-interessado-nessa-merda" foi passado para o seu irmão, sentado em uma poltrona a sua diagonal, que simplesmente franziu o cenho e se ocupou bebericando o chão previamente servido ao fingir que não ouvira nada.

Aquele foi somente o ato de abertura para o que logo se tornaria uma longa discussão individual sobre as diferentes experiências vividas por cada um deles ("como foi o seu primeiro beijo?"), começando pelo próprio Tachihara, que pareceu animado a compartilhar as velhas memórias com seus amigos. Alguns estavam focados em sua história ou ocasionalmente soltavam algumas piadas para ele, enquanto outros não demonstraram tanto interesse mas ainda escutavam com atenção.

E então havia o Ryuu e Chuuya, cujas mentes sequer pareciam estar presentes naquele local e hora.

Já era esperado que Ryuu não fosse se interessar por um tópico daqueles, então sua reação não realmente surpreendia ninguém (por mais que, claramente, deixasse uma pessoa específica muito decepcionada). No entanto, alguns olhares foram começando a estranhar... Chuuya estava quieto demais.

Mesmo quando o assunto não lhe envolvia, o ruivo tinha o costume de sempre interagir mesmo assim, ou pelo menos parecer mais presente no momento. No entanto, desta vez ele simplesmente estava inclinado em sua própria poltrona, o copo de vinho na mão ainda pela metade já que ele parecia mais focado em brincar com o líquido dentro do que bebê-lo. Em determinado ponto ele levou uma mão para as têmporas, massageando-as discretamente como se estivesse tentando afastar uma dor de cabeça insistente.

Mas, claro, havia uma razão pela qual ele estava assim; afinal de contas, não havia nenhum dos inúmeros da máfia que foram especificamente criados para salas de jogos. Talvez houvesse ocasionais mesas de sinuca ou tiros de dardos, mas nenhum com especificamente aqueles barulhos de armas intergalácticas que, por alguma razão, ele estava ouvindo em sua cabeça desde que o assunto começou.

primeiros beijos (e as memórias deixadas para trás)Onde histórias criam vida. Descubra agora