Capítulo 7 - Entre planos

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Isis se encontra em um passeio entre o resplendor e o abismo, o vale da sombra e da morte. Era hora de prestar contas, então assistia o seu próprio filme, filme que gravou por 17 anos. Cada acerto era uma pedrinha em sua coroa e cada erro era um peso em suas costas. Tudo passava diante dos seus olhos na velocidade da luz, temer o destino eterno era inexorável, puro desespero.

A alma já não mais pertence a carcaça pouco a pouco. Como um jarro quase sem uma gota de azeite, vazio. Nada mais tinha a contribuir naquele momento. A fatura chegou.

Constantemente racional, não encontrava um se quer spoiler do por vir. Sabia que o futuro não estava em suas mãos.

Sentia tudo ao seu máximo: as mudanças de temperatura de seu corpo; o sufocamento que aperta seu pescoço; a busca não correspondida pela essência da vida; sua alma sentada pronta para levantar enquanto seu corpo permanece deitado, sereno.

Depois de tantos anos, a garota finalmente estava sentindo o relaxamento profundo de corpo e espírito, o sono tranquilo e aconchegante que te faz querer dormir mais e mais. Uma passagem completamente indolor, como sempre pediu desde pequena.

Era um sonho ou um pesadelo a se realizar?

Em meio ao simples sopro que leva a vida, o que valeu a pena no tempo que teve?

— Se apresente diante de mim, minha filha. - Isis estava frente a frente com o divino, seu Pai.

— É chegada minha hora. Me prosto diante de sua face, meu Senhor, e assumo o fardo de meus pecados. Levarei minha cruz.

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave e meu fardo é leve. (Mateus 11:29-30) - Ouvir tais palavras diretamente da boca de teu Pai era um grande reconforto. Ele era amável, repleto de compaixão, podia sentir o carinho inigualável.

— Agradeço o amor que teis por mim, pobre pecadora arrogante de coração.

— Que cruz estás a carregar? O sangue de meu Filho já foi derramado por teus pecados.

— Perdoa-me por minha ignorância, meu Pai. - Isis se ajoelha diante do trono que o Todo-Poderoso está sentado. — Senti saudade de casa, o mundo lá embaixo é muito cruel.

— Entendo que o resultado de minha criação lhe assuste, mas ainda não cumprira seu propósito de forma plena. Não é chegado seu momento de retornar ao lar.

Isis pode notar o Criador se levantar na sua frente e sente a grande mão de seu Pai passar entre seus fios de cabelo. Põe-se a erguer a cabeça e lhe olhar nos olhos, tão lindos quanto as estrelas, olhar brando como a água envolta da árvore da vida.

— Eu não posso ficar aqui com o Senhor?

— Sua alma não anseia verdadeiramente ficar. - Suas palavras eram duras quando necessário, mas era tudo por amor.

Lágrimas descem pela bochecha da Alves ao ouvir aquilo. Não podia esconder nada de seu Pai, pois Ele via seu coração.

— Não lhe mandei ao mundo apenas para uma passagem, volte e cumpra o seu propósito. Irá ter comigo outras vezes. - Deus enxuga as lágrimas refletidas na alma de sua filha. — O inimigo a de te procurar novamente em outros momentos, mas estarei contigo até quando virar as costas para mim.

— Não irei virar as costas para ti, Senhor.

— Irá virar as costas e se revoltar contra mim antes da meia-noite do dia 31 de Dezembro desse ano.

— Se sabes, por que permite?

— Porque Eu Sou Deus. Lhe mostrarei que não te deixo e a última palavra vem de Mim. - Isis recebe um último abraço do Redentor antes de sua alma voltar por inteiro ao seu corpo. — Não deveria ter sido trazida até aqui agora. Aproveite sua volta para o mundo terreno.

Georg Listing & Bill Kaulitz •Disputa de interesses•Onde histórias criam vida. Descubra agora