Entre ruidos e suspiros

Consequências

Como ela pediu, eu vim para o meu apartamento, nossa conversa foi tensa! Fiquei irritada, frustrada, mas talvez eu não tenha usado a melhor abordagem, certo? Nem esperado o momento ideal para tocar no assunto. Mas, não precisávamos chegar nesse ponto.

A cada instante que eu estou na Alb4Us e às vezes até mesmo fora dela, estou buscando alternativas que sejam capazes de manter o maior número possível de empregos. Quase todas as empresas que chegam ao estágio que a Alb4Us está, acabam se dissolvendo, os sócios majoritários perdem um bom dinheiro, mas geralmente eles protegem o seu patrimônio pessoal e quase não são impactados. Contudo, são os trabalhadores, aqueles que dependem desse emprego para sustentar suas famílias que são os que mais sofrem as consequências e carregar o peso dessa responsabilidade, não é fácil e eu esperava que a Valentina entendesse isso.

Me deitei para dormir e ao invés do sono eu fui tomada por uma crise de consciência. Nossa conversa fica repassando na minha mente sem parar, pensando bem eu não abordei o assunto como eu deveria. Eu fui insensível! Analisando friamente, os argumentos que eu levei a ela foram extremamente cruéis, não acredito que tenha sido errado tocar no assunto ou levantar a hipótese da Valentina retornar a empresa mas, sim a forma que eu fiz.

Eu pensei apenas em mim e na Alb4Us, em nenhum momento me coloquei no seu lugar. Eu ainda não sei quais foram os motivos para ela se afastar e nem o que aconteceu, já levantei inúmeras hipóteses do que possa ter ocorrido e não encontrei nenhuma resposta mas, uma coisa é fato, não é birra de garota mimada. Valentina se fecha, e não posso obrigá-la a dividir comigo. Mas como construir um relacionamento dessa forma? Ao mesmo tempo eu a entendo! Contraditório, né? O fato é que eu pisei na bola, fui baixa, usei o pouco que ela dividiu comigo como munição contra ela, quem sou eu?

Valentina deixou claro que não tinha intenção de voltar à empresa, que a ideia de trabalhar novamente com sua família não fazia mais sentido. E mesmo assim eu trouxe o assunto à tona. Como eu disse eu fui egoísta, vi apenas o meu lado, quis salvar o meu emprego e o de tantos outros (pensando dessa forma me sinto menos insensível) foi apenas a "Luiza CEO" falando?

Porém, além da Luiza CEO quero ver ela à frente do projeto, quero ver seus olhos brilharem ao executá-lo, da mesma forma que eles brilham quando ela fala sobre qualquer coisa que envolva arquitetura. Quero ter ela perto e de quebra solucionar os problemas da Alb4Us mas a que custo? Ela vai ficar confortável trabalhando com a irmã que a odeia? Revivendo seus fantasmas secretos? " Que porra Luiza, você precisa consertar isso!"

Como está tarde, sei que ela não vai me receber nesse horário ainda mais chateada. Resolvo mandar uma mensagem no whatsapp mesmo.

" Valen me desculpa! Não fui feliz em não ter conversado contigo antes. Admito que pensei apenas como CEO, e em como você retornando a empresa, resolveria os meus problemas.

Me perdoa?

Me deixa te compensar por esse vacilo? Toma café comigo amanhã?

Beijo, dorme bem!"

A noite foi longa, mal consegui dormir. Fiquei acordada, imersa em meus pensamentos e reflexões. Durante essas horas de insônia, percebi algo surpreendente, eu gosto de estar com a Valentina. Ok, não é tão surpreendente assim! Nas últimas semanas, passei mais noites no apartamento dela do que no meu. O calor do seu corpo, a conexão que compartilhamos, eu nunca mais havia vivido isso depois da Julia. E isso me assusta muito! Mas, me sinto tão bem ao seu lado que parece fazer tanto sentido que tento ignorar o medo do futuro.

Já que não parava de me virar na cama, levantei, tomei banho, me troquei para trabalhar, coloquei a mesa para o café, sentei e esperei a dona dos meus pensamentos chegar para nos acertarmos. Valentina é viciada em treinar, que ama seguir a sua rotina e essa tal rotina incluiu ir para academia antes das seis da manhã, pelo horário ela deve estar retornando e logo ela vai chegar aqui, vamos conversar e estaremos bem de volta.