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  La Haven;  É assim que eles chamam aquilo.

  Para os ignorantes isso não significa nada, mas aqueles que sabem serão assombrados pelo resto da vida.  O telhado tem buracos e a vegetação cresce no pátio e nas paredes.  É um lugar escuro e desolado, e tem uma energia opressora, é um lugar isolado, longe de olhares indiscretos, onde os ricos e poderosos mandam todas as meninas que querem que desapareçam, longe dos olhos da sociedade.  Cercado de árvores e vegetação densa, o local é um refúgio para quem busca encobrir seus crimes, ou os de seus filhos delinquentes.

  Ninguém nunca notava que as meninas desapareciam, era sempre como se elas nunca tivessem existido, nunca eram procuradas.  Como um borrão, uma memória distante.  Sempre com justificativas, sempre apagavam tudo sobre eles, até que se tornava impossível encontrar uma única foto delas.

  La Haven;  O refúgio. O mundo é quieto por aqui.

  Todas as meninas aqui estão mortas, desamparadas, desesperadas.  Quando chegam aqui sempre falam a mesma coisa, um nome.

  Eu tinha quinze anos quando vim para cá, tinha pais viciados que pouco notavam meu desaparecimento. Estavam entretidos demais com a mala de dinheiro. Isso foi há cinco anos.

  Vinte e cinco meninas no total, cada uma com uma história, um nome, um causador.  A diferença é que eu tinha cinco.

  A mansão era cheia de segredos obscuros por trás do rangido da madeira velha.  A aparência abandonada trazia medo a todas as almas que passavam, afastando olhares curiosos.  A casa estava cheia dos piores segredos de toda a Elite de Thunder Bay, inclusive de garotas que eram um segredo em si mesmas, como eu, por exemplo.

  Em cinco anos você aprende a sobreviver e a se adaptar, aprende que é impossível fugir, ficar fora da vista de quem tem olhos em todos os lugares, aprende a negociar, a lidar com as pessoas.  Fiz poucos amigos, a maioria por interesse, algumas pessoas eram piores que outras.

  Foi estabelecido um período de isolamento antes de finalmente poder sair, apenas com alguém acompanhado, obviamente.  Meu tempo foi de cinco anos, um para cada causador.

  Tinha uma garota com quem me dava bem, Iris Dubois, uma garota gentil e amável, filha do vereador.  Ela foi enviada para La Haven apenas por gostar de garotas.  Excluída do mundo porque seu pai não estava satisfeito com sua sexualidade.  Ela foi apenas uma das várias que tiveram suas vidas destruídas pelo puro ego dos homens de terno.

  Ela estava lá há mais tempo do que eu, conhecia melhor as pessoas, sabia mais sobre os segredos.  Quando cheguei, ela me acolheu, me ensinou tudo que eu precisava para sobreviver.  Ela provavelmente era a única garota em quem eu confiava.

  Ela me contava que ninguém nunca esteva livre de La Haven, uma vez lá, sempre lá.  Algumas mulheres alcançaram a liberdade depois de alguns anos, mas são sempre perseguidas ao longo da vida, como garantia de permanecerem sempre caladas.  Outros nunca mais saíram, foram para outro lugar, ainda mais escondidos, ainda pior.  Eu só conhecia uma mulher que foi lá.  Sarah Deschamps, enviada para cá por Gabriel Torrance quando tinha quinze anos, saiu daqui aos trinta e um com uma filha de dezesseis anos, outro dos vários bastardos de Torrance.  Nunca mais se ouviu falar dela ou da menina, tudo sobre elas desapareceu, como se nunca tivessem existido.

Annika Dragna Chevalier, La Haven

Para Evangeline,
O brilho dos seus olhos nunca será apagado, assim como as chamas da sua casa.

𝓐𝐍𝐍𝐈𝐊𝐀 • Devil's NightOnde histórias criam vida. Descubra agora