Capítulo único

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Me sentia sufocada, como se não houvesse oxigênio no mundo, como se tudo fosse um vácuo. Minhas vistas escurecidas, minhas mãos trêmulas, lágrimas descendo dos meus olhos; uma mistura de sentimentos.

E lá vamos nós de novo!

No momento estou me arrumando para a escola, um dos lugares que me deixa mais ansiosa. Estar em casa era um sacrifício, ir para a escola era como assinar uma certidão de óbito, sair de casa era sufocante. Não havia lugar que me sentisse bem.

Terminei de me arrumar e desci, meu pai estava sentado no sofá, dormindo, por ter chegado alterado em casa. Passei por ele e fui até a cozinha, como estava atrasada só peguei uma caixinha de suco e não fiz o café da manhã dele, já sabendo que teria problemas quando chegasse.

Saí de casa e fui para o ponto, logo avistando o ônibus. Assim que cheguei na escola vi que todos estavam me olhando e rindo de mim, como sempre.

Minha respiração voltou a ficar pesada e meus olhos a marejarem, então saí o mais rápido possível dali indo para a sala de aula, onde não havia ninguém. Então, após alguns minutos, a professora entra sendo acompanhada pelos alunos. Estava sentada na última cadeira, bem no fundo.

Ela seguia com aula, até começarem a jogar bolas de papel molhadas em mim. Então, ela virou-se em minha direção.

- Deixem pra jogar o lixo de vocês no lixo depois da minha aula, vai que acaba cedendo mais - fala e virasse para frente de novo

Me senti muito mau, nem os professores gostavam de mim, todos me menosprezavam.

Saí da sala assim que o sinal tocou e fui para o banheiro. Era o único lugar que me deixavam quieta.

[...]

Quando cheguei em casa meu pai estava com um sinto em mãos, e eu já sabia o que aconteceria.

- Pai, me desculpe, eu acordei atrasada e não deu tempo, por favor não me bate - implorei

- NÃO QUERO SABER DAS SUAS DESCULPAS FULAS! É SUA OBRIGAÇÃO ME SERVIR NÃO IMPORTA AS CIRCUNSTÂNCIAS - e então, começou a me bater, bater não, espancar

Já estava acostumada com isso, então só senti tudo calada, sentindo cada contada doer na minha alma, a sentindo se rasgando em várias partes.

Quando ele terminou de me bater me mandou subir para o quarto e tomar um banho, para depois descer e fazer o jantar. E assim eu fiz.

Nos jantamos e eu arrumei tudo que estava bagunçado, lavei a louça e me tranquei em meu quarto. E, como em todas as noites, desabei a chorar. Não me sentir mau por mim mesma não tinha cabimento, e nem tinha tempo para isso, já que quando percebi já estava na hora de voltar ao sofrimento; a escola.

Me levantei novamente e fiz a minha rotina diária. Quando terminei de me arrumar fiz o café da manhã do meu pai e saí, sem comer nada.

Cheguei na escola e mais uma vez fui alvo de zoação. Entrei na sala com os olhos lacrimejando, as mãos trêmulas, a respiração ofegante e um medo incessante de ser espancada aqui também. As lágrimas começaram a cair em minhas bochechas fartas. Vi o momento em que um garoto que nunca tinha visto por aqui entrar na sala e se sentar ao meu lado, e na mesma hora me encolhi na cadeira.

- Não precisas ter medo de mim, não vou machucá-la - falou, manso

- C-como posso confiar? - falo ainda com medo

- Me chamo Dash, e você? - perguntou

- Me chamo Lily - respondo receosa

- Você tem um belo nome, Lily, assim como você! - ele me dá um sorrisinho

O vazio da solidão Onde histórias criam vida. Descubra agora