Capítulo 20 - Nanon

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Acompanho o Ohm até a beira do mar, tento não demonstrar, mas estou tão preocupado quanto o seu instrutor de surf, estamos em Perth, na Austrália, quando ele ficou sabendo que aqui tem uma das ondas mais perigosas do mundo, ele decidiu aprender a surfar, já está tendo aula há duas semanas, ele é muito bom, como em tudo o que faz, mas as ondas daqui são muito violentas, tenho medo que ele acabe se machucando, sem contar os tubarões, tem muitos tubarões na região.
O instrutor segue ele que agora está vestindo o macacão.
- Ohm, eu estou falando serio, é melhor não fazer, até surfistas profissionais evitam essas ondas.
- Vai ficar tudo bem Ethan, você pode ir, o Nanon me ajuda se eu precisar.
O instrutor olha para nós visivelmente ofendido e levanta as mãos.
- Ok, eu me demito, você está por conta própria.
- Obrigado por tudo, Ethan!
Ele acena e se afasta irritado, o Ohm aponta para as costas, eu fecho o zíper do seu macacão e falo no seu ouvido.
- Já falei como eu adoro a forma como essa roupa envolve o seu corpo?
Eu beijo o seu pescoço e ele inclina a cabeça.
- Tem certeza que não quer fazer outra coisa, meu amor?
- Não...
- Não tem certeza ou não quer fazer?
- Não...
- Vamos para o quarto?
- Não ..
- Ohm?
Ele suspira, se afasta e vira pra mim.
- Só uma onda e eu juro que vamos para onde você quiser, Nanon.
Dou um passo na sua direção e toco o seu rosto.
- Por favor, tenha cuidado!
- Eu vou ter, eu prometo!
Eu beijo ele e dou um passo para trás.
- Vai, antes que eu te leve pro deserto do Saara.
Ele sorri e pega a prancha, me beija e entra na água, sobe na prancha e nada até uma certa altura, então senta e fica olhando para o horizonte. Quando a primeira onda vem eu sinto aquele arrepio e tenho um mau pressentimento sobre isso. Ele deita na prancha mais uma vez e nada na direção da onda, quando está perto fica em pé e se equilibra, sinto que estou sento puxado para ele e antes mesmo de tomar a decisão as minhas asas surgem e eu voo até ele, sinto aquele puxão e mergulho na sua direção, vou direto para ele e o tiro da água.
- Ohm, meu amor você está bem?
- Tem um monstro...
Ele tosse algumas vezes e a sua voz está fraca, ele esta quase desmaiando nos meus braços, mas tenta falar mais uma vez.
- Um monstro enorme!
Quando ele para de falar a criatura emerge, uma serpente marinha enorme, Leviatã.
Eu me concentro para deslocar, mas antes que eu consiga a cauda dele está prendendo a perna do Ohm, metade do corpo do monstro muda para a forma humana, ou o mais próximo disso que Leviatã consegue ser.
- Não seja rude, minha criança preciosa, se eu quisesse eu já teria matado o seu brinquedinho, estou aqui para conversar.
- Se está aqui só para conversar solta ele.
Ele dá risada, mas o som parece mais um sibilar.
- Acontece que eu ouvi histórias sobre você, criança, sobre como você tem o hábito de desaparecer de repente, é um truque interessante!
- Eu não sei do que você está falando.
- Que tal não mentirmos um para o outro?
- Solta ele e eu te escuto.
Ele pensa por um momento e solta a perna do Ohm, eu olho para ele que ainda está mal e me desloco para o quarto, deito ele na cama e volto. O Leviatã vai de furioso para surpresa em segundos.
- Você tem dois minutos.
Ele sorri e a sua boca parece cheia de dentes pontiagudos.
- Isso foi realmente impressionante!
- O que você quer?
- Nós queremos... você! Ficamos sabendo que você recusou o céu, então queremos que você se junte ao inferno, com uma criatura divina como você, nem anjo, nem demônio, mais especial do que um arcanjo... Imagine o que faríamos juntos.
- Eu não tenho interesse, a única razão de eu ter recusado o céu é porque eu quero ficar com ele.
Ele dá aquela risada mais uma vez.
- Não seja patético! Um anjo e um Nefilim, jamais daria certo, cedo ou tarde vão achar e matar ele.
- Eu mato qualquer um que tentar.
- Você se superestima, criança, você é especial, mas não é invencível.
- Então não deveria perder tempo comigo.
Ele fica me encarando por um longo momento, então sorri.
- Talvez você esteja certo.
A água a sua volta começa a subir como ondas e de repente ele é a serpente marinha mais uma vez, eu invoco a minha espada e me preparo. Ele tenta me morder várias vezes, quando abre a boca cospe fogo na minha direção, eu sinto um puxão e olho na direção do Ohm, Leviatã me acerta com a cauda me jogando longe, sinto que estou sendo puxado mais uma vez, vejo o Leviatã vindo da minha direção, me concentro, me desloco na frente dele e enfio a espada no seu coração, o monstro começa a desaparecer na minha frente e o demônio afunda no mar, ele é um anjo, um demônio, mas ainda é um anjo, não vai morrer, mas pelo menos vou ganhar tempo, volto para o quarto e um cão do inferno está encima do Ohm, ele enfia a faca nele e alguma coisa preta começa a cair no Ohm, então o cão morre, vejo um movimento do lado de fora da janela, me transporto e mato dois gárgulas que estão observando. Volto para o Ohm e o abraço.
- Desculpe te deixar sozinho, você está bem?
- Onde você estava?
- Nós não temos tempo, temos que sair daqui o mais rápido possível.
Pego as nossas malas que estão prontas e seguro a sua mão.
Fecho os olhos e começo a mudar de lugar várias vezes caso estejam nos rastreando, paro no meio de uma floresta e ele olha em volta encantado.
- Para onde viemos?
- Amazônia.
- Brasil?
- Sim.
Ele sorri mais uma vez, então me olha sério.
- Onde você foi?
- Falar com Leviatã.
- Aquela coisa era o tal príncipe do inferno?
- Era.
- O que ele queria?
- Que eu me juntasse a ele, mas está tudo bem, eu consegui ganhar um tempo para nós.
- Nós vamos ficar aqui?
- Não, podemos ir para qualquer lugar.
- Podemos apenas ir para um lugar onde possamos não fazer nada? Estou cansado dessas coisas nos perseguindo.
Eu toco o seu rosto cansado e o beijo, quando me afasto estamos nas montanhas da Islândia.

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