Único

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Notas iniciais: Olá! Tô de volta com mais uma historinha sobre eles! 😁 Eu postei no Twitter que eu tive uma ideia de uma história deles adolescentes, já sendo amigos e saiu esse surto aqui. Nesta história, o Ramiro, apesar de ter 17 anos ainda, já trabalha na fazenda e faz EJA à noite. O Kelvin tem 15 e estuda no turno regular.

Espero que goste e boa leitura! 🙏

***

— Por que tá com essa cara amarrada, ô, Pequitito? 

Kelvin revirou os olhos. Tudo o que não precisava era de Ramiro pegando no seu pé. Sabia que não tinha sido uma boa ideia vir se esconder na mata, mas em Nova Primavera, como em provavelmente qualquer cidade pequena, tropeçaria em conhecidos em qualquer lugar que estivesse na cidade. Por isso tentara a sorte perto do rio e subira numa árvore. Os galhos grandes e torcidos eram confortáveis o suficiente para que conseguisse sentar e se esconder de todos por algumas horas. Mas, aparentemente, nem ali teria paz. 

Pensou se valia a pena responder ou se ele se mancaria e o deixaria em paz caso se mantivesse calado. Seu problema era embaraçoso o suficiente sem ter Ramiro rindo dele também. 

A esperança de voltar a ficar sozinho se esvaiu quando o rapaz se aproximou mais da árvore onde Kelvin estava e começou a balançar um de seus pés. Ramiro chegou a segurar um calcanhar e pareceu achar graça no tênis amarelo de Kelvin. 

— Solta! — mandou, dando um tapa no braço de Ramiro. 

— Eita que ele tá brabo… — respondeu o outro, com deboche. — Fala logo o quê que te deu!

— Pra que você quer saber? Não tem nada a ver com você, é um problema idiota meu, me deixa em paz! 

Kelvin pulou do galho e deu as costas à Ramiro, dirigindo-se à cidade. Talvez tivesse sorte e sua tia Cândida o deixaria ficar no bar até que fosse hora de ir para casa. Ou talvez pudesse achar outro lugar para se esconder de todos. 

Ramiro o segurou pelo braço, impedindo-o de sair. 

— Eu fiquei sabendo o que aconteceu na escola hoje. 

Kelvin congelou. Tudo o que mais queria era esquecer como os colegas riram dele, como apontaram e fizeram piadas. E como se sentira humilhado com aquilo. Tentava se consolar dizendo para si mesmo que os colegas estavam errados ao julgá-lo. 

E daí que não tinha beijado ninguém ainda? Tinha quinze anos, era gay e morava numa cidade de interior. Não era tão chocante assim que não tivesse encontrado um rapaz disposto a beijá-lo. Além disso, não beijaria qualquer um. Ser BV não era uma doença, algo de que precisava se livrar. E se realmente pudesse escolher, tinha uma boca em particular que gostaria de beijar mas não se atrevia a ter muita esperança em realizar esse desejo. 

Ramiro não soltou seu braço, mas segurou com menos força. Kelvin expirou e sentiu sua raiva deixá-lo, sendo substituída por vergonha e humilhação. 

Sua relação com Ramiro era… complicada. Ajudava-o com os trabalhos e provas e conversavam sobre muitas coisas. Eram amigos. Mas Kelvin não queria admitir nem para si que estava gostando de Ramiro. Gostando gostando. Sabia que era uma burrice, que não devia alimentar esperanças mas às vezes tinha a impressão de que ele o olhava de uma forma diferente… Fechou os olhos com força e puxou o braço, surpreso quando o sentiu soltar. Sabia que não podia se dar o luxo de se iludir assim. Ramiro era hetero. Não tinha razão para acreditar no contrário. 

— Vai rir de mim também? — sua voz saiu tão baixa que apostaria que Ramiro não teria escutado se estivessem em um lugar mais movimentado. 

— Ô, Kevinho… 

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