XXII - Án þín

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Lentamente, minhas pálpebras se erguem, revelando o cenário ao meu redor. Estou deitada em uma cama, e a penumbra do quarto destaca-se. O som suave do vento lá fora cria uma sinfonia tranquila que me lembra exatamente onde estou, na casa da minha avó, em Rogaland. É quase surreal pronunciar essas palavras após tudo o que vivenciei.

Eu sonhei com cervos e lobos de novo, mas desta vez não carregam o peso de um pesadelo. Ao menos, é essa a sensação que transmitem. Eu ainda consigo me lembrar dos detalhes e... daquele lobo negro.

Uma das minhas mãos se ergue instintivamente para coçar os olhos, como se quisesse dissipar os últimos resquícios do sono.

Embora eu desejasse prolongar o conforto do leito e aguardar pacificamente pelo desvanecer da noite, a realidade me chama. A fome insinua-se, e a consciência do meu próprio odor desagradável impulsiona-me a uma decisão inevitável. O olhar se dirige para o meu quarto, onde diviso a minha mochila apoiada gentilmente na parede. Provavelmente foi a minha avó quem a deixou ali.

Apesar de tudo, eu ainda me sinto feliz por me encontrar com a minha avó, estou feliz por estar viva e que toda a dor que eu senti não tenha sido em vão, mas ao mesmo tempo, algo me incomoda. Eu sinto que eu deveria estar mais feliz? Algo me preocupa, e claro, parte dessa preocupação vem do Fenrir. Por um momento eu pensei que todos os meus problemas fossem acabar assim que eu me encontrasse com a minha avó, mas não é isso que eu sinto.

Por um momento achei que eu pudesse acordar e ainda ver o lobisomem do meu lado, mas eu estou sozinha. Me sinto magoada de mim nem ter me conseguido me despedir dele. Ele apenas desapareceu, sem dizer mais nada. ele fugiu? Depois de tudo o que passamos nossa relação vai simplesmente deixar de existir? Eu deveria me importar com esse tipo de coisa? independente da resposta certa, eu não consigo negar os meus sentimentos, mas isso é algo em que eu não posso contar a minha avó de jeito nenhum.

Devido ao fato de eu ainda não estar usando calças, eu sinto um forte frio nas minhas pernas desde quando começou a nevar. Era suportável em Garoar, mas em Rogaland é mais severo. Eu respiro fundo e me levanto da cama.

Não estou vestindo meu equipamento, nem mesmo minha capa, apenas o meu manto negro e minhas botas. Decido sair do quarto e me encontrar com a minha avó.

Ao entrar na sala principal, o fogo aconchegante da fogueira ao centro me abraça com seu calor, e próximo a ele, eu vejo uma senhora de longos cabelos brancos a devorar um pedaço de queijo. Ela está sentada em uma pequena mesa de jantar ao lado da parede, com duas cadeiras vazias. Logo minha avó nota a minha presença e decide me cumprimentar:

- '' ei querida, quando puder, diga para aquele seu amigo padeiro que eu adorei o presente em que ele me mandou, haha!''

Diz Agda em um tom animado. Eu estou tão distraída nos meus próprios pensamentos e preocupações que eu não consigo compartilhar da mesma sensação, bem que eu gostaria. Eu me aproximo da minha avó e puxo uma cadeira em sua frente para me sentar. Agda percebe o meu desanimo, e preocupada pergunta:

- '' Querida, está tudo bem?''

Instintivamente, meu olhar se direciona para o dela. Eu não posso dizer minhas reais preocupações, e isso me sufoca, então apenas dou uma resposta casual, e uma pequena mentira:

- '' não é nada, é só um pouco de cansaço. Depois de dias viajando...a senhora deves sabe como é, não é?''

Minha vó solta uma risadinha convencida e então diz:

- '' minha querida, tenho tantas histórias que eu nem te conto. Sim já viajei bastante, já dei e levei muita porrada, mas eu nunca cheguei a perder um membro até agora, então...meus parabéns.''

Histórias De Inverno (A Chapeuzinho Vermelho e o Lobo)Onde histórias criam vida. Descubra agora