Verdade seja dita - Nicolle Souza

Verdade seja dita

"Uma verdade universalmente mundialmente consagrada é a de que um homem solteiro, dono de uma grande fortuna, deve estar precisando se casar". Como eu gostaria que isso fosse verdade. Porque um cara bonitão e cheio de grana não poderia simplesmente aparecer do meu lado?

—Com licença! Esse aqui é o meu lugar, será se você podia tirar sua bolsa? — claro, meu querido. Por você eu tiro até outras coisas.

—Sim, desculpe — ele sorri pra mim e minha nossa que cara bonito.

—Sem problema — então ele acomoda seu corpo gigantesco recheado por músculos no assento ao meu lado. Se esse cara for rico, hoje vai ser definitivamente meu dia de sorte. Já consegui comprar uma passagem com 50% de desconto e do jeito que está minha situação financeira qualquer misero desconto é digno de comemoração.

— Orgulho e preconceito, humm? Um dos meus favoritos — ele aponta com o queixo o livro. Okay, é oficial. Acabei de encontrar o amor da minha vida.

—Sério? É o meu livro favorito! — sorrio e devo estar parecendo uma bobona agora porque qualquer pessoa que demonstre ter bom gosto literário se torna mil vezes mais atraente pra mim.

—Também trouxe meu exemplar — abre sua mochila que estava encostada no chão e me mostra o livro.

— E vem cá, o que você vai fazer na cidade? — as pessoas não dizer que devemos agarrar as oportunidades que aparecem? De jeito nenhum vou deixar esse deus grego sair da minha vida.

—Vou pra um seminário — ué, isso não são aquelas apresentações que a gente faz no colégio? Mas não quero pagar de burra perguntando então murmuro um "aham" e sigo sorrindo.

—É um lugar onde se formam padres — meu sorriso murcha.

—Vai visitar algum parente? — a esperança é a última que morre.

— Na verdade vou ingressar no meu primeiro ano como seminarista — é sério? Minha vida é mesmo uma droga.

— Ah, tá — fico em silêncio. Ficamos calados por alguns minutos até ele quebrar o gelo e perguntar.

— Como você se chama? Conversamos e nem sabemos o nome um do outro.

— Hannah — digo simplesmente. Ele assente com a cabeça.

— O meu é Josemaría — viro minha cabeça para olhar pra ele. Que nome esquisito.

— Que... diferente — comento

— Meus pais são devotos de São Josemaría Escrivá, então resolveram homenagear ele .

— E você, Hannah, tá indo pra onde? — resolvo dizer a verdade. Ele é um amor impossível mesmo para mim.

— Para o presidio — consigo ver seus olhos dobrando de tamanho, rio da cara dele

— Relaxa, cara. Fiz nada de ilegal não — fiz sim, mas não vou contar — Só vou visitar meu irmão — olho para aqueles lindo olhos verdes e ele desvia do meu olhar.

— Você pode parar de tentar flertar comigo? — olho pra ele indignada a

— Como é que é? Você não tem certeza da sua decisão, queridinho? Isso não é problema meu! — ele se vira de novo pra mim.