Velejar

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Zeke se revelou um homem diferente da imagem que eu tinha dele durante a batalha em Paradis. Sua postura rígida e autoritária havia dado lugar a uma versão mais humana e acessível. Ele era inteligente e perspicaz, fazendo com que nossas conversas fluíssem naturalmente. Parecia que, naquela noite, éramos apenas duas pessoas compartilhando histórias e risos, esquecendo o peso de nossos passados.

Luz, por sua vez, observava a interação entre nós com um sorriso compreensivo. Ela havia percebido a mudança no ambiente e, de alguma forma, parecia aprovar. Sua presença alegre e acolhedora tornou o jantar ainda mais especial.

À medida que o jantar chegava ao fim, senti uma mistura de sentimentos. Havia um toque de nostalgia em nossa conversa e um senso de encerramento em relação ao passado. Zeke se levantou para se despedir, e eu o acompanhei até a porta.

- O que acha de passearmos pela cidade como fazíamos antigamente? - ele disse, com brilho em seus olhos. Por um momento, pensei em recusar sua proposta, mas Luz me empurrou um casaco em mãos.

- Ainda está muito cedo, acho que vai fazer bem à senhora caminhar um pouco! – ela sorria enquanto nos expulsava de casa. – Divirtam-se!

Por um momento, hesitei, mas o brilho em seus olhos era cativante. Além disso, Luz parecia apoiar a ideia, e seu sorriso era contagioso.

Aceitei o casaco de Luz com um sorriso grato, e o toque do tecido em minhas mãos me fez lembrar de todas as aventuras que compartilhamos juntos. Enquanto nos dirigíamos para fora de casa, senti o ar fresco da noite e a sensação de liberdade que há muito tempo não experimentava.

Caminhando pelas ruas iluminadas de Liberio ao lado de Zeke, fiquei surpresa com o quanto a cidade podia ser encantadora durante a noite. Zeke notou a aliança em minha mão esquerda, um objeto que guardava uma história complexa entre nós. Ele segurou delicadamente minha mão, e o toque trouxe à tona memórias.

- Percebi que você não jogou fora a aliança que eu te dei - disse ele, puxando minha mão para si.

- É, eu tenho boas lembranças do nosso casamento. Você, por outro lado, não está usando a sua aliança - Eu respondi com uma pitada de ironia - Qual foi, barbudo, por acaso estava atrapalhando suas idas aos bordéis? Ou será que você voltou com a sua ex?

- Nenhuma das alternativas – Zeke respondeu levemente irritado – Você deve imaginar que em um possível combate corro o risco de perder algum membro do meu corpo. Seria uma lástima acabar perdendo não apenas minha mão, mas também nossa aliança. Por isso, achei mais seguro colocar a minha em um cordão – disse ele, exibindo uma corrente fina de onde pendia a aliança com meu nome gravado – Assim é mais seguro. Só corro o risco de perdê-la caso cortem a minha cabeça.

- Do jeito que fala, até parece que isso é difícil de acontecer – Eu não pude deixar de provocar.

As luzes que adornavam as ruas e os edifícios criavam uma atmosfera mágica, e as estrelas no céu acrescentavam um toque de beleza natural. Nossas conversas fluíam facilmente, como se estivéssemos retomando um antigo hábito.

- Já fazia muito tempo que não te via sorrir – o loiro comentou, como quem não quer nada - gosto de você assim!

Fiquei surpresa com sua observação, e minha expressão suavizou enquanto caminhávamos juntos.

- Como pode dizer que gosta de mim? Eu sempre sou grossa e fria quando estou com você.

Zeke olhou para mim com um olhar perspicaz, como se lesse minha alma.

- Acredito que seja assim porque alguém te machucou profundamente, e estou tentando curar as cicatrizes que você carrega.

Suas palavras me tocaram profundamente, e por um momento, senti que havia uma verdade naquilo. No entanto, pensar nisso me deixava constrangida. Passei a mão direita pela nuca e a escorreguei até chegar ao meu peito. Contei até dez mentalmente e respirei fundo.

Freedom Wings - Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora