feel something.

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Eu trago drama / Com minhas garotas atrás – Drama, aespa


Gotículas minúsculas de tensão, sexo e água pendiam no lustre estroboscópico. Era o melhor hotel de Nova York e Minjeong podia sentir a vibração plasmática da floresta de concreto lá fora, a orquestra transitando na pulsação dos faróis coloridos. Se ela se aproximasse um pouco mais do beiral da sacada, podia diferenciar o vermelho do verde e a transição de suas oscilações entre o amarelo. E não seria nem um pouco diferente de como ela se sentia aquela noite.

Jimin acabava de sair do banho, secando as pontas do cabelo com uma toalha completamente encharcada. Minjeong sentia que ela a olhava como se quisesse descascar tomates com uma britadeira, e grande parte dos episódios de misericórdia a deixava com o sulco da polpa escorrendo pelas pernas, um tradicionalismo exacerbado de quem amassa uvas com os pés e antropofaga amor feito a industrialização bovina: resumidamente, o nervosismo manipulativo a deixava entorpecida, sem caminho de volta. Jimin a tinha amarrada aos nós dos dedos, e, curiosamente, ela nunca cansava de dançar a valsa de sua ditadura particular. Portanto, o martírio encoberto, emergindo da cavidade profunda do coração para escorar até as paredes da traqueia, e ela nunca teve muito tempo de verdade.

"Você trabalha amanhã"?, perguntou, largando a toalha aos pés para se aconchegar preguiçosamente na cama de casal. Minjeong engoliu em seco.

"Sim", afastou-se do beiral, revisitando as memórias exotérmicas daquela noite em fim. Minjeong estava exaurida, carregando o peso de uma vida pela metade com a força que Jimin lhe emprestava entre uma mordida e outra, porque, afinal de contas, tudo diz respeito ceder e arrancar.

O sexo grudento em sua pele abstraiu a atenção. Jimin expelia palavras como gozo e ela só conseguia pensar no mundo particular que elas acessavam sempre que estavam na pele uma da outra, como se essa visitação dependesse de ossos, carne e alma, a essência existencialista de metades perdidas se encarando durante um falso momento de vulnerabilidade para criar alusões de amores passados e selvageria incógnita. O cenário contrabandeado de expressões utópicas do romantismo violentamente megalômano, esse amor perturbador que Minjeong sentia pelos nós dos dedos, pela cavidade da boca, pela fluoxetina raspando a garganta de Jimin num sufocado pedido censurado de ajuda, censura essa proveniente de uma mentira orquestrada pelas mesmas buzinas saturadas novaiorquinas. E ela pensava, do fundo do coração, que se quisesse manter pelo tempo que fosse, esse mesmo cenário tecno futurista se resvalaria em sua história carcomida, e a falta das traças bailarinas anunciam esse presságio cruel de amores que não foram feitos pra ser, abandonados por inteiro para serem lembrados em toda sua dor.

"Eu sei que você precisa descansar para a auditoria de amanhã e que está tarde, mas tenho algo a te contar que não pode esperar", e, então, aquele mesmo sorriso sacana que quebrava a espinha de Minjeong ao meio.

Enquanto as gotículas escorriam e pingavam continuamente sob o colchão, Minjeong sentou calculada na beira, esperando.

"Voltei com Giselle".

A floresta de concreto lá fora, os resquícios do asfalto penetrando o subconsciente fragilizado de Minjeong para lembrá-la do lugar de origem primário; um amor inexistente que viaja entre detritos enferrujados e hiper saturados de superficialidade compartilhada. Ela quis gritar, como se o peito clamasse a guerra justiceira de uma carnificina conjuntiva, mas o catatonismo espelhado visitou os membros terrenos, e, aos poucos, se instalou massiva na garganta. Os maiores de seus problemas nem diziam respeito a falta de reciprocidade em si, porque pessoas como Jimin jamais amariam Minjeong, e sim, sobre o cutâneo palpitar noradrenalina não posso mentir se eu partir sem você o que se arranca fica para trás sem a particularidade de se ceder porque quer e isso não é nada demais haha.

Aproximando-se felina, descansou a cabeça no colo de Minjeong. "Não me olhe assim. Você sabe que tipinhos como Giselle exercitam minha voracidade dramática, ainda mais quando não merecem nada parecido em troca". Seus olhos negros escalavam para dentro da garganta de Minjeong como os efeitos farmacológicos da fluoxetina e ela se imaginou tomando três cartelas de trinta comprimidos. "Existem os perdedores, que são como uma farpa dolorosa no canto dos olhos. A fúria de olhá-los com incômodo cega a impotência existencial de se importar o suficiente. Era pra ser descartável. Existem pessoas como eu e você, Winter, vorazes, a mordida venenosa na pele maçal que não consegue controlar os impulsos colossais da própria insuficiência de ser além do que o próprio corpo aguenta. E existem pessoal como Giselle, que o fator ordinário corrobora minhas vontades intrínsecas de um pouco de adrenalina, impulsos nervosos, a dança sináptica do século! Vamos, você quem se formou em medicina, não deveria estar curvando as sobrancelhas desse modo"...

"Eu não sou como você", Minjeong diz retruca mais alto e mais rápido do que gostaria, e ela sabe que isso expõe facilmente uma vulnerabilidade praticável.

Jimin revira os olhos, levantando de seu colo. Seus dedos longos e afiados encaminham na direção do pescoço e ela lembra da época em que cursava psicologia, isso antes de largar para se formar de acordo com a vontade dos pais. Mão faz, mão agride, oh, meu deus, eu consigo te ver através dos meu próprios desenhos soníferos

"Eu preciso que você se livre de todas as roupas agora. Ela vai chegar em dez minutos", Jimin começa a desabotoar novamente a camisa de Minjeong.

Ela sabe. Ela sempre soube. Porque pessoas como Jimin arrancam sem ceder, sem se preocupar com a fome antropofágica de anular uvas durante o luar mecanicista de psicopatologias psicodinâmicas, em que a psicose profunda da mente invade uma cena novaiorquina durante a madrugada para nos convidar a experienciar o verdadeiro drama existencial e todas as vontades subliminares que nos visitam quando o calor da própria insuficiência berra dentro dos ossos. Eles querem o que é podre, poderosamente destrutivo, incalculavelmente mortal e totalmente danoso para que lhes seja real, para que alimente o que não pode ser surrado, o que não se pode ter em abundância, que possa ser aplaudido, a sina final, o ato imoral, a escabrosa verdade por trás de toda alma hollywoodiana. O verdadeiro drama.

"Vamos fazê-la sentir alguma coisa".

ㅡ drama. aespa | winrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora