Lágrimas

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No final, ele havia adormecido mesmo contra sua própria vontade. Niklaus estava muito ferido, os combates contra Mikael eram sempre viscerais e duros demais, não era como se ele estivesse lutando contra qualquer outro vampiro mas sim contra o homem que por anos chamou de pai e por ele foi rejeitado quando soube da traição de sua mãe. 

Enquanto dormia, seus sonhos o projetaram direto para o dia em que ele matou para primeira vez, despertando a maldição e assim, virando uma criatura jamais vista em toda a existência: um hibrido. 

Desencadear seu lado lobisomen derivado do homem com quem sua mãe havia tido um caso, e o homem que havia chamado de pai começou a rejeita-lo, em uma época antes das decepções e dos segredos revelados. Tudo que ele conseguia se lembrar daquele dia era de sentir uma enorme dor em todo o seu corpo, seus ossos se quebrando a cada respiração, seu peito doendo e o medo, o medo palpável do desconhecido em seus olhos inocentes. 

E o que ele podia fazer naquele instante a não ser gritar por seu pai? Pedir para fazer toda aquela dor sumir, implorar por ajuda? Mas além disso, tudo que ele recebeu por desprezo por um pecado que sua mãe cometeu. Que tipo de pais ele havia tido? Esther havia tentado mata-los mais vezes do que ele podia contar mas por causa de um idealismo falso e anêmico, já Mikael, ele não queria matar a todos, mas a Klaus sim, já que ele era o filho de uma traição que sua mulher o fez criar por tantos anos. 

O ser mais poderoso do mundo, implorando por amor. Era patético relembrar tudo isso em seus sonhos, mas era quase inevitável, ao ponto de fazer lágrimas se formarem em seus olhos fechados e escorrerem pelas extremidades de seu rosto como cascatas. 

Nadya estava sentada ao lado da cama em que o pequeno vampiro estava deitado, ela estava saboreando uma taça de vinho servida por suas filhas atenciosas enquanto velava pelo sono do menino até que seu olfato identificou um cheiro pouco comum por ali. Sua cabeça virou-se para Niklaus e ela pode ver as lagrimas escorrendo enquanto o pequeno se movia as vezes subitamente como se estivesse tendo um pesadelo.  

- Oh, pobrezinho. - a grande mulher se levantou de onde estava sentada e se sentou ao lado do corpo do vampirinho. - Ssshh, esta tudo bem, esta tudo bem, venha aqui menino. - ela levou suas mãos cuidadosamente para baixo do corpo de Niklaus e o levantou da superfície macia e o trouxe para seu colo, envolvendo a pequena estrutura corporal dele em seus braços e afagando seus cabelos. - Abre os olhinhos, pequeno, você esta tendo um sonho ruim...

- Mãe? O que ele tem? - quis saber Ornella voltando com uma garrafa de vidro que tinha um liquido escarlate dentro e na boca da garrafa havia um bico de borracha que mais parecia um mamilo, era como se fosse uma mamadeira extremamente antiga. - Aqui... eu trouxe mais sangue quente para ele...

- Obrigada, filha. Esse vampirinho esta tendo um pesadelo, eu acredito... - Nadya aceitou o objeto de sua filha ruiva e com uma habilidade invejável ela deitou Niklaus em seu colo, tendo a cabeça do menino pousado na dobra de um braço e o corpo dele apoiado sobre as pernas e próximo ao seu busto farto. - Olha só como ele esta chorando, pobrezinho... - ela usou o polegar de sua mão que não o segurava para afastar as lágrimas que ainda estavam descendo sem parar. 

- O corpo dele parece ter se recuperado bem. - ponderou Ornella observando o garoto sobre o colo de sua mãe. - E ele não é um vampiro como outros que já vimos, ele tem algo de diferente nele, mãe, aqueles olhos amarelos...

- É, eu já tinha visto isso em algum lugar mas preciso de mais evidencias para ter uma certeza. - afirmou a grande mulher ruiva, até porque onde elas moravam não haviam muitos seres diferentes dos vampiros, suas filhas, por exemplo, nunca tinham visto nem mesmo uma bruxa de tão perto. Talvez uma bruxa pudesse explicar o que exatamente Niklaus era. - Querido... abra os olhos, por favor... - ela pedia enquanto sacudia o pequeno vampiro em seus braços no intuito de faze-lo despertar daquele pesadelo, mas ele continuava chorando silenciosamente sem acordar. 

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