1: tudo nas mãos deles.

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Ramiro abriu os olhos.

A luz que entrava pela janela, denunciava que alguém tinha aberto ela e tinha se esquecido de fechar. Ele suspeitava que propositalmente.

Afirmou essa teoria quando virou o pescoço pro lado, vendo nada mais nada menos que um espaço vazio entre os lençóis brancos, esticou o braço e sentiu o tecido gelado. Já tinha saído dali há algum tempo.

Agradeceu mentalmente, se espreguiçando logo em seguida e ponderando se realmente iria levantar pra tomar café ou abrir a janela e se jogar.

Felizmente, optou pela primeira opção, se levantou, arrumou os lençóis da cama e foi diretamente para o banheiro dentro da suíte.

Tirando as peças de roupa que usava - ele costumava dormir totalmente pelado, mas na situação que ele se encontrava isso estava fora de questão - começou a pensar no cenário fodido que estava vivendo.

Ramiro Neves era simplesmente o nome mais falado, mais temido e mais cobiçado do Rio de Janeiro.

Ou o segundo. Podemos discutir isso mais para frente.

Desde que ele tomou nas costas o fardo de ser o braço direito de Antônio La Selva, muita coisa mudou, tanto o poder que seu nome carregava, até o que ele comia em suas refeições. Literalmente, porque Ramiro viveu nos subúrbios do Mato Grosso com sua mãe e três irmãos até os dezessete anos, sua mãe era usuária, então uma boa refeição era algo que ele via raramente, apenas em datas comemorativas se tivesse sorte, e quando você è o terceiro irmão entre quatro dificilmente você tem prioridade ou carinho de qualquer um deles, e no cenário de ramiro, mais dificilmente ainda de sua mãe. Com apenas oito anos Ramiro já fazia tudo sozinho, um bico de trabalho pra conseguir comer, lavar roupa, cozinhar, estudar - na medida do possível - e claro, as coisas erradas, ele tinha doze anos quando entrou em um beco e viu o exato momento em que um cara passava uma encomenda para outro cara, ele começou a ver isso corriqueiramente durante suas aventuras pelos bairros e mata adentro de sua cidade e mesmo que tenha demorado um tempo pra descobrir que a tal encomenda se tratava de drogas, ele já tinha se tornado capacho de alguns "mini roubos" onde era recompensado com uma mixaria pra conseguir comer pelo menos um chocolate depois de uma refeição. ele tinha quinze anos quando presenciou um assassinato, è loucura ouvir isso, è loucura não pensar que ele pode ser um homem totalmente quebrado e desestruturado hoje por conta de seu passado, mas isso è assunto pra outra momento.

Dois meses depois que ele completou dezesseis, sua mãe morreu, pra surpresa de muitos não foi de overdose, mas sim no caminho pra comprar drogas, uma moto em alta velocidade atingiu uma mulher que estava quase parando, e o estrago aconteceu. Ramiro queria dizer que sentiu falta, mas como ele poderia sentir falta de algo que ele nunca teve verdadeiramente?

Doeu, è claro que doeu, mortes machucam, isso é fato, mas outro fato é que elas são inevitáveis. sorrateiras, mas inevitáveis.

E enfim, aos seus dezessete anos, em mais um bico aleatório onde ele era feito de bode expiatório, ele trombou com Antonio La Selva.

Esse homem era um vigarista, mas era isso que o tornava tão bom sabe? Tão empoderado e tão La Selva.

Esse sobrenome... ah! esse sobrenome carregava tantas coisas, tantas aquelas que ramiro até hoje não poderia imaginar! Eles eram o nome do crime, o nome do poder, o nome do medo, o nome do desejo e o nome do despojar de anseio a um lugar no pódio que a própria sociedade resolveu instaurar e os coloca bem no topo, com holofotes em sua direção.

Antonio viu potencial em Ramiro, mesmo ele estando apenas com seus dezessete anos, totalmente virado a besta, sem saber receber ordens sem questionar e com um péssimo jeito para trabalho em equipe. Mas ele mesmo assim o recrutou.

AFANADOR.Where stories live. Discover now