Aquele que queria fugir

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- Então... ele está aqui desde que eu saí, certo? - Eliza perguntou enquanto via seu mordomo e fiel amigo, Lewis, preparar uma bela xicara de porcelana branca com detalhes em dourados e dentro contendo um cheiroso chá de camomila.

- Exatamente. - Lewis confirmou terminando de encher adequadamente a xicara e a segurando pelo pires, entregando nas mãos de sua senhora. - Quando dei conta de que a senhora havia saído, sua mãe chegou aqui com Jimmy...

- E você está o chamando de Jimmy mesmo e não de James? - uma das sobrancelhas de Eliza se levantou curiosamente dando um gole delicado em seu chá vendo o mordomo suspirar cansadamente.

- Ele costuma deixar bem claro como quer ser chamado.

- E... como tem sido os dias com ele aqui? - a mulher grisalha perguntou querendo soar menos temerosa, pelo comportamento de outrora que ela havia presenciado do vampiro mais novo, ele certamente não era o recém-nascido mais fácil de lidar. Ela recordou brevemente de seu sobrinho Benjamin, filho mais novo de sua irmã Mary.

Céus, a adaptação daquele garoto a nova realidade e as regras do clã haviam sido um verdadeiro pesadelo para ela que estava morando longe, imagina para a mãe dele que tinha que lidar com tudo relacionado aos filhos porque seu marido era tão despreocupado com a criação das crianças que acabava deixando tudo nas costas de Mary. Do que adiantava ser um matriarcado se sua irmã parecia viver como uma mãe solteira mesmo sendo casada?

- Não foram dias fáceis, devo admitir para a senhora. - Lewis levou suas mãos para suas costas, as prendendo uma na outra e ficando em uma posição bastante reto. - Ele não me parece ser um mau menino, não mesmo, mas ele ainda não esta completamente adaptado a nossa realidade e aos nossos meios de cuidar das coisas.

- Isso que dizer...

- Ele não aceitou que eu o banhasse, na verdade, ele fez um belo escândalo para que eu saísse de seu banheiro quando eu havia apenas ligado a torneira para deixar a banheira encher. - recordou o mordomo ao relatar como haviam sido seus dias com a presença de um recém-nascido naquela casa.

- Bem, eu acredito que ele possa fazer isso sozinho, talvez não seja tão mal assim que ele tenha essa autonomia. - Eliza ponderou tomando outro gole breve de seu chá, vendo seu amigo franzir um pouco a boca. - O que? Qual o problema?

- Vieram instruções bem especificas de como cuidar de um recém-nascido em seus primeiros dias nessa nova vida dentro das coisas dele. - Lewis confidenciou a sua senhora que parecia um tanto surpresa com isso, ele se virou e caminhou até uma das repartições dos armários da cozinha e de lá ele tirou um cartão escrito "Orfanato Santa Joana Darc". - Quando eu desfiz as malas dele, isso estava dentro da bolsa que vinha também uma mamadeira de silicone, algumas vitaminas para produção de leite materno... - o estomago de Eliza revirou-se novamente ao ouvir sobre aqueles benditos comprimidos para produzir leite, que ela definitivamente não iria usar. - Além de duas bolsas de sangue de cortesia do orfanato, a propósito, ele aparentemente ele é alérgico a A-.

Parecia surreal, mas vampiros não podiam beber de qualquer sangue, bem, eram raros os vampiros que podiam, na verdade, mas cada um deles tinham um tipo de sangue na qual eram mais receptíveis ao ponto dele realmente chegar a ser extremamente saboroso. Eliza preferia sempre tomar B+, mas podia tomar outros tipos de sangue, não faria sentido que a única vampira que andava ao sol teria restrição a algum tipo sanguíneo. Já Lewis não tomava o tipo AB+ de nenhuma forma, ele era alérgico e se por algum descuido ele acabasse se alimentando de alguém com esse tipo de sangue, bem, era o que os humanos chamavam de intoxicação alimentar. Basicamente a mesma coisa.

- Devemos sempre nos certificar que ele esteja limpo, ou seja, precisamos banha-lo independentemente se ele aceita isso ou não, de acordo com esse cartão é absolutamente normal um recém-nascido ser agressivo e pouco colaborativo pelo menos nos primeiros anos de vida como vampiro. - Lewis continuou lendo o cartão enquanto uma de suas mãos o levava até a frente de seu campo de visão e a outra continuava atrás, em suas costas.

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