Havia dois anos desde a morte de Eren e o fim da maldição dos titãs e era também a primeira vez que Armin voltava a ilha. Tudo parecia tão agradável e familiar ao passo que era tudo diferente, tinha lidado com burocracias e política nos dois últimos dias e finalmente poderia ter um descanso até os próximos compromissos. Decidiu começar por aquele lugar, o qual apenas ele e seus amigos mais próximos tinham acesso, o local que era mantido em segredo para que Eren pudesse ter seu merecido descanso, pegou uma garrafa e dois copos, colocou em uma bolsa e seguiu caminhando até a árvore.
O caminho era como reviver vários momentos do trio inseparável, chegava a ser estranho que agora faltava as muralhas a fechar a visão do horizonte, era realmente lindo o infinito a sua frente.
Era lindo, mas qual o preço a ser pagar por isso? Amigos mortos, medo generalizado, mas havia esperança para o futuro e por todos os que caíram em batalha iria continuar a trabalhar. Quando chegou ao local havia flores e o túmulo estava limpo, com certeza Mikasa já estivera por ali, ela havia se tornado a guardiã desse local e ninguém se atrevia a desafiar a Ackerman, a não ser que estivesse disposto a conhecer a morte mais cedo. Tirou uma manta e forrou ao lado do local de descanso do melhor amigo.
— Sabe, nunca pensei que iria na nossa frente. Tudo bem que sempre foi um louco suicida, mas pensei que seríamos nos três para sempre.
— Você faz muita falta. O Jean tenta te imitar, ser meio que o líder, com discursos motivadores e tudo, mas não é o mesmo.
— Todos nós sentimos sua falta, nem todos irão assumir isso, mas faz parte.
— O Reiner sempre toca no seu nome, para ele você é um herói, na verdade pra todos nós, mas ele em especial, diz que era para estar morto a tempos, e que você o ajudou a seguir em frente, mesmo quando nem mesmo ele era capaz de acreditar.
— É estranho sabe, todos vivem, todos lembram, mas não é o mesmo quando você estava aqui. Antes a gente ria fácil e passamos meses sem sorrir.
Armin respirou fundo. Estava sendo mais difícil continuar do que ele imaginara, mesmo assim mantinha um sorriso sereno em seu rosto.
— Mikasa nunca mais sorriu. Ela tenta seguir em frente e nunca contei para ela sobre nossa conversa nos caminhos, mesmo achando que ela devia saber. Mas tenho medo de que isso a faça querer te seguir e não era isso que você queria não é.
A visão a sua frente, de um horizonte livre e sem muralhas, um mundo livre, mas que para o loiro com um preço muito alto.
— Sabe Eren, tem dias que te odeio. Pois não confiou em mim para partilhar sua dor, por mais que entenda seus motivos, nunca vou concordar com eles. Podíamos juntos ter encontrado um outro caminho, uma solução que você ficasse ao nosso lado.
Armin pegou a garrafa e os dois copos e os serviu, um despejou ao pé do túmulo e o outro virou totalmente. Enquanto sentia o líquido descer queimando, deixou que as lágrimas corressem por seu rosto.
— Sabe todos as vezes que bebi você estava comigo. A melhor foi aquela vez em Marley. Sempre quis saber o que te levou a beber ali. Minha teoria foi que queria afogar as mágoas pelas coisas que iria fazer. — Um sorriso doce se formava, doces momentos que viveram e que agora Armin se tornara o guardião dessas memorias. — Ou foi simplesmente porque queria esquecer que Mikasa disse que você era a família dela? Todos nos perguntamos se ela tivesse respondido diferente o que teria acontecido.
— Ela só contou os detalhes há duas noites, quando nos reunimos aqui pela primeira vez em tempos. Sério queria saber se realmente seria diferente, o único que teve essa resposta foi você né.
— Mas não sei qual dos dois foi mais idiota, quem perguntou ou quem respondeu. Eu só conseguia ver o futuro em que vocês estariam casados e com muitos filhos correndo em volta de vocês. Um menino caçador de brigas e uma menina forte e valente seria o mínimo, eu seria o padrinho de vocês e consolaria o Jean no casamento.
— Era para ter sido assim, por quê? Por quê? Sempre perdemos tudo dentro das muralhas, por que tivemos que perder você também?
As lágrimas já não eram contidas, escorriam livres pelo rosto do loiro. Ele desejava voltar no tempo, quando ainda corriam por essas colinas, correndo, os três para ver quem era o mais rápido, ou arrumando brigas com os meninos maiores, ou apenas ficarem sentados aqui como outrora.
— Sinto sua falta demais amigo.
A garrafa estava quase vazia, Armin deitou e ficou observando o vento bater nas folhas.
— Sabe, a Mikasa ficou um tempo puta e chegou a beijar o Jean como vingança. O motivo? Alguém espalhou que a filha da História era sua. Ela ficou uma fera, não queria falar com ninguém, mesmo a História desmentindo, só nesses dois dias que ela aceitou que não poderia ser, acho que quando rolou o boato, nem a menina ela quis ver e só a conheceu esses dias. E ela é a cara do marido da História. Mikasa ficou bem sem graça e todos rimos.
O sono parecia mais forte que tudo, a brisa fresca era quase uma canção de ninar ao bater nas folhas, era tão calmo, tão feliz, tão diferente dos últimos tempos.
— Armin, Armin. Você tá bem?
— Eren?
— Olha que susto hein. — Falou o amigo em meio a uma gargalhada, mas ele estava diferente, que roupas estranhas. — Mikasa já estava me ameaçando a terminar caso você tivesse coma alcoólico.
— Onde? O que houve?
— Xi, tá mal mesmo. Estamos na festa pela sua graduação! Apenas nós três bebendo e falando merda.
— Armin! Está melhor? Pensei que teria que ligar para uma ambulância.
A jovem parou de falar ao ser puxada pela cintura pelo amigo e ter recebido um longo beijo. Ela estava diferente, suas roupas eram pretas e usava uma maquiagem forte, mas mantinha o mesmo espírito de sempre.
— Eu disse que ele tava bem, só precisava de um cochilo, falei pra confiar em mim. — A risada de Eren ecoou tornando-se contagiante.
Os três riram e compartilharam o momento até que tudo foi escurecendo e o silêncio novamente tomou Armin.
Piscou várias vezes para reconhecer onde estava, agora que apenas as estrelas brilhavam no céu e as luzes da casa de Mikasa eram visíveis. Era um sonho, que trazia uma promessa, eles iriam se reencontrar em algum momento no futuro e ali sim seriam felizes.
— Obrigado por me mostrar isso Eren.
Armin recolheu a garrafa vazia e a manta e tocou a lápide simples.
— Até breve amigo, nos vemos em uma outra vida. Até lá cuidarei do legado que nos deixou, seu sacrifício não foi em vão.
Quando estava caminhando de volta para casa, Armin ouviu aquela voz que conhecia bem desde a infância sussurrando em meio ao leve barulho do vento e dizendo obrigado, olhou uma última vez para o último e pode vê-lo ali, deitado descansando a espera do dia que iriam se reencontrar em uma outra vida.
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Depois que você se foi
FanfictionDepois que a maldição dos Titãs é quebrada, Armin visita Paradis depois de dois anos longe para visitar o túmulo de seu amigo. - História revisada (original no Spirit)