CAPÍTULO-01

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 CAPÍTULO 01: Casamento às cegas  

O cheiro de primavera ultrapassava as janelas acortinadas. O balanço suave da carruagem embalando dois jovens, só não idênticos em gênero.

A mulher mantinha os olhos fechados, luvinhas brancas ora subindo para coçar-lhe o próprio nariz, ora descendo para alisar as várias camadas do vestido. Havia uma leve melodia saltando, baixinho, do fundo de sua garganta.

O homem, sentado frente a ela, balançava a perna direita em ansiedade. Alisava a cartola, roía uma unha, voltava a alisar a cartola em um ciclo sem fim. Vez ou outra mexia no paletó ou nos cadarços das botas.

- Diga-me agora que quer pôr fim a isso e eu tomarei essa carruagem.

- Uhum. - resmungou, interrompendo o cântico suave.

- Inferno! Se pedir, coloco-nos agora mesmo em um barco rumo a Inglaterra. Nunca mais falaremos disso.

- Certo, certo.

- Se não houver navio para Inglaterra, podemos pegar um cargueiro para outro lugar. Partiremos daí. - uma pausa. - Se for preciso, cavo até as profundezas da terra e você nunca terá que passar por isso.

- Não tenho dúvidas que você faria.

- Por Deus, Catarina! Por acaso está me ignorando?

- Oh, eu nunca ousaria. - ela soou condescendente, coçando rapidamente o nariz antes de voltar a ajeitar a saia. - Sim, sim. Tomar a carruagem. Navios. Cargueiros. Inglaterra.

- Senhor, não brinque dessa forma, estou falando sério. - o homem se estressou, gesticulando mais que o necessário e atraindo os olhos castanhos de sua irmã para o seu próprio. - Não hesitaria em roubar essa carruagem se isso lhe permitisse ser mais feliz.

- Nunca tive dúvidas quanto a isso. - aquiesceu.

O silêncio caiu entre eles nos próximos minutos. Antônio ainda balançava nervosamente a perna. Catarina ainda revezava entre coçar o nariz e alisar o vestido.

Ela suspirou, forçando um sorriso: - Bem, isso não quer dizer que não serei feliz, certo?

- Como posso ter certeza disso se ele nem mesmo apareceu para o jantar de noivado? - Antônio praticamente rosnou, os dedos subindo até o cabelo, cartola esquecida ao seu lado, e atrapalhando as mechas castanhas.

As sobrancelhas de Catarina franziram levemente, o sorriso caindo meio centímetro antes que o homem registrasse sua reação.

- Não foi isso que quis dizer. Quer dizer, foi, mas é que- esse homem- ele... - Antônio se cortou com um suspiro exasperado. - Não o conheço. Nem você. Não estou dizendo que você não será feliz. Estou apenas dizendo que, se for fazê-la mais feliz, acabaremos agora essa baboseira de casamento.

O sorriso voltou a crescer nos lábios rosados.

- Fico contente em saber que tenho um cocheiro de fuga, acredite em mim. - ela soltou uma risadinha, se inclinando para ajeitar as mechas onduladas do irmão de volta aos seus lugares. - Mas este casamento é importante para o papai. Significa que também é importante para você e ainda mais importante para o meu futuro.

- Bem, se você assim quiser, arrumaremos outro noivo. Deixe-me só livrar-nos desse, não me importo de o fazer frente ao padre.

- Não tenho dúvidas quanto a isso. - ela soltou outra risadinha, voltando para seu lugar corretamente. - Entendo que esteja preocupado, mas papai não teria continuado com esse arranjo se não soubesse que eu estaria bem.

Amor começa no casamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora