O garoto levantou da cama antes que os raios de sol pudessem ter tempo para atingir o seu rosto quando sua mãe abriu as cortinas da janela de seu quarto.
- Mãe! - exclamou aborrecido o menino - Eu já disse pra não abrir as cortinas de manhã! A luz do sol bate direto nos meus olhos, aí fica depois tudo borrado a vista.
- Ahhh, para com isso. É só o sol. - Retrucou sua mãe - Um pouco de luz não faz mal a ninguém.
O filho bufou descontente e virou de costas, indo em direção à porta do quarto. Mas ele parou quando a mãe o chamou a atenção:
- Não esquece de ir ao banheiro e fazer xixi!
- Tá bom.....
E assim fez o menino; saiu do quarto e foi para o banheiro. depois tomou um banho rápido e fez as suas necessidades. uma vez limpo desceu as escadas em caracol para o primeiro andar da casa, onde sua mãe já estava fazendo o café da manhã: ovos estrelados com tiras de bife de vaca e um copo de leite achocolatado para cada habitante da casa. Na casa do garoto viviam ele, a sua mãe, seu pai e sua irmã. todos eram muito semelhantes fisicamente, e também em espirito.
O menino tinha um rosto rechonchudo e cabelo encaracolado preto. Olhos castanho claros e pele ligeiramente morena. Sua mãe tinha o cabelo da mesma cor, mas era longo e ondulado. Sua pele era bastante clara, e seus olhos verdes. O pai tinha a pele bastante morena, olhos pretos, e cabelo preto curto e encaracolado. Sua irmã, ao contrário dele, puxou à mãe; sua pele era clara, não tanto como a da mãe, olhos verde escuros e seu cabelo era castanho escuro meio encaracolado meio ondulado, e curto. Não passava dos seus ombros.
Mas além da aparência física, o menino e sua família eram muito parecidos de espírito. Viviam todos sobre o mesmo teto há várias gerações. Também tinha vários gostos em comum, como o de jogar jogos de tabuleiro ou outros desafios que gerasse interação familiar. Eram pessoas muito alegres e divertidas; sempre tinham um sorriso no rosto e uma energia contagiante. Eram uma família bastante reconhecida nas redondezas de onde moravam. O que tinha suas vantagens e desvantagens: eles sempre podiam contar com a ajuda de vizinhos, não importa em que encrenca estivessem (quem tirava mais vantagem desse benefício eram as crianças, claro), mas pelo outro lado, os soldados vigilantes do império (Jofériko), também os conheciam. Então, se algum deles (de novo, as crianças principalmente que sofriam disso) fizesse alguma coisa errada, mesmo que fosse só os filhos que estavam brincando e acabaram por fazer alguma besteira, eles seriam imediatamente reconhecidos pelos oficiais, o que poderia colocá-los em situações desagradáveis.
Mas isso nunca foi um problema. Pelo menos até um certo momento. Momento esse que seria marcado pela introdução de um novo programa de segurança: O Ordem da Situação. Esse programa foi introduzido há muitas décadas e foi o responsável pela criação dos novos soldados do império. Soldados que sofreriam lavagens cerebrais para intensificar a sua obediência. E agora com esses novos oficiais, a família que era adorada e conhecida por todos - inclusive os soldados - teria a sua vida completamente destroçada.
Eles, como mencionado anteriormente, eram conhecidos por todos, inclusive pelos soldados. O que quase nunca era um problema. Até que os novos soldados do programa "A Ordem da Situação" foram iniciados em serviço. Os antigos soldados conheciam a família, e até que os tratavam simpaticamente, mas quando os novos soldados entraram em serviço, como eles eram os mesmos de antes, apenas com a mente lavada, eles já conheciam a família. Por isso a família e o garoto eram alvos fáceis para os novos oficiais malignos do império.
Porém, essa nova realidade ainda não havia sido notada pela família neste exato momento. Eles ainda achavam que viviam uma vida bela, em que podiam ser felizes. Mas no dia em questão, tudo aquilo que tinha algum valor lhes seria tirado.
O dia começou da mesma forma que todos os outros: acordaram e tomaram café da manhã juntos na cozinha (como já referido anteriormente), depois a mãe saiu com o filho para a escola, enquanto o pai e a filha, que era mais velha que o irmão, saíram juntos para ir trabalhar. Eles não trabalhavam juntos, mas saíam no mesmo momento. O pai trabalhava em uma fábrica de tecidos - ele era o gerente - a filha trabalhava fazendo bolos em uma pastelaria local. A mãe também trabalhava, depois de deixar o filho na escola. Ela era professora em uma escola ao lado da escola do filho. O menino estudava na escola primária enquanto a mãe trabalha na escola do ensino fundamental do outro lado da rua.
E normalmente o dia se seguiu, até por volta do horário do almoço do garoto; ele tinha acabado de almoçar na escola e estava voltando para a sala de aula quando as sirenes de ataque rebelde soaram nas ruas. O menino, que tinha acabado de entrar na sala, quase caiu quando começaram as sirenes. A professora mandou todo mundo que já estava na sala se enfiar debaixo das mesas e cobrir a cabeça com os braços. Depois os tiros começaram: todos estavam muito assustados, principalmente o menino, porque a sua mãe tinha saído da escola durante o almoço e ela poderia facilmente estar na rua naquele exato momento indo em direção à escola.
Depois dos tiros vieram as bombas. As janelas quebraram espalhando cacos de vidro por toda a sala de aula. Livros caíram das estantes preenchendo o espaço de páginas soltas, agora queimadas pelo fogo que se alastrava. Gritos de dor e medo podiam ser ouvidos por toda as extensão da rua e dos corredores da escola. Helicópteros estavam chegando ao conflito, trazendo consigo ainda mais medo e tensão.
Os tiros cessaram depois de meia hora. O fogo se extinguiu depois de quarenta e cinco minutos. Os helicópteros e outros veículos militares se retiraram do recinto depois de uma hora. Ao mesmo momento em que ambulâncias e médicos chegaram para tratar dos feridos nas duas escolas e nas ruas.
Quando os médicos chegaram na sala do menino e disseram que já era seguro e que podiam sair de debaixo das mesas para eles os examinarem, o menino disparou em direção a porta. Continuou correndo por todos os corredores da escola até chegar no portão de entrada. Como o portão estava trancado teve que escalá-lo. Desceu do mesmo com um só pulo, perdendo o equilíbrio momentaneamente quando atingiu o solo. Quando se levantou, começou a olhar para todos os lados a procura de sua mãe; finalmente a encontrou, depois de cinco minutos intensos que pareceram cinco horas. Quando ele finalmente avistou a mãe, o seu mundo desabou por completo: ele viu a mãe deitada no chão. Queimada e perfurada por tiros. Morta. Ele foi correndo em direção a ela. Apenas para descobrir que nem mesmo o rosto da mãe havia permanecido intacto - já podia abandonar a ideia de um funeral.
Enquanto abraçava o cadáver de sua mãe, seu pai e irmã estavam chegando. Juntamente com vários soldados e médicos. Inutilmente, pois sua mãe já havia morrido.
Os eventos que sucederam após a morte da mãe levariam a ruína da família. O pai foi demitido de seu trabalho pelo prefeito. Pois de acordo com ele, a mãe do menino tinha sido vista falando de forma suspeita com um dos rebeldes que iniciaram o ataque. A irmã também foi demitida. O me menino teve que sair da escola para arranjar trabalho, pois era o único que ainda possuía qualquer dignidade pública.
Todo o amor, todas as preocupações que seus conhecidos haviam demonstrado ao longo dos anos foi eliminado em um simples ato. Um ato que nem havia sido confirmado. Esse dia seria o começo do declínio da vida do menino. E o motivo do juramento de nunca mais pisar em terras controladas por pessoas como as que arruinaram a sua vida, ter sido feito por ele.
Mas esse dia ainda estava longe de ser o motivo que levaria a decisão final. Pois o menino ainda não teria a hipótese de colocar seu juramento em prática por muitos anos. Ele ainda sofreria muito antes de fugir. Antes de perder tudo que lhe restava. Antes de se tornar em um nômade no Deserto Lamurioso.
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O Andarilho Solitário
Ficção GeralHá muito tempo existiu um homem que cruzou o "Deserto Lamurioso". Enfrentou muitos perigos e ameaças, mas contra tudo e todos saiu triunfante e glorioso! Pouco é conhecido pelo leitor sobre o homem. Quem foi? O que fez na vida? Porque vivia perambul...